No artigo Reação do Irã é resposta limitada ao ataque de Israel à embaixada iraniana na Síria, publicado pelo portal Opinião Socialista, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) apresenta seu primeiro balanço sobre a Operação Promessa Cumprida, a ação iraniana deflagrada no dia 13 de abril. Incapaz de fazer uma verdadeira análise do acontecimento, o PSTU acaba recorrendo a algumas declarações isoladas, mas que já são suficientes para expressar qual é a sua política.
O artigo afirma que, “apesar de ser uma expressão da tensão crescente na região, analistas internacionais classificaram a resposta iraniana como ‘calculada’, que mostra que o Irã se colocou em movimento na região, num ataque direto a Israel. No entanto, o país tem capacidade muito maior do que os 300 mísseis lançados” [grifo nosso]. Para não entrar no mérito da análise, o PSTU recorre a “analistas internacionais” (quem são)? Por que dizem isso?
Para o PSTU, “calculada” aqui seria sinônimo de “contida”, “limitada”. É o que fica claro na frase seguinte, quando diz que o Irã tem uma capacidade “muito maior do que os 300 mísseis lançados”. Mas será que é essa a análise real do que aconteceu?
É bem possível que o PSTU tenha achado um “analista internacional” por aí que fale que o ataque do Irã foi algo sem importância. Afinal, o que não falta no mundo são palpiteiros que se dizem “especialistas” em política internacional. No entanto, qualquer analista sério que fale que a ação iraniana foi “calculada” o dirá com um único sentido: o de que foi uma ação precisa, planejada cuidadosamente, vitoriosa.
Mas não é isso que acredita o PSTU. Seu artigo cita um tal pesquisador e professor do curso de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), para quem “o Irã faz essa resposta previsível, essa informação já tinha sido vazada na sexta-feira, nos jornais, que isso poderia acontecer. No sábado, estava todo mundo esperando isso acontecer e, quando aconteceu, demorou horas para de fato acontecer o início do ataque e a realização dele. Então, teve toda uma preparação, que foi revelada. E esse ataque do Irã, ele respeita o direito internacional“.
Por qual motivo o pesquisador fez questão de destacar que o Irã “respeita o direito internacional” ao criticá-lo, não sabemos. Não seria, contudo, uma surpresa que isso fosse uma acusação – isto é, que, para o PSTU, a ação do Irã não teria sido efetiva porque respeitou o direito internacional! Afinal, para se opor a quem está em choque contra o imperialismo, vale tudo. Com desculpas tão escabrosas quanto, o PSTU apoia o golpe na Venezuela, na Nicarágua e em Cuba.
O mais interessante, no entanto, é a “acusação” de ter feito uma resposta “previsível”. Não é fato. A única coisa “previsível” é que o Irã afirmou que iria reagir. E que, quando reagiu, anunciou o ataque. Mas o Irã, no entanto, não avisou quais seriam os alvos, tornando tudo imprevisível para “Israel”. Há ainda outro detalhe, do ponto de vista militar, muito importante. A maioria dos VANTs (veículos aéreos não tripulados) e mísseis balísticos do Irã foram, de fato, interceptados. No entanto, o objetivo desse tipo de armamento nunca foi o de atingir “Israel”, mas sim o de desarmar a entidade sionista, para que, assim, os mísseis de longo alcance chegassem aos alvos. Os mísseis chegarem, resultando em um grande êxito militar.
O PSTU não precisaria, no entanto, se inteirar de tantos detalhes da questão militar. Bastaria ler com atenção a imprensa imperialista e ver que nenhum grande órgão foi capaz de dizer que o Irã fracassou. E ver que o próprio Estado de “Israel” não foi capaz de responder, nem verbalmente, ao Irã.
É um feito espetacular. É a primeira vez que “Israel” é atingido dessa maneira em 50 anos. O “cálculo” do Irã não foi o de destruir “Israel” no dia 13 de abril, mas sim o de mostrar ao mundo inteiro que é capaz, sim, de provocar um grande estrago no território ocupado pela entidade sionista.
Do ponto de vista político, o Irã liquidou o que é chamado de força de dissuasão de “Israel”. Isto é, antes, se alguém atacasse “Israel”, a entidade sionista reagiria com o triplo de intensidade. Sem o poder de dissuasão de “Israel”, a situação no Oriente Médio mudou completamente. É um aprofundamento da crise da dominação imperialista, que já vinha se expressando nos golpes nacionalistas na África, na guerra da Ucrânia e na insurreição afegã.
Para o PSTU, nada disso importa por um motivo simples: o partido é incapaz de enxergar a crise do imperialismo porque está diretamente ligado a ele. Apoia a Ucrânia contra a Rússia, ficou contra o Talibã no Afeganistão e contra os golpes na África.
No caso do Irã, uma vez mais, se apresenta como um apoiador entusiasmado do imperialismo. Tão entusiasmado que vê fracasso do Irã quando nem os jornais imperialistas o veem.