O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), em mais um surto de coerência, ainda que isso vá lhe custar caro, decidiu chamar voto na candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) para a prefeitura de São Paulo. Falamos em coerência porque, em 2016, PSTU e Boulos estavam no mesmo campo: na defesa do golpe de Estado contra o governo de Dilma Rousseff. Agora unem-se novamente – e, uma vez mais, com um propósito nem um pouco progressista.
De acordo com o escatológico artigo SP: Para derrotar Nunes e o bolsonarismo, PSTU chama voto crítico em Boulos, o PSTU irá votar em Guilherme Boulos para se somar a “todos e todas da classe trabalhadora e da juventude que querem derrotar eleitoralmente Nunes”. Não há dúvidas de que um governo reacionário como o de Ricardo Nunes seja odiado por uma ampla parcela da juventude e dos trabalhadores. Mas a questão que fica é: por que, para o PSTU, derrotar um picareta direitista como Nunes significaria eleger um outro picareta?
A ideia em si é tão frágil que o próprio PSTU, em outro município, apresentou uma política oposta. Na cidade de Itajaí (SC), o PSTU afirmou que “chegou a época das eleições e mais uma vez vemos o teatro de sempre: candidatos da direita defendendo os ricos e a esquerda conciliadora tentando vender a ilusão do ‘mal menor'”. Diante disso, chamou voto nulo nas eleições da cidade catarinense, puxando palavras de ordem como “chega de ilusões” e “o caminho é a luta e a organização”.
Fato é que, se impedir a vitória de um candidato direitista fosse motivo para votar em qualquer candidato que se oponha a ele, o PSTU deveria ter escolhido algum dos delinquentes que concorriam à prefeitura de Itajaí. Deveria, por exemplo, ter declarado apoio à candidatura de Dilma Rousseff em 2014, quando esta era vítima de uma ofensiva golpista. Mas não é essa a política do PSTU.
A ideia grosseira de que qualquer candidato que se oponha formalmente à extrema direita deva ser apoiado é o que ficou conhecido como política da “frente ampla”. É a política criminosa que resultou no desastre total em que se encontra a França, governada por um presidente e por um primeiro-ministro que não têm base popular alguma. É a política criminosa que permitiu que alguém como Gabriel Boric chegasse à presidência no Chile. É, conforme o próprio PSTU assinalou no caso de Itajaí, a política cretina do “mal menor”, que, neste momento, está sendo utilizada em escala internacional para endossar a candidatura de Kamala Harris, do Partido Democrata.
O apoio de Boulos, no entanto, é um apoio à frente ampla envergonhado. Como essa política já se mostrou um desastre, o PSTU procura apresentar a candidatura de Boulos não como a candidatura de um direitista como Gabriel Boric, mas alguém de esquerda. Alguém de esquerda que, na melhor das hipóteses, “se aliou à burguesia e buscou se tornar palatável à Faria Lima”.
O embelezamento da candidatura de Boulos não é por acaso. Ele vem do fato de que PSTU e Boulos expressam, neste momento, o mesmo fenômeno político.
Boulos não é alguém que “se aliou à burguesia”, mas sim um projeto da burguesia. Um fantoche, uma figura que foi esculpida e impulsionada pela burguesia. Não é uma liderança da esquerda que, pressionada, está dando uma “guinada à direita”, como diz o PSTU. Ele é – e sempre foi – um candidato da Rede Globo, da Folha de S.Paulo, das Organizações Não Governamentais (ONGs). Boulos não é um aliado dos inimigos da esquerda – ele é, ele próprio, uma face esquerdista dos inimigos da esquerda e dos trabalhadores.
O PSTU é incapaz de reconhecer isso porque, nos momentos mais decisivos em que Boulos revelou ser um fantoche do imperialismo, o partido morenista também assumiu a mesma posição. O PSTU, até hoje, se recusa a reconhecer que houve um golpe em 2016 – enquanto Boulos foi impulsionado pela burguesia para dividir a esquerda na luta contra o golpe. Boulos se mostrou um capacho da Casa Branca quando disse que a Venezuela vivia sob uma ditadura – coisa com a qual o PSTU concorda.
Ao fim e ao cabo, o PSTU mais coerente é o do Opinião Socialista, não o de Itajaí. Se, para o PSTU, o correto seria defender o golpe de 2016, o mais correto é apoiar Boulos. Afinal, para o PSTU, enquanto um partido pequeno-burguês extremamente oportunista, o critério ao apoiar um candidato não deve ser a luta de classes, mas sim as suas conveniências imediatas. Se Boulos representa os inimigos de classe dos trabalhadores, pouco importa! O que importa é que ele irá – sabe-se lá como – derrotar Nunes e o bolsonarismo…