Nos últimos dias, uma personagem tem chamado bastante atenção em todo o mundo. Trata-se do líder “rebelde” (leia-se, mercenário) Abu Mohammed al-Jolani, que supostamente teria organizado as tropas sírias responsáveis pela derrubada do presidente do país, Bashar al-Assad. Ao contrário dos grandes heróis dos oprimidos que foram martirizados na guerra contra o Estado terrorista de “Israel”, como Ismail Hanié, Iahia Sinuar e Saied Hassan Nasseralá, Jolani não vem sendo apresentado pela imprensa imperialista como “terrorista” – o que, por si só, já é bastante revelador sobre o seu papel no Oriente Médio.
Para efeitos de comparação, revelamos como Jolani é retratado pela Associated Press, uma das grandes porta-vozes do imperialismo:
“Abu Mohammed al-Golani, o líder militante cuja insurgência surpreendente derrubou o presidente da Síria, Bashar al-Assad, passou anos trabalhando para refazer sua imagem pública, renunciando a laços antigos com a Al-Qaeda e se retratando como um defensor do pluralismo e da tolerância. Ao entrar em Damasco com seus combatentes vitoriosos no último domingo, ele abandonou seu nome de guerra e passou a se referir pelo nome real, Ahmad al-Sharaa.
Esta transformação, de extremista jihadista para aspirante a construtor de um estado, agora será posta à prova.”
É o retrato quase que de um santo, que renunciou a sua vida de pecados e agora se tornou um homem “civilizado”, conforme entende a imprensa imperialista.
Essa mesma postura tem sido assumida por governos de países imperialistas. Recentemente, surgiu a notícia de que os Estados Unidos e o Reino Unido estariam pensando em retirar a Frente Al-Nusra da lista de organizações terroristas.
Jolani nasceu em Riad, Arábia Saudita, em uma família síria originária das Colinas de Golã. Pouco antes da invasão do Iraque em 2003, ele se alistou na Al-Qaeda no Iraque e passou três anos lutando na insurgência iraquiana. A Al-Qaeda, vale lembrar, foi financiada e treinada pela inteligência norte-americana na década de 1980, desenvolvendo uma relação desde então. Mesmo quando sua liderança mais célebre, Osama Bin Laden, se tornou o inimigo número um dos Estados Unidos, a Central de Inteligência Norte-Americana (CIA) continuou mantendo laços com parte do grupo.
Jolani acabaria preso de 2006 a 2011 pelos norte-americanos. Após sua libertação, recebeu apoio da Al-Qaeda para criar a Frente al-Nusra, uma espécie de filial do grupo sunita. Em 2016, Jolani rompeu os laços com a Al-Qaeda, em um claro gesto de tentar se apresentar como “moderado” para o imperialismo.
O motivo ficaria claro logo após a queda de Assad. O tal “rebelde” vem se apresentando como um aliado dos maiores inimigos de todo o povo árabe: os Estados Unidos e “Israel”. Que ele não declarasse guerra de imediato a “Israel”, poderia até ser compreensível, visto que o país está em frangalhos. No entanto, não há explicação plausível para o fato de ele eleger o Irã como seu grande inimigo. Em discurso, disse ele:
“Este novo triunfo, meus irmãos, marca um novo capítulo na história da região, uma história repleta de perigos [que deixou] a Síria como um playground para as ambições iranianas, espalhando sectarismo, incitando a corrupção.”
Quanto à corrupção dos Estados Unidos, que compraram os generais militares que traíram o povo sírio, entregando o país aos sionistas, e que roubam o petróleo da Síria, nenhuma palavra.
Em outro discurso, no qual procurou tranquilizar os outros países, afirmando que não quer guerra, declarou:
“A fonte dos nossos medos eram as milícias iranianas, o Hesbolá e o regime que cometeu os massacres que estamos vendo hoje.”
Agora está claro como os mercenários conseguiram realizar a sua ofensiva ao mesmo tempo em que o sionismo bombardeava a Síria e os generais traíam o povo. Jolani é apenas uma peça no jogo orquestrado pelo imperialismo na Síria.