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Eleições municipais

PT evita polarização e é atropelado pelo PL

Partido perdeu a chance de utilizar votação recorde de Lula em 2022

As eleições municipais de 2024 escancararam uma realidade desconcertante para o Partido dos Trabalhadores (PT): o partido não conseguiu transformar a gigantesca votação obtida por Lula em 2022 em uma base sólida para as disputas municipais. O PT venceu em apenas 217 das 3.123 cidades onde Lula saiu vitorioso nas eleições presidenciais de 2022, ou 7%. Em contraste, o Partido Liberal (PL), liderado por Jair Bolsonaro, venceu em 377 das 2.445 cidades onde o ex-presidente saiu vitorioso nas eleições passadas.

Este contraste evidencia um erro estratégico fundamental do PT: ao se posicionar como um partido do regime, evitando lançar candidaturas combativas nas grandes capitais e privilegiando alianças centristas, o partido não conseguiu capitalizar a popularidade de Lula. Enquanto isso, o bolsonarismo, representado pelo PL, soube explorar a polarização política, tornando-se a força dominante nas eleições municipais. O PL, que saiu das eleições de 2020 com 4,7 milhões de votos, cresceu de forma expressiva, quase quadruplicando sua votação em 2024.

Os dados das eleições municipais de 2024 são contundentes: o PL dominou o cenário político com uma votação expressiva para prefeitos, principalmente em grandes cidades e capitais. Em nove capitais, o bolsonarismo disputará o segundo turno das eleições, enquanto o PT se viu restrito a apenas quatro capitais. O gráfico de desempenho dos principais partidos nas eleições de 2024 ilustra que o PL alcançou 15,7 milhões de votos para prefeito, enquanto o PT obteve 8,9 milhões.

O declínio do PT é ainda mais significativo quando se observa a distribuição geográfica dos votos. A maioria das prefeituras conquistadas pelo partido não está em grandes centros urbanos, mas sim em cidades menores, com menor impacto político e econômico. Por outro lado, o PL obteve votações expressivas em cidades-chave, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, consolidando sua força política no eixo mais influente do País.

Esses números apontam para uma diferença fundamental entre as estratégias eleitorais dos dois partidos. Enquanto o PL soube capitalizar o apoio de Bolsonaro e a polarização entre direita e esquerda, o PT falhou em mobilizar suas bases populares, principalmente nas grandes capitais. A omissão do PT em lançar candidatos combativos de esquerda contribuiu para que o bolsonarismo se fortalecesse nas principais cidades, explorando o vazio deixado por uma esquerda hesitante e moderada.

A análise dos resultados eleitorais revela que o bolsonarismo, embora tenha enfrentado uma derrota em 2022, manteve-se resiliente e até cresceu em popularidade nas eleições municipais. A polarização política, que moldou a disputa entre Lula e Bolsonaro, continua a ser um fator central na política brasileira. O PL, ao se posicionar como o principal representante da extrema direita, conseguiu atrair um eleitorado fiel, que vê no bolsonarismo uma resposta às crises políticas e econômicas do País.

Diferente do PT, que tentou suavizar seu discurso para atrair setores do centro, o PL abraçou a radicalização. Candidatos bolsonaristas adotaram uma retórica firme contra o governo federal e conseguiram mobilizar uma base significativa de eleitores, especialmente em regiões conservadoras e nas periferias urbanas. O fenômeno bolsonarista foi amplificado pela capacidade do PL de explorar a insatisfação popular com a esquerda moderada, que, para muitos, não representou uma mudança real.

Ao contrário do que se esperava após a vitória de Lula em 2022, o PT não soube explorar a polarização política de maneira eficaz. O partido evitou lançar candidaturas mais combativas em capitais cruciais como São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo, por exemplo, o partido abriu mão de lançar uma candidatura própria e apoiou Guilherme Boulos (PSOL), uma espécie de “Ricardo Nunes 2”, uma figura financiada por grandes fundações ligadas ao imperialismo. A consequência foi uma base eleitoral desmobilizada, com o PT ficando longe de uma disputa real pelo poder nas grandes cidades.

O PT tem atuado mais como um partido do regime, preocupado em manter suas alianças com a direita moderada e evitando adotar uma postura de enfrentamento ideológico e político com a extrema direita. Essa estratégia levou o partido a perder terreno em áreas onde, tradicionalmente, detinha forte influência.

Por outro lado, o Partido da Causa Operária (PCO), apresentou um crescimento expressivo. O PCO, que manteve uma postura de enfrentamento direto ao bolsonarismo e ao regime, obteve um aumento significativo de votos em 2024, com um crescimento de quase 1.000% em relação à eleição anterior. Isso demonstra que há um espaço significativo para uma esquerda combativa, que rejeita a conciliação e defende uma política de enfrentamento ao regime e ao imperialismo.

As eleições municipais de 2024 deixaram uma lição clara: a população brasileira, em grande parte, está polarizada, com uma tendência crescente de apoiar tanto a extrema direita quanto a extrema esquerda. Enquanto o PL soube capitalizar essa polarização, o PT falhou ao se apresentar como um partido do regime, incapaz de mobilizar seus eleitores e converter os votos de Lula em bases eleitorais consistentes.

Para retomar seu espaço político, o PT precisará reavaliar sua estratégia e voltar a mobilizar suas bases. Isso significa adotar uma política mais combativa, lançando candidaturas que realmente representem a luta dos trabalhadores e dos setores oprimidos. O crescimento do PCO nas eleições de 2024 é um exemplo da política certa a ser seguida. Trata-se de um partido que não teme enfrentar o sistema e que, ao contrário do PT, não se curva diante das pressões do regime.

O cenário eleitoral de 2024 mostrou que o Brasil está longe de superar a polarização política, como afirma a imprensa burguesa. Se a esquerda quiser retomar a iniciativa, precisará aprender com seus erros e adotar uma política mais firme, rejeitando alianças com setores que representam os interesses da burguesia e do imperialismo. Enquanto isso não acontecer, o bolsonarismo continuará a dominar o cenário político, aproveitando-se da fraqueza e da hesitação da esquerda.

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