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Estados Unidos

Quem foi Jimmy Carter, o inimigo dos povos árabes

Propaganda imperialista trata o presidente norte-americano como um pacifista, mas a verdade é que seu governo foi marcado por crises, derrotas e ataques aos palestinos

Nascido em 1º de outubro de 1924, o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter é amplamente lembrado como um democrata defensor da paz e dos direitos humanos. No entanto, sua passagem pela presidência do país imperialista, entre 1977 e 1981, foi marcada por algo muito distante da mistificação difundida pelos monopólios da imprensa, onde é apresentado como “firme defensor dos direitos dos mais vulneráveis”, conforme as palavras do presidente da França, Emmanuel Macron.

Na esteira de derrotas catastróficas no Vietnã e da Primeira Crise do Petróleo (1973), seu governo foi marcado por crises que levaram a uma explosão da inflação, o que por outro lado, teve desdobramentos profundos na história do quarto do século XX e até os dias de hoje. É o caso dos Acordos de Camp David, responsáveis por uma derrota profunda para o nacionalismo árabes, com consequências particularmente duras para o movimento de libertação da Palestina. Por outro lado, um ano depois esse mesmo movimento seria fortemente impulsionado por uma derrota catastrófica sofrida pelo imperialismo, com consequências que também seriam sentidas até a etapa atual: trata-se da Revolução Islâmica de 1979.

Vitória contra nacionalismo árabe secular

Um dos marcos de sua presidência foi a mediação dos Acordos de Camp David, assinados em 17 de setembro de 1978 entre Egito e “Israel”. Celebrados como um avanço para a paz, esses acordos na verdade representaram uma derrota histórica para o movimento de libertação palestino e o nacionalismo árabe secular. Sob a liderança de Anwar Sadat, o Egito, maior potência árabe, capitulou ao reconhecer o Estado de “Israel” e aceitar sua hegemonia na região.

Os Acordos consistiram em dois pontos principais: o “Quadro para a Paz no Oriente Médio” e o “Quadro para a Conclusão de um Tratado de Paz entre Egito e Israel”. O primeiro previa a criação de uma “Autoridade Palestina” sob supervisão imperialista, uma tentativa de transformar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia em territórios controlados indiretamente por “Israel”. Já o segundo consolidou a submissão do Egito ao devolver a península do Sinai, enquanto assegurava a livre circulação israelense pelo Canal de Suez. Tal acordo desmobilizou o nacionalismo árabe, isolou os palestinos e fortaleceu o cerco a Gaza, agora confinada entre a ocupação israelense e um Egito submisso.

Essa traição foi reconhecida pelos países árabes, que expulsaram o Egito da Liga Árabe, e culminou no assassinato de Sadat em 1981. Além disso, os Acordos intensificaram a resistência islâmica, substituindo o nacionalismo secular pela emergência de movimentos como a Revolução Islâmica no Irã, que transformou o panorama político do Oriente Médio.

A Revolução Islâmica

Apesar da vitória representada pelos Acordos de Camp David, o governo Carter sofreu uma derrota monumental com a Revolução Islâmica no Irã em 1979. Este evento foi decisivo para a consolidação do nacionalismo islâmico como força de resistência ao imperialismo no mundo árabe. Sob a liderança do aiatolá Khomeini, o Irã rompeu com o alinhamento aos Estados Unidos, desestabilizando o controle imperialista na região.

A Revolução Islâmica foi profundamente marcada pela insatisfação popular com o regime do Xá Mohammad Reza Pahlavi, que havia sido colocado no poder pelos Estados Unidos em 1953, após um golpe que derrubou o primeiro-ministro democraticamente eleito, Mohammad Mossadegh. O apoio contínuo dos EUA ao regime repressivo do Xá, que governava o país com mão de ferro e promovia uma ditadura que atacava duramente a população iraniana, incluindo a religiosidade dos trabalhadores iranianos, o que fomentou o descontentamento e culminaria na revolução.

A crise dos reféns começou em novembro de 1979, quando estudantes iranianos ocuparam a embaixada americana em Teerã, em protesto contra a interferência dos EUA e a concessão de asilo ao Xá, que havia fugido do Irã. Eles capturaram 52 diplomatas e cidadãos americanos, que permaneceram em cativeiro por 444 dias.

A tentativa fracassada de resgatar os reféns, conhecida como Operação Garra de Águia, resultou em mortes e reforçou a percepção de fraqueza do governo Carter. A crise só foi resolvida em janeiro de 1981, no último dia da presidência de Carter, quando os reféns foram libertados após intensas negociações mediadas pela Argélia.

América Latina

Durante o governo Carter, a Revolução Sandinista na Nicarágua, em 1979, derrubou a ditadura de Somoza, um dos regimes mais leais aos EUA na América Latina. Em resposta, os Estados Unidos desempenharam um papel ativo para tentar conter os avanços revolucionários, financiando e armando as forças contrarrevolucionárias conhecidas como Contras.

Esse apoio incluiu treinamento militar, fornecimento de equipamentos e assistência financeira, apesar das crescentes críticas internacionais e das denúncias de graves violações de direitos humanos pelos Contras. Essas ações não apenas prolongaram o conflito armado na Nicarágua, mas também consolidaram a influência americana na região, evidenciando sua determinação em impedir a consolidação de governos revolucionários na América Latina.

Paralelamente, no Brasil, a classe trabalhadora organizou greves massivas que desestabilizaram a ditadura militar, culminando no fim do regime na década de 1980. Essas derrotas expuseram a incapacidade do imperialismo de conter a maré revolucionária global.

A sequência de derrotas implicou em um período de intensas dificuldades econômicas para os Estados Unidos, que também acabaram marcando a era Carter. A inflação, alimentada pelo aumento dos preços do petróleo após os choques de 1973 e 1979, alcançou níveis alarmantes, chegando a 13,3% em 1979. Simultaneamente, o desemprego afetava milhões de americanos, com uma taxa que chegou a 7,8% no mesmo ano, evidenciando o enfraquecimento da economia.

A chamada “estanflação” – uma combinação de estagnação econômica com inflação alta – desafiava as políticas tradicionais. Em 1980, o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA registrou uma queda de 0,3%, enquanto os juros, elevados para conter a inflação, atingiram picos históricos de mais de 20% ao ano. A crise norte-americana impulsionaria a adoção do neoliberalismo, a política econômica de destruição organizada da economia para manutenção da lucratividade dos monopólios, que já vinha sendo experimentada em países como o Chile e o Reino Unido, e que se converteria no modelo de economia vigente até os dias de hoje.

A pecha de “democrata” e “defensor dos direitos humanos” seria uma cartada para esconder o que o governo Carter foi, de fato: um governo de crise constante e derrotas históricas, que só seriam relativamente controladas a partir dos anos 1990.

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