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Rússia

Quem foi Alexei Navalni?

De liberal a nacionalista étnico, o legado de Navalni será o de agente estadunidense

Após a morte do opositor russo Alexei Navalni, uma grande comoção tomou conta dos governos e imprensa dos países imperialistas. Os mesmos grupos que fecharam os olhos para o extermínio de quase 30.000 palestinos (e contando!) desde outubro de 2023, hoje choram a morte do “líder da oposição russa”, segundo a imprensa imperialista. Alexei Navalni sofreu um colapso e morreu aos 47 anos na sexta-feira (16), em uma colônia prisional ao norte do círculo ártico, onde cumpria uma sentença de 19 anos de acordo com as leis russas relativas a “atividades extremistas”. Mas finalmente, quem foi Alexei Navalni?

A vida política de Navalni se inicia no final do séc. XX. Com posições tipicamente liberais, Alexei cerrou fileiras no partido “Yabloko”, como muitos entusiastas da liberalização econômica que a Rússia experimentou na década de 1990. Permaneceu no partido entre 2000 e 2007, quando foi expulso acusado de “nacionalismo”. Neste momento, Navalni já era conhecido por co-fundar o movimento chauvinista grão-russo chamado “NAROD” (um acrônimo que conforma a palavra “povo” em russo), composto por dissidentes de diferentes esferas do espectro político: de etno-nacionalistas e comunistas, passando por dissidentes do caricato partido nacional-bolchevique. 

A participação de Navalni no grupo “NAROD” foi marcada pela utilização das redes sociais em uma época onde a internet ainda não era tão prolífica quanto hoje, ainda mais quando falamos de sua utilização como ferramenta de propaganda e agitação, o que se tornou a marca política de Navalni daí em diante. À época, dois vídeos causaram grande alarde por serem divulgados no nascente youtube, utilizando da comédia para divulgar o programa racista do grupo. No primeiro vídeo, Navalni aparece defendendo o uso de armas de fogo para combater “moscas e baratas” grandes demais para se abater com um calçado, ou mata moscas, mostrando imagens de insurgentes do Cáucaso russo lado a lado de baratas e outros insetos.

No segundo vídeo, Navalni compara imigrantes de regiões islâmicas a “dentes cariados” que precisam ser “removidos”, utilizando a força caso fosse necessário.

Já em 2008, Navalny tratou com satisfação a intervenção russa contra a Geórgia em nome da Ossétia do Sul. Além disso, em 2008, 2009 e 2010 participou dos comícios anuais da “Marcha Russa”, movimento que reúne defensores do nacionalismo grão-russo e outros setores da extrema direita no país. Contrariamente a suas novas convicções nacionalistas, a partir de 2010, através de seus contatos na extrema direita russa, Navalni passou seis meses nos EUA como membro do programa Yale World Fellows, o que demarca seu retorno à “direita civilizada”, umbilicalmente ligada aos EUA e UE. Assim como os nazistas ucranianos, Alexei teve seu alinhamento político “limpo” pelo império, tendo em vista que, mesmo compondo a extrema direita russa, era um opositor do Kremlin. 

Assim que retornou dos EUA, Navalni se rearticula. Utilizando antigos e novos contatos funda sua rede de ONGs guarda-chuva, a Fundação Anticorrupção – FBK, em setembro de 2011. Navalni continuaria a acusar o governo de Moscou, os governadores regionais e as empresas estatais de fraude, suborno e corrupção, utilizando-se das redes sociais para articular e divulgar essas denúncias, muitas vezes sendo processado por difamação. 

Semelhanças com figuras tupiniquins não são mera coincidência. Como demonstrado em artigos anteriores deste mesmo diário, universidades e fundações estadunidenses possuem modus operandi análogos ao programa Yale World Fellows, produzindo figuras que, futuramente, tornam-se agentes ou, no mínimo, ativos das agências de inteligência estadunidenses.

Ainda em 2011 a mídia ocidental apelidou Alexei de “líder da oposição russa”, após uma série de discursos proferidos pelo russo em protestos contra o governo que se seguiu. No entanto, dentro da Rússia, Navalni continuou a ser uma figura do terceiro escalão político, sem grande projeção em âmbito nacional para além de sua persona nas redes sociais. O pico da carreira política de Navalni ocorreu durante a eleição para prefeito de Moscou, em julho de 2013, quando obteve 27,24% dos votos, perdendo para Sergey Sobyanin.

 Navalni possui diversas condenações, a maioria delas ligadas a crimes financeiros e corrupção. No entanto, o que se destaca dentre suas atividades, é a ligação com agências de inteligência estrangeiras. Em um vídeo divulgado em 2021, Alexei Navalni aparece conversando com o agente James William Thomas Ford, do MI6 (agência de inteligência britânica). No vídeo, o russo é direto, pede entre dez e vinte milhões de dólares para iniciar uma “revolução” (colorida)  na Rússia.

Importante destacar que esta não é a primeira vez que Navalni é, supostamente, envenenado. Em agosto de 2020, o russo adoeceu em um voo de Tomsk para Moscou e foi transportado para a Alemanha para tratamento. Seus médicos alegaram que ele havia sido alvo do agente nervoso “Novichok”. Moscou rejeitou o laudo como uma “provocação” ocidental. Ao retornar à Rússia, Navalni foi preso por violar os termos de liberdade condicional à qual estava submetido devido à prévia condenação por corrupção. Após ser detido por policiais no aeroporto de Moscou, Navalni foi prontamente enviado para uma colônia prisional.

Em agosto de 2023, como fruto de sua promíscua relação com as organizações de inteligência estrangeiras, Navalni foi condenado a mais 19 anos em regime fechado sob a acusação de fomentar, financiar e realizar “atividades extremistas” e “reabilitar” a ideologia nazista. O FBK, antes classificado como “organização estrangeira”, foi finalmente dissolvido por ordem do governo.

No final de 2023, Alexei Navalni foi transferido para uma colônia penal, na região de Yamalo-Nenets, Norte da Sibéria, onde ficou até sua morte. O que podemos afirmar com certeza é que, apesar das manifestações atlantistas, Navalny estava longe de ser um simples defensor de “direitos democráticos ocidentais”, possuindo uma bagagem política que vai desde o mais radical neoliberalismo chicaguista, passando pelo chauvinismo russo, concluindo sua carreira como um agente do MI6. 

Fica claro que o governo russo tinha total controle sobre Alexei e não haveria razão para liquidá-lo na prisão, onde já estava desde 2021, sendo ainda menos relevante no dia-a-dia da política russa. Ao contrário, a morte de Navalni é uma forma elegante de se livrar de um agente inutilizado e, no mesmo movimento, polemizar contra o governo russo no mesmo dia em que os ucranianos perderam a batalha sobre a cidade de Avdiivka. É possível que nunca saibamos as reais causas que levaram à morte de Navalni. No entanto, investigações conduzidas pelo governo russo ainda estão em andamento.

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