Em mensagem publicada no X no último domingo (28), o ministro israelense das Finanças, Bezalel Smotrich, ameaçou derrubar o governo do primeiro-ministro Benjamin Netaniahu se a invasão de Rafá, no extremo sul do país, for cancelada. Smotrich, que pertence ao partido da base governista Tkuma, criticou também a proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza feita pelo governo egípcio.
“Se você decidir hastear uma bandeira branca e cancelar a ordem de conquistar Rafá imediatamente para completar a missão de destruir o Hamas, restaurar a paz para os residentes do sul de Israel e todos os cidadãos do país, e devolver nossos irmãos e irmãs sequestrados que são mantidos como reféns em suas casas – então o governo que você lidera não terá direito à existência”, escreveu Smotrich, que considerou a proposta de cessar-fogo uma “rendição humilhante” para “Israel”.
O ataque público de um ministro de seu próprio gabinete não é a única crise enfrentada por Netaniahu. O líder do partido governista Likud voltou a enfrentar protestos muito radicalizados no último dia 29, com milhares de manifestantes nas ruas da capital do país artificial, Telavive.
Ateando fogo nas vias públicas da cidade, a população pressiona o Knesset (sede do parlamento israelense) no sentido contrário ao de Smotrich, exigindo o fim do governo e um acordo de troca de prisioneiros que liberte os reféns. Registros divulgados pelo órgão Palestina Hoy e outros perfis do X mostram a força da mobilização popular contra a política sionista:
Fuentes israelíes: Manifestantes israelíes provocan incendios en Tel Aviv para exigir la salida del gobierno de Netanyahu y llegar a un acuerdo de intercambio de prisioneros. pic.twitter.com/Ps6o89lq6g
— Palestina Hoy (@HoyPalestina) April 29, 2024
Segundo o sítio News 24 Broadcast India Limited, “a manifestação coincidiu com a resposta pendente do Hamas a uma proposta israelense que oferece um cessar-fogo de 40 dias e a libertação de prisioneiros palestinos em troca de 33 reféns“. O órgão indiano informa ainda que participavam do protesto “parentes dos libertados em uma trégua em novembro, pressionando pelo fim do conflito para garantir o retorno de seus entes queridos” e que “os manifestantes exigem que o governo israelense negocie com o Hamas a libertação dos reféns”, no entanto, “a dissidência da extrema direita na coalizão de Netanyahu complica as possíveis negociações de paz”.
News 24 informa também que “Einav Zangauker, mãe do refém Matan Zangauker, confrontou Netaniahu, pedindo-lhe que desse prioridade à libertação do refém, apesar da oposição dos ministros de extrema direita” e que o protesto terminou com “confrontos, com os manifestantes atacando o ministro Itamar Ben Gvir, acusando-o de terrorismo”.
Por fim, a manifestação dirigiu-se à sede do partido Likud, o que desencadeou a intervenção da repressão interna e prisões dos manifestantes. “Em meio ao caos”, conclui News 24, “um rojão teria sido apontado para um policial, resultando em hospitalização”. Um vídeo de um manifestante israelense flagrou ainda a polícia sionista empurrando a deputada Naama Lazimi, do partido Trabalhista, que participava do ato. Registros da cena podem ser vistos no link abaixo:
Segundo denúncia do perfil que divulgou o vídeo, trata-se da deputada israelense Naama Lazimi, agredida pela polícia sionista durante a manifestação do último dia 29, junto com as famílias dos sequestrados, em Telavive. Sintoma de uma crise política muito grande https://t.co/4n3tGvVYWN
— Thiago Assad⚙️ (@TAssad29) April 30, 2024
A posição popular, por outro lado, tem apoio de Benny Gantz, líder da coligação de partidos sionistas centristas Azul e Branco, que, em mensagem publicada no último dia 28 no X, antagonizou Smotrich e considerou “o regresso dos nossos raptados de muito maior importância”. Gantz disse ainda que o “direito de continuar existindo” do governo seria interrompido se os ministros impedissem um plano para o retorno dos raptados:
“Entrar em Rafá é importante na longa luta contra o Hamas.
O regresso dos nossos raptados, abandonados pelo governo 7.10, é urgente e de muito maior importância.
Se se chegar a um plano responsável para o regresso dos raptados com o apoio de todo o sistema de segurança, o que não implica o fim da guerra, e os ministros que lideraram o governo em 7.10 o impedirem – o governo não terá o direito de continuar existindo e liderar a campanha.”
Com o país polarizado entre os anseios do sionismo pela máxima brutalidade contra os palestinos e a população exigindo um acordo com o Hamas pela libertação dos reféns, aliado à troca de farpas públicas entre apoiadores do governo, o Estado de “Israel” exibe sinais de estar à beira de uma explosão social inédita. Como que para piorar a crise do sionismo, no cenário externo, o imperialismo luta para impedir outra expressiva derrota representada por um mandado de prisão contra Benjamin Netaniahu, expedido pelo Tribunal Penal Internacional.
Em matéria publicada no último domingo (28), o jornal sionista The Times of Israel informou que “que Netaniahu está ‘sob estresse incomum’ com a perspectiva de um mandado de prisão contra ele e outros israelenses pelo tribunal da ONU em Haia, o que seria uma grande deterioração do status internacional de Israel”. O sítio norte-americano The Craddle, por sua vez, lembra que “tanto Washington quanto Telavive não estão entre os 124 estados que assinaram o Estatuto de Roma do TPI de 1998, que estabeleceu o genocídio como um dos quatro principais crimes internacionais, juntamente com crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes de agressão”, mas acrescenta que, ainda assim, “Netaniahu fez um grande número de ligações telefônicas para líderes e autoridades internacionais, especialmente para o presidente dos EUA, Joe Biden, na tentativa de impedir a emissão de um mandado de prisão contra ele e que o primeiro-ministro israelense está indiretamente tentando pressionar Biden a agir contra o TPI”.
A sucessão de crises enfrentadas pelo regime sionista é o que se poderia chamar de tempestade perfeita. Enfrentando protestos enormes e cada vez mais radicalizados, o governo também é alvo de ataques públicos de um de seus ministros e de ex-apoiadores, como seu ex-ministro da Defesa Benny Gantz, e tudo isso enfrentando, agora, um cerco no plano internacional, o qual está intimamente ligado à crescente radicalização dos protestos populares dos países desenvolvidos contra o genocídio na Faixa de Gaza. Tudo isso, é bom lembrar, sofrendo derrotas militares para o Hamas e demais apoiadores da Resistência Palestina, uma situação que embora torne a ditadura sionista mais propensa as loucuras típicas de pessoas desesperadas, evidencia que a luta pela libertação da Palestina avança.