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Oriente Médio

PSTU diz ‘viva a revolução síria!’ junto com o imperialismo

Ao deixar de lado a luta contra o imperialismo como eixo central de sua política, o PSTU passou a atuar ao lado do imperialismo na construção de ditaduras em todo o mundo

No dia 20 de dezembro, o colunista Fábio Bosco publicou no Opinião Socialista, jornal online do PSTU, o texto Viva a Revolução Síria, no qual comemora a derrubada de Bashar Al-Assad após 13 anos de guerra e de sanções promovidas pelo imperialismo.

A matéria é vergonhosa e muito confusa, pois, apesar de atacar o governo de Assad por supostos crimes veiculados na imprensa imperialista e de classificar seu governo como sendo uma ditadura, ignora completamente o esforço do imperialismo para sua derrubada.

Ao tentar analisar os motivos da queda de Assad, um dos primeiros parágrafos da coluna afirma o seguinte:

Por um lado, o regime Assad perdeu toda a sua base social devido à pobreza a qual estava submetida 90% da população e à violenta repressão estatal. Em 13 anos, mais de meio milhão de sírios foram mortos, 13 milhões se tornaram refugiados e 200 mil desapareceram no cruel sistema prisional do país. Não havia qualquer perspectiva de melhoria. Seus dois principais aliados não compareceram para sua defesa: o regime russo, que está atolado na Ucrânia, e o Hezbollah, em situação semelhante, no Líbano.

O texto aborda a questão da pobreza da Síria, mas não diz como ela ocorreu e nem leva em consideração que toda a população do Oriente Médio vive sob intensa pobreza pelo mesmo motivo: o imperialismo.

Em primeiro lugar, a Síria é um país ocupado militarmente por “Israel” nas Colinas de Golã desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Por outro, as principais bases petrolíferas do país estão nas mãos dos Estados Unidos, que invadiram o país em 2014 sob o pretexto de combater o Estado Islâmico (também conhecido como Daesh ou ISIS). Sem um de seus principais bens, o Estado sírio também vivia sob sanções do imperialismo desde 2011.

As sanções são monstruosas e visam justamente a derrubada do governo de Assad. É importante destacar o papel das sanções, já que a ideia de que a Síria vive uma revolução cai completamente por terra. Como é possível imaginar que, em meio a uma revolução, o imperialismo aplique sanções a um país para apoiar os revolucionários? A afirmação não tem sentido, a não ser que se acredite que o imperialismo é revolucionário.

Ainda em relação ao mesmo parágrafo citado, o leitor deve reparar que, no final, o autor destaca a não participação de dois dos principais aliados da Síria: “Seus dois principais aliados não compareceram para sua defesa: o regime russo, que está atolado na Ucrânia, e o Hezbollah, em situação semelhante, no Líbano”. O colunista, no entanto, aponta que os russos combatem os ucranianos, mas tem o cuidado de não falar quem ataca o Hesbolá no sul do Líbano, provavelmente porque não pegaria bem dizer que se trata de “Israel”.

A não participação dos russos também é falsa. Bastaria uma rápida olhada nos vídeos que circularam dos combates nas redes sociais para ver a participação dos russos, principalmente os vídeos que mostram os bombardeios contra posições do HTS.

O texto passa então a fazer menção às comemorações de parte da população na Síria, além de comentar sobre casos de tortura, prisões e outros supostos crimes do governo de Assad. Em relação às comemorações, quando Bolsonaro venceu as eleições de 2018 a direita saiu às ruas para comemorar e, a não ser que o PSTU considere essa vitória da direita no Brasil como uma revolução, a comemoração na Síria não quer dizer nada.

Já em relação às notícias contra Assad, tomemos por exemplo as da prisão de Sednaia. Cabe destacar que o PSTU não sabe do que se trata a prisão, não sabe quem eram as pessoas presas nem se realmente essa prisão existia. O simples fato de que o imperialismo propagandeie em toda sua imprensa o terror vivido em Sednaia, enquanto esconde o genocídio na Palestina, os crimes de “Israel” no Líbano e no Iêmen, além de esconder os crimes cometidos pelo próprio HTS antes e após a tomada do poder na Síria, já deveria servir para que qualquer um ficasse com uma pulga atrás da orelha, principalmente se tratando de um partido que se diz trotskista.

No entanto, mesmo que se tratasse de uma verdade, os supostos crimes ditatoriais de Assad não poderiam nunca ser o eixo determinante da política revolucionária. Isso porque do outro lado está o imperialismo, que governa o mundo e submete todos à pobreza e a crimes muito piores dos que os descritos pela matéria.

Vale lembrar que o sionismo mantém dezenas de milhares de palestinos presos em prisões sem paralelo na história em relação à tortura, com vídeos de estupros contra mulheres palestinas, só para citar um caso. Do mesmo modo, a prisão de Guantânamo mantida pelo imperialismo norte-americano também é amplamente denunciada, mas ignorada pela imprensa burguesa. O mesmo vale para as denúncias de torturas e prisões durante as ocupações no Iraque e no Afeganistão.

Ou seja, mesmo que se tratasse de uma realidade, a prisão de Sednaia pareceria um parque de diversões frente às prisões que poderão surgir agora, com um grupo pró-imperialista tomando o controle do país.

No entanto, após enaltecer a suposta revolução na Síria, o artigo passa a abrir caminho levemente para a posição contrária, já que não há argumentos suficientes de que seja de fato uma revolução.

Primeiro, o artigo passa a dizer que o novo “governo transitório”, que anunciou eleições para somente daqui a um ano e meio, será um governo de mercado, ou seja, será um governo de direita. Na sequência, a matéria anuncia que os planos do imperialismo são os de dividir a Síria, como vemos na sequência:

“Alianças com os países imperialistas (Estados Unidos, União Europeia, China, Rússia e Japão) e os acordos com as monarquias do Golfo, a Turquia e Israel não trarão paz nem garantirão as liberdades democráticas já conquistadas. Esses países temem a revolução democrática síria e farão de tudo para dividir o país, tomar suas riquezas, interferir na sua política e apoiar futuras ditaduras.

A invasão israelense nas Colinas de Golã e o bombardeio de 500 alvos militares e de inteligência sírios já demonstram que o Estado sionista quer uma Síria fraca, dividida e ocupada. A ofensiva militar turca, através do autodenominado “Exército Nacional”, contra as milícias curdas no Norte da Síria, demonstra que a Turquia quer impedir qualquer tipo de autonomia dos curdos, passando por cima do direito do povo sírio decidir o futuro do seu país.”.

Primeiro, o colunista do PSTU coloca todos os agentes envolvidos na Síria como imperialistas. Tanto a Rússia, a China, a Turquia e o Irã, assim como os EUA, a União Europeia e o Japão, segundo a matéria, querem a divisão da Síria e são imperialistas. Seria necessário explicar o porquê tanto a Rússia quanto o Irã ajudaram o governo de Assad contra o HTS e os demais grupos que tomaram o poder, se seu desejo era dividir a Síria em pedacinhos.

O autor também acaba por colocar qualquer tipo de aliança como sendo errada. O correto, devemos imaginar, seria o isolamento da Síria do restante do planeta, o que seria uma política burra, principalmente se tratando de um país pobre como é a Síria. Ao contrário, as alianças com o imperialismo é que são um problema para o país e quem prossegue com isso é o novo governo transitório, que já anunciou que não permitirá que se ataque “Israel” a partir de seu território, mas o estabelecimento de relações e o pedido de ajuda por parte do governo da Síria a países como a Rússia e o Irã são normais e necessárias para se combater o imperialismo na região.

“Israel”, como dito na matéria, bombardeou os alvos militares sírios e vem ganhando partes do território da Síria desde que o HTS tomou o controle. Mais abaixo no texto, o autor diz que Assad não era inimigo de “Israel” e usa o seguinte como justificativa para sua afirmação: “Assad garantiu a segurança do Estado de Israel nas Colinas de Golã. Por 50 anos, o exército sírio impediu que qualquer grupo ou indivíduo desse sequer um tiro contra os israelenses, apesar destes ocuparem território sírio.”. É a mesma justificativa utilizada pelos que até hoje dizem que não houve golpe contra Dilma Rousseff, pois o PT não teria lutado contra o impeachment.

Já que Assad nunca entrou em guerra contra “Israel”, que recebe o apoio de todo o imperialismo de conjunto, com armas que podem devastar a Síria, portanto, Assad é um contrarrevolucionário. No entanto, aqueles que tomaram o poder e que morrem de amores por “Israel” são os revolucionários.

O articulista se esquece de mencionar que, desde o dia 7 de outubro “Israel” atacou várias vezes a estrutura da Síria, principalmente o aeroporto de Alepo, justamente com o intuito de enfraquecer o país e impedir uma postura mais firme. Ao mesmo tempo, a Síria estava em guerra há 13 anos, completamente enfraquecida e sem dinheiro.

O leitor pode conferir aqui, no entanto, que aquilo que o colunista João Bosco exige do governo Sírio, não basta quando se trata do Hesbolá, já que, para Assad, era exigido um ataque a “Israel”. No entanto, na matéria de 2020, o Hesbolá que havia expulsado “Israel” do sul do Líbano duas vezes até aquele momento é simplesmente chamado de “partido burguês”.

Já aqui, em matéria de 2012, o articulista Diego Cruz afirma que o Hesbolá “não passaria na prova” (da revolução) já que estaria ajudando Assad para defender a burguesia, enquanto no mesmo artigo, após defender que a chave de tudo era saber “onde está a revolução e onde está a contrarrevolução imperialista-burguesa” era defendido que “com o avanço da resistência e o prolongamento da luta, o imperialismo foi obrigado a romper com seu fiel servidor Assad (…) O imperialismo optou por derrubar à Al Assad pela simples razão de que este já não pode mais derrotar o processo revolucionário sírio. Uma vitória da revolução na Síria fortaleceria enormemente todo o processo revolucionário na região” (sic).

Ou seja, o que esperam de Assad, quando acontece com outros grupos não é levado em conta, demonstrando mais uma vez que toda a argumentação do PSTU não parte da realidade. Trata-se, portanto, de uma análise puramente idealista, que apenas foca na luta contra a ditadura em abstrato, não na luta contra o imperialismo, como argumenta Rui Costa Pimenta em sua coluna sobre a Síria.

Por fim, antes de recuperar polêmicas contra o stanlinismo, que deixou de existir há mais de três décadas, e antes de atacar a postura do Partido Comunista da Síria por ter apoiado Assad contra o imperialismo, João Bosco faz uma análise do HTS dizendo que são inaceitáveis as declarações de paz com “Israel”. Repare aqui o leitor que a declaração do HTS é inaceitável, mas, quando se tratava de Assad, que nunca se propôs a normalizar as relações com “Israel” e que, desde 2021, reestabeleceu as relações com o Hamas, além de ter como aliados os grupos que combatem “Israel”, como o Hesbolá e o Irã, por não ter entrado em guerra contra o sionismo, merecia a derrubada do governo.

Da mesma forma, mesmo sem as declarações do HTS, estava claro que o grupo era aliado de “Israel”, principalmente pela falta de declarações contra o sionismo após a nova invasão da Síria. O PSTU também não cobrou uma guerra contra “Israel” por parte do HTS após a invasão do país pelos sionistas que bombardearam as posições militares sírias e tomaram parte de seu território!

A confusão reina na argumentação do PSTU. Na ânsia de lutar contra as ditaduras e deixando de lado a luta contra o imperialismo como eixo central de sua política, o PSTU passou a atuar ao lado do imperialismo na construção de ditaduras ao redor do mundo.

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