Em coluna para a Folha de S. Paulo, a jornalista Rosane Borges conflagra o “Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha” como a mais moderna forma de organização internacional dos povos oprimidos.
“Do ponto de vista das lutas históricas em prol das mudanças monumentais que precisam incidir no mundo capitalista, portanto desigual, tornou-se referência inescapável a exortação peremptória de Karl Marx: ‘Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!’. Com esse quase proverbial enunciado, Marx não deixa sombra de dúvidas de que a luta pela emancipação dos trabalhadores tem um inarredável caráter internacionalista. Não podemos esquecer que Lênin, com a teoria do imperialismo, e Trótski, com a teoria da revolução permanente, adensaram o postulado marxiano na virada do século 19 para o 20”, afirma a colunista.
Em uma desonesta alusão à Marx, Lênin e Trótski, a jornalista pretende abrir caminho para afirmar que a sua espécie de “Internacional identitária” se confundiria com a luta internacionalista dos trabalhadores demandada pelos marxistas. Em primeiro lugar pela razão óbvia de que, ao contrário do que dizia Marx, o que a autora propõe não é a união de todos os trabalhadores, mas sim um recorte dentro da população e, mais ainda, com base em um aspecto racial e não social.
“Nós, mulheres negras, reposicionamos a perspectiva internacionalista de nossas lutas, reafirmamos a vocação diaspórica negra em pensar, propor e agir de forma conjunta, enfrentando o racismo e o sexismo — dois eixos extremos de diferenciação negativa no mundo capitalista”, continua Borges.
A proposta da colunista violenta ainda mais o marxismo quando, ao afirmar que o recorte de raça deve ser a base para uma nova Internacional, abre caminho para que pessoas negras verdadeiramente inimigas de todos os povos, como por exemplo a antiga vice-presidente e agora candidata à presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris, possam ser consideradas “camaradas” simplesmente pela cor da pele, ignorando sua política de genocídio que aplicam aos trabalhadores de todo o mundo.
“25 de julho, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, e também Dia Nacional de Tereza de Benguela, é um dos pontos de inflexão desse movimento, que deixa transparecer a veia internacionalista das nossas lutas que vão da Colômbia ao México, do Uruguai ao Chile, de Barbados a Curaçao, das Bahamas a Aruba e dos nossos territórios para o mundo”
O que a autora não conta sobre o tal data é que ela foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), instituição do imperialismo responsável, dentre outras monstruosidades, pela criação do estado de “Israel”. Além disso, como afirma a própria colunista, no Brasil, a data que também é denominada como “julho das pretas”, é promovida pela ONG Odara – Instituto da Mulher Negra. Na página desta instituição podemos encontrar entre os seus patrocinadores além da própria ONU, marcas imperialistas como a L’oréal e organizações diretamente ligadas ao Departamento de Estado Norte Americano como a Fundação Ford e a Open Society de George Soros.
A data celebrada pela colunista é apenas mais uma demonstração de pura demagogia, para oferecer migalhas às mulheres negras, que de fato são um setor oprimido da sociedade. Na vida real, as mulheres, as mulheres negras, os homens negros, ou seja lá qual recorte seja feito, a vida dos verdadeiros oprimidos não passa por nenhuma mudança após a instituição de uma data como essas. A verdadeira opressão da mulher ou do negro não está associada somente a uma questão de gênero ou de raça, mas sim de classe.
As mulheres negras são de fato oprimidas, mas por serem pobres. A mais falada do momento, Kamala Harris, não é uma oprimida, mas sim uma opressora. Ela é responsável direto por encarcerar centenas de milhares de negros nas prisões norte-americanas. Harris e o Partido Democrata são responsáveis por financiar em milhões de dólares o genocídio que acontece contra o povo palestino.
Essa política, importada diretamente do Departamento de Estado norte-americano, não oferece nada de positivo para a luta dos trabalhadores. É, na verdade, uma política divisionista e que confunde a classe operária, dificultando a identificação dos verdadeiros inimigos dos trabalhadores, como são Biden e Harris. A luta das mulheres negras é a luta dos trabalhadores, a luta dos oprimidos. A opressão contra esses setores só podem ser superadas com a destruição do capitalismo. Não existem “atalhos identitários” na luta para a libertação dos povos do mundo inteiro, quando Max disse “Trabalhadores do mundo inteiro uni-vos” o que ele falou foi precisamente “ Trabalhadores do mundo inteiro uni-vos”.