Nos últimos dias, alguns boatos relacionados à condução da Petróleo Brasileiro S.A. – a Petrobrás – têm sido veiculados na imprensa burguesa. É fato que há uma crise na empresa desde que o presidente Lula orientou que os dividendos extraordinários não fossem pagos aos vampiros que recebem o nome de “acionistas”. O que é boato, no entanto, é como o governo pretende administrar essa crise.
De acordo com a coluna de Malu Gaspar, do jornal O Globo, em reunião entre o ministro da Economia, Fernando Haddad, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, os integrantes do governo teriam “selado um pacto” em torno do pagamento dos dividendos. O artigo foi publicado no dia 4 de abril.
No mesmo dia, um artigo publicado no portal Poder360 trazia uma informação que iria no sentido oposto. Segundo a matéria, Prates teria se sentido tão pressionado a abrir mão dos dividendos que teria pedido demissão. O texto diz que Prates teria dado ultimato ao presidente da República para que favorecesse os vampiros que abocanharam a empresa brasileira:
“O CEO tem dito a aliados que está no seu limite. Quer que o petista intermedie a situação em seu favor. Do lado do Planalto, esse apoio parece improvável e ninguém aposta que o atual presidente da Petrobras siga na cadeira até o final do mandato de Lula, em dezembro de 2026. O CEO tem dito a aliados que está no seu limite. Quer que o petista intermedie a situação em seu favor. Do lado do Planalto, esse apoio parece improvável e ninguém aposta que o atual presidente da Petrobras siga na cadeira até o final do mandato de Lula, em dezembro de 2026. Prates tem passado por uma ‘fritura’ de setores do governo que o querem fora do cargo de CEO da estatal. Desde o ano passado, os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) têm feito duras críticas à sua gestão. Lula só assistiu até agora. O silêncio do petista, em certa medida, é lido como um apoio tácito para os ministros.”
Afinal, Prates teria vencido a queda de braço e imposto a sua política, ou estaria deixando o governo? Outro boato, este, veiculado pela Folha de S. Paulo, afirmou que Lula estaria cogitando substituir Prates por Aloizio Mercadante, um dirigente antigo do Partido dos Trabalhadores (PT). Se for fato, corroboraria a tese de que Prates pediu demissão, uma vez que Mercadante é uma pessoa com uma política muito mais próxima à de Lula que o atual presidente da empresa brasileira.
Independentemente de onde esteja a verdade, o caso mostra de maneira clara a situação do governo. Lula colocou na Petrobrás uma figura ligada às empreiteiras, em um claro aceno à direita. No entanto, seu objetivo é levar adiante uma política de esquerda, submetendo a Petrobrás aos interesses nacionais. É possível, inclusive, que todos os três boatos sejam verdadeiros: para que Lula coloque alguém mais próximo de sua política, ele está disposto a fazer mais um aceno, pagando os dividendos extraordinários. Essa política, que é típica do atual presidente, além de ser confusa, está se mostrando inviável na atual etapa, em que a direita não se mostra disposta a ceder um milímetro sequer para o governo.
O governo está muito acuado, não apenas pelo bolsonarismo, que mostrou sua força no ato de 25 de fevereiro, mas também pelos ditos “aliados” da frente ampla.
Lula hoje vive uma situação semelhante à do segundo governo de Getúlio Vargas, com a diferença de que o último era, aparentemente, bem mais forte que o governo Lula. Tinha maioria no Congresso, a coligação PSD-PTB era majoritária, a oposição era minoritária; ele tinha, ou pelo menos acreditava que tinha, um respaldo muito grande dentro das Forças Armadas; Vargas dirigia um partido popular; tinha apoio dos sindicalistas; tinha muita coisa. Mesmo assim, foi difícil levar adiante essa política de equilibrismo que Lula está tentando realizar. No final das contas, acabou encurralado por seus inimigos.
Se a direita brasileira tomar a decisão de acabar com o governo Lula, como ela tomou a decisão de acabar com o governo Vargas, Lula cairá com mais facilidade que o governo Vargas caiu.