As decisivas ações iemenitas no Mar Vermelho, que impedem a chegada de navios com destino aos portos dominados pelo regime sionista na Palestina, como forma de forçar o fim dos bombardeios criminosos contra os palestinos na Faixa de Gaza, fazem com que a imprensa imperialista busque demonizar o governo Ansar Alá (Partidários de Deus). Para justificar as agressões dos Estados Unidos e Inglaterra, os porta-vozes do imperialismo buscam apresentar a versão de que um agrupamento terrorista teria tomado o poder no Iêmen. Os “Houthis”, como são chamados, não seriam a liderança de uma coalização que resultou de um amplo movimento popular nacional organizada na forma de partido político.
Diante das calúnias e difamações da imprensa burguesa, faz se necessário explicar o desenvolvimento da luta contra opressão imperialista, principalmente dos Estados Unidos, apoiada pelo governo da Arábia Saudita, bem como, apresentar o programa de governo mais avançado da Península Arábica onde ainda existem cinco monarquias absolutas.
O movimento nacionalista iemenita começa a se organizar no ano de 1990, quando o país foi reunificado na conjuntura da falência da União Soviética. Desde então o Iêmen foi governado pelo preposto do imperialismo Ali Abdula Salé até sua queda como resultado da Primavera Árabe em 2011.
Em 2004, a luta política iniciada pelo Ansar Alá na província de Sadá (região norte que faz fronteira com Arábia Saudita) evoluiu para a luta armada na forma de guerrilha e se expandiu até a província de Sana, onde se localiza a capital do país.
Em 2010, os já guerrilheiros haviam se tornado uma força militar poderosíssima capaz de fazer enfrentar o governo capacho do imperialismo no Iêmen. Em 2011, como resultado da luta contra a miséria e por emprego, explode uma onde revolucionária em todo o Oriente Médio e norte da África: a Primavera Árabe.
Foi em meio à gigantesca mobilização popular, que inclusive derrubou o presidente, que o Ansar Alá cresceu e tomou o poder. A organização era a principal força de oposição ao governo pró-imperialista e cresceu politicamente com a Primavera Árabe. Em 3 anos a guerrilha, que se concentrava no norte, tomou a capital em um movimento que lembra a própria Revolução Cubana. Ao contrário do que diz a imprensa burguesa, o Ansar Alá se transformou no partido mais popular do Iêmen, por isso foi capaz de tomar o poder.
O programa do Ansar Alá
O programa político do Ansar Alá é uma demonstração que se trata de uma organização popular. O preâmbulo do documento publicado pelo governo em 2019 afirma: “Nossa Visão: Um Iêmen moderno, democrático e estável que se baseia em instituições fortes, a realização da justiça e a procura do desenvolvimento e da vida digna dos cidadãos, a proteção da independência da nação e a busca pela paz mundial e igualdade e cooperação apropriada entre os países do mundo.” Só o início do documento já demonstra que é uma organização de tendências democráticas e nacionalistas.
O texto começa com uma citação de um dos dirigentes do Ansar Alá morto na luta pela libertação de seu país: “ao término do terceiro ano de agressão e no início do quarto ano de resistência perseverante, anunciamos o lançamento do projeto para construir o Estado Moderno do Iêmen e implantar o trabalho institucional, simultaneamente travando a batalha contra a agressão ao Iêmen em todas as diferentes frentes. Este projeto vital caminha de mãos dadas com a luta nas frentes e ambos se complementam com apoio mútuo, como evidenciam seu título e slogan, ‘Uma mão para proteção e uma mão para construir’. Ao embarcarmos neste projeto, sabemos que o caminho é longo e repleto de desafios, especialmente com o Iêmen sob agressão e cerco sufocante. No entanto, assim como fomos capazes de enfrentar o desafio nas frentes de combate e superar as ambições dos invasores e ocupantes, esperamos, com a graça de Deus, ser capazes de enfrentar o desafio no caminho da construção do Estado.”
O documento coloca os objetivos principais do governo do Ansar Alá. Aumentar o desenvolvimento sustentável do país; aumentar o índice de investimento; aumentar um crescimento econômico anual de pelo menos 5%; alcançar as 100 maiores economias do mundo; aumentar o PIB per capita do país; alcançar os 100 maiores países em competitividade; aumentar a produção de eletricidade para ao menos 600MW; reduzir a inflação para menos de 5%;, reduzir o desemprego para menos de 10%; estar entre os 120 maiores IDHs do planeta e estar entre os 70 primeiros no índice de funcionamento das instituições.” Mais uma vez o Ansar Alá apresenta um projeto democrático e nacionalista de desenvolvimento econômico do país. Esse é o motivo de sua popularidade gigantesca.
O texto continua: “estar entre os 90 países com mais educação básica; diminuir o analfabetismo para menos de 20%; 5 universidades do Iêmen deveriam estar entre as melhores do mundo árabe; aumentar a participação das mulheres para 30% da força de trabalho; alcançar a lista de 80 países com maior nível de satisfação com serviços do governo e construir ao menos 17.500 unidades habitacionais por ano. (grifo nosso)”. O documento de 80 páginas pode ser lido por completo em inglês aqui.
Após uma breve leitura do que de fato defende o Ansar Alá, fica claro o motivo do ataque brutal do imperialismo ao Iêmen. O movimento é uma verdadeira ameaça a todos os regimes reacionários da península arábica. Todas as oposições às monarquias do golfo têm um partido que tomou o poder, de armas na mão, para se inspirar.





