O sítio Opinião Socialista, do PSTU, publicou neste dia 4 (quarta-feira) em seu sítio uma matéria com o seguinte título em negrito “Não são casos isolados! Fora Derrite! Tarcísio é inimigo das periferias! Mobilizar nossa classe para deter o genocídio racista no Brasil!”. É chato perguntar, mas de que adianta retirar um tal de Derrite se vão colocar outro igual ou pior em seu lugar?
Como o PSTU mergulhou de cabeça no identitarismo, precisa dizer que se trata de um “genocídio racista”, mas se trata de um massacre contra a classe trabalhadora como um todo. Ocorre que os negros recebem, em geral, e devido a sua inserção no mercado de trabalho, salários inferiores, o que os coloca nas camadas mais pobres da sociedade.
Ao contrário do que pregam, os negros são discriminados não preferencialmente devido à cor da pele, mas porque, desde a colonização, e mesmo com o final da escravidão, foram ocupando posições subalternas na sociedade. É o mesmo fenômeno que ocorre com as mulheres, que estando presas às funções domésticas, acabam sendo desvalorizadas, ocupando posições secundárias e por isso recebem menos.
Relatos
A matéria passa a relatar os casos de violência policial, como o rapaz atirado de cima de uma ponte na Cidade Ademar, Zona Sul paulista. Fala de um policial na Bahia executando um jovem negro rendido no chão. O que comprova que “trata-se de um genocídio em todo território nacional”. Certo, as polícias, como instituições de repressão, estão aí, para servir aos interesses da burguesia.
O PSTU segue falando de diversos casos, como Matheus Menezes, de 23 anos, que teve sua garganta cortada por um tenente. Fala sobre Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morto no litoral e que Tarcísio elogiou seu secretário, Guilherme Derrite, esse que o partido pede para saia do governo.
Na sequência, o texto fala do estudante de medicina, morto com um tiro à queima-roupa; sobre o rapaz morto por ter roubado material de limpeza etc.
Temos que concordar com o PSTU que critica setores da esquerda que as polícias seriam “despreparadas” e de que bastaria, ou se deveria, dar cursos para humanizar os policiais.
No entanto, se não adianta tentar humanizar os policiais, não faz sentido quando o PSTU afirma que “a gravidade do momento impõe que todos os movimentos sociais, sindicatos e partidos comprometidos com a classe trabalhadora se unam para exigir a demissão imediata de Guilherme Derrite. Embora não resolva definitivamente o problema, sua queda, sem dúvida, seria uma derrota importante para a política assassina do governador, podendo obter para todos nós que estamos na mira um recuo temporário dos nossos inimigos”.
O que muda se trocarem um secretário? A confusão está instalada, pois, ainda que não proponha um curso para o governador, o partido alega que “é fundamental debater com a população quem de fato é Tarcísio. O bolsonarista ainda goza da imagem de bom gestor e político moderado, quando a realidade é essa que expusemos. Nenhum minuto de paz para o governador enquanto nós não tivermos as nossas vidas em segurança”.
Vamos pressionar e exigir que Tarcísio controle a polícia? Que chance isso tem de dar certo? Não passa de uma enganação essa proposta.
Confusão política
PSTU, no penúltimo parágrafo, diz que “Finalmente, mas não menos importante, essas tarefas são responsabilidade da classe trabalhadora. O parlamento e o judiciário, como participantes da política de morte, não podem nos proteger. É hora de construir uma mobilização do povo trabalhador pelas vidas dos nossos jovens, contra o racismo, pela desmilitarização e fim da polícia militar e pelo controle popular da segurança pública”.
É preciso ler com atenção, pois, ao contrário do que possa parecer, o partido propõe somente a desmilitarização da polícia e fim da polícia militar. O que equivale a dizer que o PSTU propõe uma polícia civil, o que, rigorosamente, dá no mesmo, pois a polícia civil mata do mesmo jeito, basta ver as chacinas nas favelas do Rio de Janeiro. Para não ficar muito evidente a capitulação, a matéria joga as frases “responsabilidade da classe trabalhadora” e “controle popular” para disfarçar.
Um partido que se diz trotskista, deveria propor o fim das polícias e a formação de milícias populares. Teria que propor que as milícias fossem locais e controladas pela própria comunidade. Mas não, a proposta do PSTU, de fato, é que elas apenas deixem de ser militares.
Esses artifícios desse partido servem para mascarar uma política anti operária travestida de radicalismo. Foi assim que fizeram para apoiar o golpe em 2016, é assim para defender o regime nazista da Ucrânia, o golpe militar no Egito, os mercenários contratados pelos Estados Unidos e “Israel” para dominar a Síria e tentar esmagar as resistências libanesa e palestina.
Sem o fim das polícias, os trabalhadores vão continuar a ser esmagados pela burguesia. É necessário armar os trabalhadores para que se organizem e se defendam do Estado. As instituições burguesas defendem seus próprios interesses. Uma polícia civil não será nunca melhor, ou mais desejável, do que as militares. Isso tem que ficar absolutamente claro.
Defender uma polícia estatal supostamente “controlada pelos trabalhadores”, além de não ter vez em uma sociedade dominada pela burguesia, é propor que haja sempre um órgão de repressão com a faca no pescoço da classe trabalhadora.