Falem o que quiser do PSTU, mas uma coisa não se pode negar: é um partido que vem conseguindo manter uma coerência. Em todas as crises políticas importantes, a agremiação morenista tem conseguido ficar do mesmo lado: o do imperialismo.
No artigo Ao defender Maduro, Lula ajuda a legitimar uma ditadura capitalista que reprime a classe trabalhadora, a situação não é diferente. Diante das tentativas dos Estados Unidos de desestabilizarem o regime venezuelano, o PSTU não titubeia: fora Maduro! E, é claro, aproveita também para atacar o governo Lula.
O texto começa com a seguinte colocação:
“Aqui no Brasil, foi muito importante derrotar Bolsonaro nas urnas. Isso porque, caso triunfasse, seu governo continuaria avançando contra as liberdades democráticas e instalaria uma ditadura no país. Um ativista ou militante sindical venezuelano que luta por seus direitos no país, parte deles presos inclusive, certamente entendeu essa mobilização contra Bolsonaro e o perigo que ele representava. O que deve ter causado perplexidade foram as recentes declarações de Lula em defesa das eleições no país e de Maduro. Lula defendeu a lisura do processo, destacando que ‘não se pode colocar dúvidas antes de as eleições acontecerem’, marcadas pelo regime venezuelano para 28 de julho.”
O primeiro ponto que merece destaque é a consideração que o PSTU tem sobre as eleições de 2022. A vitória de Lula teria sido importante simplesmente porque “derrotou Bolsonaro”, que seria a expressão de uma “ditadura” no Brasil. Somos levados a crer, portanto, que, para o PSTU, qualquer candidato que vencesse Bolsonaro seria um progresso.
Não é fato. A vitória de Lula foi um progresso porque significou algo muito mais concreto que a derrota de um “ditador”. Ela foi uma derrota parcial do golpe de Estado. Ela significou uma rebelião de amplos setores da classe trabalhadora contra a Operação Lava Jato, contra a Rede Globo, contra os latifundiários – enfim, contra o imperialismo. Foi uma expressão muito clara da luta de classes entre os trabalhadores e a burguesia.
Se levássemos em conta que a única questão que estava colocada em 2022 era derrotar Bolsonaro porque ele individualmente seria um “ditador”, então o PSTU seria capaz também de comemorar a vitória de Simone Tebet, Ciro Gomes ou Soraia Tronike – todos políticos burgueses, inimigos do povo, que fazem demagogia com o “autoritarismo” de Bolsonaro. Para o PSTU, o que houve em 2022 foi a vitória da “democracia” contra a “ditadura”.
E é graças a essa manobra que o PSTU se coloca na posição de defender o imperialismo na Venezuela. Como a Rede Globo, Bolsonaro e os promotores da Lava Jato dizem que há uma ditadura no país caribenho, o PSTU pensa da mesma forma.
Dizer que o povo venezuelano estaria decepcionado com Lula por não endossar a campanha imperialista contra Maduro é verdadeiramente absurdo. Trata-se exatamente do oposto. A base social de Maduro é, guardadas as devidas diferenças, semelhante à de Lula. O regime chavista se estabeleceu por meio de uma ampla mobilização das massas contra os representantes do imperialismo. Um processo que, embora menos radical, aconteceu em 2022 no Brasil.
As massas venezuelanas não esperariam outra posição de Lula que não a que ele apresenta no momento.
A posição do PSTU parte de um erro teórico que a própria organização apresenta no artigo:
“Apoiar Maduro, como Lula faz, é apoiar uma ditadura capitalista, que nem ao menos possui algum caráter ‘anti-imperialista’, como querem fazer parecer alguns”.
Ora, se o governo venezuelano não está em contradição com o imperialismo, é porque é um governo pró-imperialista. Mas se é assim, por que os Estados Unidos querem derrubá-lo? Dizer que não há contradições, é o mesmo que negar a existência do imperialismo. O que, por sua vez, é uma política absolutamente imperialista.