O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) publicou uma matéria no portal Opinião Socialista com o título “Presidente português reconhece escravidão e a extrema direita surta. Governo brasileiro também fica acuado e “de migué”. Reparação neles!”, em que defende a demagogia feita por Marcelo Rabelo, presidente de Portugal, ao afirmar que os portugueses deviam levar adiante uma política de reparação histórica em favor de todos os países por eles colonizados. Segundo a matéria do PSTU, ele teria reconhecido “a colonização, a escravidão, o tráfico de africanos e o genocídio de indígenas praticados por Portugal”, e assumido que “até hoje nenhum criminoso foi punido ou preso”. A proposta apresentada pelo presidente de Portugal seria a de perdoar todas as dívidas de suas ex-colônias, indo além do que o PSTU chama de um simples “pedido de desculpas”.
Apesar de demonstrar entusiasmo infantil com a fala de Rabelo, o articulista diz: “não acreditamos que Marcelo Rabelo levará sua fala até às últimas consequências, até porque é um politico burguês, de um partido burguês, o Partido Social Democrata, representando um Estado igualmente burguês. Mas, o certo é que sua declaração abriu o debate sobre vários temas”.
Nesse caso, é preciso destacar que o Estado português não é simplesmente um estado burguês. O PSTU omite também o fato de que Portugal é um país imperialista, ainda que de uma ala mais fraca do que EUA, França ou Alemanha. Não existe nada mais ridículo e hipócrita do que um país imperialista defender uma política “decolonial”. O articulista é incapaz de dizer que se trata de um país que está na OTAN defendendo o genocídio perpetrado por “Israel” contra os palestinos. Portanto, a defesa “decolonial” não passa de uma grosseira demagogia para acenar para esses setores identitários, que querem “reparação” por supostos crimes do passado, enquanto apoia o genocídio em outras partes do mundo.
O debate que o PSTU afirma que teria sido levantado por Rabelo consiste na seguinte questão: “em segundo lugar, ao reconhecer os malefícios da escravidão e da colonização, ele, consciente ou inconscientemente, ajuda a derrubar o mito do ‘descobrimento’ da América e do Brasil, ainda muito forte na Europa, e a ideia de que a colonização portuguesa foi benéfica para negros e indígenas, tal como defende o negro bolsonarista, Sérgio Camargo”.
Aqui, o PSTU demonstra ser totalmente avesso ao marxismo. Ao tratar, da forma como faz, dos malefícios da colonização e da escravidão, se esquece que, de um ponto de vista científico, ambos os fenômenos tiveram sua importância – embora de forma contraditória – no desenvolvimento de sociedades atrasadas. No caso do Brasil, evidentemente, se não houvesse chegado os portugueses aqui, a sociedade ainda passaria muito tempo em uma forma econômica atrasada, ou simplesmente teria entrado em colapso. Analisar os fenômenos do ângulo dos seus “benefícios” ou “malefícios”, fatores totalmente subjetivos, não é, de forma alguma, uma discussão séria.
O articulista do PSTU, em sua matéria, faz uma explicação do que seria uma suposta luta de um “movimento por reparação”, que se dedica a exigir de países que tiveram colônias no passado, medidas de reparação, as quais são tratadas de forma superficial no texto. Tudo indica que seriam compensações financeiras pela política de colonização dos países europeus, como não pagamento de dívidas aos países imperialistas, indenizações, etc.
No entanto, ao tratar do próprio caso brasileiro, fica quase impossível de entender o que o autor consideraria ser uma verdadeira “política de reparação” do Estado. São feitas críticas ao sistema de cotas porque as cotas podem também “ser destinadas a grupos que não foram escravizados como mulheres e LGBTQI”.
O autor considera, no entanto, que o “Movimento por Reparação” estaria em ascensão. Segundo ele: “O que está acontecendo, de fato, é que o movimento por Reparação está retornando à arena política mundial como produto das mobilizações de massas desde a Primavera Árabe, passando pelas mobilizações antirracistas pós-assassinato de George Floyd, tudo isso por fora e até diretamente contra a ONU. Foram aquelas mobilizações multitudinárias que obrigaram a União Europeia a propor um plano de combate ao racismo em 27 dos seus países-membros, ainda que nada para além de tintas nos papeis”.
A colocação do autor nesse caso é totalmente absurda. Para ele, uma mobilização revolucionária como a Primavera Árabe e um movimento altamente radicalizado como o que foi desencadeado pelo assassinato de George Floyd, estariam levando a uma reivindicação tão farsesca como essa de “Reparação”. Tratam-se de movimentos de libertação, que procuravam quebrar as correntes que o imperialismo impõe sobre a classe trabalhadora mundial, enquanto a tal da “Reparação” é uma fantasia identitária. Principalmente porque é impossível Portugal pagar de volta o que deve ao Brasil, não há dinheiro que baste. É evidente que se trata de algo que nunca irá acontecer. É apenas uma política para fazer uma grande demagogia com setores da esquerda identitária.