Nas eleições municipais deste ano, as tendências gerais da situação política apareceram com muita nitidez no desempenho de alguns partidos políticos. O desastre do PSDB, que foi a legenda que mais perdeu prefeituras, em termos absolutos, é a demonstração de que o “centro político” está em franca dissolução. Ao mesmo tempo, o crescimento de mais de 900% da votação do Partido da Causa Operária (PCO) e o fato de que o Partido Liberal (PL) que mais cresceu em número de prefeitos eleitos são a prova de que a situação política está profundamente polarizada.
O desempenho eleitoral do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) também apresenta uma importante lição para a análise política. O PSOL, que vem se apresentando como o partido do identitarismo e da defesa da “luta contra a corrupção”, perdeu todas as suas prefeituras. Em 2020, a legenda tinha cinco prefeitos. No último pleito, nem um único chefe do Executivo foi eleito.
O caso mais impressionante é o do atual prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. Outrora apontado como uma grande vitória da esquerda, uma vez que foi o único prefeito de capital eleito por um partido de esquerda em 2020, Rodrigues teve um desempenho tão sinistro como chefe do Executivo que sequer conseguiu alcançar 10% dos votos em sua disputa pela reeleição. Em um caso raro na história das eleições brasileiras, Rodrigues, como prefeito em exercício, sequer irá disputar o segundo turno.
A derrota do PSOL, contudo, já vinha sendo anunciada antes das eleições. Em março de 2024, três dos cinco prefeitos eleitos pelo partido já haviam abandonado a legenda. Segundo artigo da Folha de S.Paulo à época, “os prefeitos eleitos pelo PSOL nas cidades de Marabá Paulista (SP), Potengi (CE) e Ribas do Rio Pardo (MS) trocaram de partido para concorrer a um novo mandato. Em Janduís (RN), o prefeito não concretizou a mudança, mas levou todo o seu grupo político para o PT e diz que deve apoiar um novo nome”.
Os casos mostram claramente o caráter absolutamente artificial do PSOL. Trata-se de um partido que nada tem a ver com a luta dos trabalhadores. Ao contrário do PCO, que se apresenta como uma alternativa revolucionária à crise do regime político, o PSOL se apresenta como representante oficial de todas as bandeiras do regime. É o partido da ditadura do Judiciário, é o partido bem quisto pela Rede Globo, é o partido que se nega a defender a Venezuela e a Nicarágua, é o partido do “todes” e “todxs”.
A ausência de conteúdo político fez com que não apenas o PSOL se tornasse cada vez mais impopular, mas também com que o partido fosse sucateado a tal ponto que um grupo de oportunistas tomasse o partido para empreender um projeto específico. O PSOL de hoje é, acima de tudo, uma legenda para o projeto Guilherme Boulos, e não um partido militante. É, portanto, um abrigo para um projeto profundamente pró-imperialista, que acabará levando à dissolução da legenda.
