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Eleições paulistanas

Qualquer vitória de Boulos é uma vitória da direita

Defendido por jurista no Brasil 247, psolista mostrou que consegue ser pior que Tabata Amaral, que ao roubar aposentadoria do povo para banqueiros, demonstrou ter mais princípios

Em artigo publicado no Brasil 247, o advogado Arnóbio Rocha defende que o candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) “representa uma coalizão política, um marco civilizatório que levou Lula pela terceira vez à presidência e está trazendo o Brasil de volta ao protagonismo”. De fato, Boulos é um representante dessa coalizão — mas do lado direito dela. Não há como esconder que o deputado do PSOL é um dos maiores entusiastas da submissão da esquerda à burguesia e particularmente o imperialismo, disposto a sacrificar qualquer princípio para manter-se no jogo político.

Antes de ser o “novo Lula” que muitos querem acreditar, Guilherme Boulos tem mostrado que é, na mais benigna das hipóteses, um “novo Fernando Henrique Cardoso”. Assim como FHC, Boulos chegou ao poder político usando um discurso pseudo-progressista para seduzir uma classe média esquerdista, porém mais despolitizada. O psolista, no entanto, já deixou claro que sua política é muito mais próxima das diretrizes neoliberais do que das demandas das massas trabalhadoras.

Quando FHC disse “esqueçam tudo o que escrevi”, ao iniciar seu trágico governo, responsável por deixar o Brasil de joelhos para o imperialismo e o grande capital. Boulos já sinalizou que também abandonou qualquer compromisso com os movimentos sociais. “Não sou mais líder de movimento social, sou deputado federal” — declarou o psolista ainda durante a campanha, traindo a luta por moradia que ele usou como trampolim para sua carreira política.

Com isso em mente, a defesa de Rocha de que “a candidatura de Boulos e Marta é fundamental não apenas para consolidar a democracia, mas também para derrotar a extrema-direita e suas variações locais (Nunes e LaMarçal). São Paulo merece um destino melhor, com um prefeito, e não um trampolim político para aventureiros e medíocres”, o que é um exercício de autoilusão. Boulos não é um candidato disposto a enfrentar a extrema direita, mas um oportunista infiltrado nas fileiras da esquerda que ajudou a abrir caminho para o golpe de 2016 e depois tentou se firmar como uma alternativa domesticada e aceitável para a burguesia paulista.

O histórico de Boulos revela uma disposição para negociar com setores reacionários, e suas ações mais recentes demonstram que ele já está comprometido em reprimir os próprios movimentos sociais que um dia disse representar. Rocha tenta justificar seu apoio dizendo que “Guilherme Boulos vem dos movimentos sociais mais intensos, os sem-teto, aqueles que enfrentam a maior luta de uma cidade gigante: a questão da moradia, da dignidade de ter um teto, um lugar para viver, para constituir família, um abrigo e uma vida humana plena”.

No entanto, o advogado está terrivelmente mal informado ou prefere ignorar a verdade por conveniência: o próprio Boulos afirmou que não tem mais ligação com os movimentos sociais. Ele mesmo se posicionou como um parlamentar disciplinado do sistema: “Primeiro, nós vamos dialogar com movimentos sociais. Agora, havendo uma situação como essa [reintegração de posse], não vou prevaricar. Senão, eu sou preso. Você tem obrigações funcionais”. Ele diz claramente que atenderá a reintegrações de posse e até fez questão de dividir os movimentos entre “organizados” e “clandestinos ligados ao crime”, jogando gasolina na fogueira da repressão contra os ocupantes.

Ao contrário do que a propaganda pró-Boulos quer vender, o candidato do PSOL não é um “esquerdista radical” que vai romper com a ordem opressora. Pelo contrário, ele já se mostrou tão inofensivo para os interesses do capital quanto qualquer candidato da direita tradicional. O carreirismo demonstra ainda que o psolista não é mais esquerdista do que Ricardo Nunes, Datena ou mesmo Pablo Marçal. A diferença é que ele busca se apresentar como uma “nova esquerda”, quando na prática seu programa político é o mesmo da velha direita disfarçada de “moderna”.

O mais grave é que, além de não representar uma verdadeira alternativa, Boulos já deixou claro que trairá os movimentos sociais para manter seu emprego privilegiado, em Brasília ou São Paulo. Quando disse que não vai prevaricar e atenderá os pedidos de reintegração de posse, mostrou que consegue ser ainda pior que Tabata Amaral, que ao menos foi clara ao apoiar a roubo da Previdência para agradar os banqueiros que financiaram sua campanha.

Boulos, no entanto, faz tudo isso sob a máscara de quem ainda se diz defensor dos pobres e dos movimentos de moradia. No fim das contas, é apenas mais um político carreirista disposto a vender qualquer ideal para satisfazer sua ambição. Qualquer vitória de Boulos, portanto, é uma vitória da direita e do cinismo.

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