A prisão do general Walter Braga Netto fez a esquerda pequeno-burguesa entrar em um novo delírio, acreditando mais uma vez que a “democracia” está sendo salva por setores que promoveram, junto com os fascistas, bolsonaristas e militares, o golpe de 2016 — que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e prendeu Lula, impedindo-o de se candidatar em 2018.
O jornalista Paulo Moreira Leite, no Brasil 247, escreveu que “num país onde golpes de Estado e quarteladas constituem uma permanente ameaça ao regime republicano, a derrota e prisão do general Braga Netto representa um passo importante para a preservação da Constituição e do regime democrático”.
Quer dizer, as manobras do Judiciário e da Polícia Federal, braços do imperialismo no Brasil, seriam “um passo importante para a preservação da Constituição e do regime democrático”. Por quê? Porque um general quatro estrelas (golpista, sem dúvida) foi preso por planejar um golpe, isto é, por planejar uma operação que nem sequer aconteceu…
Enquanto isso, a grande maioria dos golpistas de 2016 — o verdadeiro golpe — estão livres e pior: sendo agora elogiados pela esquerda. Mas sejamos justos com PML, ele diz que a prisão de Braga Netto “não basta” e que “é preciso julgar e condenar, com os rigores da lei, os crimes cometidos contra a democracia”.
Seria preciso explicar o que seriam os “crimes cometidos contra a democracia”, algo que pode dar lugar a uma brecha de absurdos jurídicos que se voltarão, inevitavelmente, contra a esquerda, o movimento operário e o povo. Mas, além disso, façamos um questionamento, assumindo, claro, que quando o jornalista usa o linguajar reacionário de “crimes contra a democracia”, esteja falando dos golpistas brasileiros apenas: devemos, então, “julgar e condenar, com os rigores da lei” todos os golpistas?
Veremos que não. PML quer apenas se ater aos militares golpistas, em que “quartelada lembra que o golpismo militar tornou-se uma doença permanente, ainda que oculta, muitas vezes”, nas palavras dele. Os outros golpistas que vivam tranquilamente em seus locais, não só sem sofrer as consequências, mas, pior ainda, sendo apoiados pela esquerda pequeno-burguesa.
Paulo Moreira Leite, por exemplo, não consegue se segurar e parte para elogiosos epopeicos ao senhor Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e à Polícia Federal, dois dos principais representantes do imperialismo no Brasil. “Reafirmando uma liderança indispensável numa hora como esta, o ministro do STF Alexandre Moraes e a Polícia Federal, sob liderança do governo Lula, souberam atuar de forma coordenada para manter a situação controlada”.
E vejam: para poder elogiar Moraes e a PF, que estão numa guinada frenética contra os direitos democráticos, atuando a mando do FBI, da CIA e do Mossad, Paulo Moreira Leite simplesmente inventa que a recente ofensiva contra os militares golpistas ocorre sob a “liderança do governo Lula” — que mal consegue governar, enquadrado pelos golpistas “democráticos” que a esquerda tanto elogia.
Não só a ofensiva contra bolsonaristas não parte do governo Lula, como é uma operação direta do imperialismo, à qual o governo Lula apoia equivocadamente, plantando ilusões na esquerda de que o Judiciário e a PF — artífices principais do golpe de 2016 e da prisão do atual presidente — seriam “democráticos” e aliados “contra o fascismo”.
“Num país exausto pelos golpes de Estado, chegou a hora de cumprir um dever com a História e com as gerações que farão nosso futuro — enquadrar, processar e condenar quem se atrever a desafiar a Constituição e ameaçar vidas de brasileiros e brasileiras em nome de um projeto contrário ao Brasil e aos brasileiros”.
Novamente, enquanto dá o tom de um paladino da “democracia”, o jornalista esquece que os primeiros a “desafiarem a Constituição” e “ameaçar vidas de brasileiros e brasileiras em nome de um projeto contrário ao Brasil e aos brasileiros” foram os golpistas de 2016, aí incluídos Alexandre de Moraes, o STF e a Polícia Federal — que basicamente pariram o bolsonarismo, ou, pelo menos, deram as condições dele chegar ao poder em 2018.
Mas estes são “esquecidos” por Paulo Moreira Leite, que conclui: “Este é o verdadeiro crime de lesa-pátria, contra um povo que faz questão de escolher seus governantes e planejar — democraticamente — um destino melhor para as gerações do presente e do futuro”.
Pois bem, o golpe de 2016 foi o começo da atual fase de destruição do Brasil, com a Lava Jato, as privatizações, a reforma trabalhista, a PEC dos Gastos, etc. O bolsonarismo apenas continuou o que os atuais “salvadores da democracia” começaram.
