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HISTÓRIA DA PALESTINA

Qual a posição dos marxistas sobre o sionismo?

Os marxistas sempre tiveram um programa para a emancipação dos judeus na Europa, uma tese radicalmente oposta à dos sionistas

Quando surgiu o movimento sionista, no final do século XIX, o movimento operário era majoritariamente marxista. A questão judaica na Europa, inclusive, havia sido tópico de debate pelo próprio Marx, um alemão de ascendência judaica. Outros importantes marxistas tinham ascendência judaica, como Leon Trótski e Rosa Luxemburgo, estes chegaram a conviver com o próprio movimento sionista. Os marxistas, portanto, sempre tiveram um programa para a emancipação dos judeus na Europa, uma tese radicalmente oposta à dos sionistas, o que levou esses movimentos a se chocarem até os dias de hoje.

Em 1843, o jovem Marx escreveu o texto A Questão Judaica. Nele, ele afirma:

“Os judeus alemães desejam emancipação. Que tipo de emancipação eles desejam? Emancipação cívica, emancipação política.

Bruno Bauer responde a eles: Ninguém na Alemanha é politicamente emancipado. Nós mesmos não somos livres. Como podemos libertar vocês? Vocês, judeus, são egoístas se exigirem uma emancipação especial para si como judeus. Como alemães, vocês devem trabalhar pela emancipação política da Alemanha e, como seres humanos, pela emancipação da humanidade. E vocês devem sentir o tipo particular de sua opressão e sua vergonha não como uma exceção à regra, mas, pelo contrário, como uma confirmação da regra.”

Marx então explica que o Estado cristão que existia nos países da Europa era a grande fonte da perseguição aos judeus e o Estado precisaria se emancipar desse caráter religioso reacionário para assim os judeus deixarem de ser oprimidos. Ao mesmo tempo, ele demonstra que é necessária uma mudança do Estado e, por isso, os judeus europeus deveriam lutar junto à classe operária para derrubar os Estados reacionários.

Nesse sentido, o Estado mais opressor dos judeus em toda a Europa era o Império da Rússia. De lá, surgiu outro dos mais importantes marxistas da história, Leon Bronstein, que ficou imortalizado com o nome de Trótski. Quase 100 anos depois do texto de Marx, quando já existia um movimento sionista ocupando a Palestina por meio do imperialismo britânico, ele também fez importantes comentários sobre a questão judaica e o sionismo. No ano de 1937, ele afirmou:

“Durante minha juventude, inclinei-me a acreditar que os judeus de diferentes países seriam assimilados e que a questão judaica desapareceria de forma quase automática. O desenvolvimento histórico do último quarto de século não confirmou essa perspectiva. O capitalismo em decadência em todos os lugares se voltou para um nacionalismo exacerbado, do qual uma parte é o antissemitismo. A questão judaica tem se destacado mais no país capitalista mais desenvolvido da Europa, a Alemanha.”

Ou seja, Trótski analisa os acontecimentos da década de 1930, quando o país mais industrializado da Europa, após uma gigantesca derrota da classe operária, havia se tornado aquele com o governo mais antissemita. A Rússia, o mais atrasado dos países importantes, havia perdido esse posto com a Revolução de Outubro de 1917. Não fosse o stalinismo, a questão judaica estaria em vias de se resolver. Mas Trótski faz questão de criticar o sionismo:

“Os judeus de diferentes países criaram sua imprensa e desenvolveram a língua iídiche como um instrumento adaptado à cultura moderna. Portanto, deve-se considerar que a nação judaica se manterá por toda uma época vindoura. Ora, a nação normalmente não pode existir sem um território comum. O sionismo surge dessa ideia. Mas os fatos de cada dia que passa nos demonstram que o sionismo é incapaz de resolver a questão judaica. O conflito entre judeus e árabes na Palestina adquire um caráter cada vez mais trágico e ameaçador. Não acredito que a questão judaica possa ser resolvida dentro do quadro do capitalismo decadente e sob o controle do imperialismo britânico.”

O que Marx levantou de forma quase totalmente teórica, Trótski comenta de forma muito prática. O imperialismo britânico, a pior monstruosidade que existia naquele momento, seria o meio com que os judeus seriam emancipados? É certo que não. Em 1937, o que acontecia era uma revolução da população palestina contra o imperialismo e contra o sionismo. Já era uma demostração que o projeto sionista não seria uma solução real para a emancipação dos judeus da Europa. O interessante é que Trótski não descarta a possibilidade da criação de um território de maioria judaica, mas ele deixa claro que isso só seria possível no socialismo. E que, além disso, a tendência, no fim, seria da assimilação dos judeus em todas as nações, e não a sua segregação.

Mas o marxista que realizou a crítica mais cortante ao sionismo foi o próprio Vladimir Lênin, o maior teórico do século XX. Sendo um dirigente político na Rússia, ele conviveu com os setores sionistas que existiam no país e também com a esquerda judaica propriamente que se organizava no partido Bund. Estes, inclusive, fizeram parte do Partido Operário Social Democrata Russo (o partido de Lênin) por um tempo. Foi na discussão com esse setor que Lênin criticou não só o sionismo, mas todas as linhas de nacionalismo judaico:

“A ideia de que os judeus formam uma nação separada é reacionária politicamente. Provas práticas irrefutáveis disso são fornecidas pelos fatos geralmente conhecidos da história recente e das realidades políticas atuais. Em toda a Europa, o declínio do medievalismo e o desenvolvimento da liberdade política ocorreram paralelamente à emancipação política dos judeus, ao abandono do iídiche pela língua do povo entre os quais viviam e, em geral, à sua inegável assimilação progressiva com a população circundante. Vamos novamente reverter às teorias excepcionalistas e proclamar que a Rússia será a única exceção, embora o movimento de emancipação judaica seja muito mais amplo e profundo aqui, graças ao despertar de uma consciência de classe heroica entre o proletariado judeu? Podemos possivelmente atribuir ao acaso o fato de que são as forças reacionárias em toda a Europa, e especialmente na Rússia, que se opõem à assimilação dos judeus e tentam perpetuar seu isolamento?”

Lênin escreveu esse texto em 1903, e fica claro que a sua posição é a mesma que Trótski cita. Mas sua crítica é muito profunda e atinge diretamente a ideia básica do sionismo: o Estado judeu. A tese é muito clara, as forças que defendem a segregação dos judeus são reacionárias. A Rússia Czarista, a Alemanha Nazista e o movimento sionista. A realidade mostrou isso. Com a revolução, o movimento sionista praticamente desapareceu, os judeus da Rússia aderiram ao Partido Bolchevique. Na Alemanha, o sionismo se fortaleceu após a ascensão de Hitler, ambos seguiam a política de segregação.

O dirigente russo segue:

“É precisamente disso que se trata o problema judaico: assimilação ou isolamento? — e a ideia de uma ‘nacionalidade’ judaica é definitivamente reacionária não apenas quando defendida por seus proponentes consistentes (os sionistas), mas também nas palavras daqueles que tentam combiná-la com as ideias da social-democracia (os bundistas). A ideia de uma nacionalidade judaica vai contra os interesses do proletariado judeu, pois fomenta entre eles, direta ou indiretamente, um espírito hostil à assimilação, o espírito do ‘gueto’. ‘Quando a Assembleia Nacional de 1791 decretou a emancipação dos judeus’, escreve Renan, ‘pouco se preocupava com a questão racial… É tarefa do século XIX abolir todos os ‘guetos’, e não posso elogiar aqueles que procuram restaurá-los.”

A posição de Lênin é clara: abolir toda segregação na Europa. O movimento sionista era um defensor da segregação e, portanto, não da emancipação dos judeus. Caso o imperialismo não apoiasse o Estado de “Israel” por interesses econômicos, essa suposta defesa do judeu desapareceria. Já a posição de Lênin é claramente revolucionária. Ele conclui seus pensamentos: “a raça judaica prestou ao mundo os maiores serviços. Assimilada às várias nações, harmoniosamente integrada às diversas unidades nacionais, prestará não menos serviços no futuro do que no passado”.

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