No 12º artigo da série Kamala Harris e a esquerda, lembramos como foi a guerra do Iraque, uma monstruosidade criada em conjunto pelo Partido Republicano e pelo Partido Democrata.
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Embora o presidente dos Estados Unidos à época fosse um republicano, o conservador George W. Bush, a decisão de invadir o Iraque foi tomada pelo conjunto do Estado norte-americano. Para referendar a decisão de Bush, a medida foi votada tanto na Câmara dos Representantes, quanto no Senado.
Na Câmara, embora a maioria dos democratas tenha se colocado contra a invasão, os seus votos acabaram sendo decisivos para que Bush vencesse a votação. Foram 81 democratas que votaram a favor e 126 democratas contra. Mais decisivo ainda foi o apoio dos democratas no Senado: 29 foram a favor e apenas 21 foram contra. Assim como no Brasil, o Senado é a casa legislativa mais reduzida e, portanto, mais controlada pelo imperialismo. Entre os senadores que votaram a favor da invasão, estão o atual presidente norte-americano, Joe Biden, e uma das principais dirigentes do partido, que foi candidata à Presidência dos Estados Unidos em 2008: Hillary Clinton.
O apoio democrata foi muito além de votar a favor da guerra. Durante quase todo o primeiro mandato de Barack Obama, a guerra continuou. Joe Biden, que era vice-presidente na época, não apenas apoiou a guerra, como atuou como um interlocutor direto entre o Departamento de Estado norte-americano e o governo fantoche estabelecido no Iraque. Biden era visto como uma espécie de tutor do sanguinário Nouri al-Maliki, primeiro-ministro durante os anos de 2006 e 2014. Nessa época, Biden chegou a propor dividir o país em três partes.
É difícil saber quantas pessoas foram mortas durante a invasão norte-americana. Os números oficiais, que são bastante conservadores e imprecisos, apontam para a morte de 210 mil civis por bombardeios e outros 315 mil morreram devido à violência direta relacionada à guerra.
Há estimativas, no entanto, baseadas em pesquisas domiciliares selecionadas aleatoriamente que indicam que o número total de mortes entre os iraquianos pode ter chegado à casa do milhão.
Há ainda as vítimas de outras causas relacionadas à guerra, como os danos causados aos sistemas que fornecem alimentos, cuidados médicos e água potável, resultando em doenças infecciosas e desnutrição que poderiam ter sido evitadas ou tratadas. A guerra agravou ainda mais a crise social causada por ações dos EUA em relação ao Iraque desde a década de 1960, incluindo sanções econômicas na década de 1990 que foram devastadoras.
A destruição causada pela guerra também chamou muito a atenção no âmbito cultural. A ação devastadora das tropas norte-americanas causou a destruição de vários fragmentos de cerâmica e outros elementos da cultura material babilônica, que eram parte dos registros mais antigos da produção cultural da história humana. É consenso que a ação dos norte-americanos fez com que uma grande quantidade de informações sobre a nossa história fossem perdidas para sempre.
A guerra também causou o desabamento do teto do Templo de Ninmakh, revirando as camadas de solo que determinavam a datação de vários artefatos antigos, e criou condições para o saque de museus e arquivos iraquianos. Coleções inteiras que se dedicavam a retratar os tempos de Hamurábi e Nabucodonosor foram roubadas ou destruídas. O mesmo fim acabou levando outra leva de documentos que eram mantidos na Biblioteca e nos Arquivos da Babilônia.