Diante do segundo turno que se avizinha em Porto Alegre (RS), o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados) decidiu deixar às claras seu oportunismo político e lançou nota de apoio (“voto crítico”) à candidata do PT (Partido dos Trabalhadores) no município, Maria do Rosário.
A proposta é apoiar o PT diante da “perspectiva de Melo ser reeleito” que seria “um horror para todos os trabalhadores e juventude de Porto Alegre”. E, diante disso, “votar 13, neste segundo turno, é um instrumento para derrotar eleitoralmente Melo nestas eleições, que é aliado da extrema direita bolsonarista e principal responsável pela enchente”.
Como não poderia deixar de ser, esse apoio do PSTU vem com críticas ao PT e ao próprio Lula, acusado de levar adiante um governo liberal e de conciliação de classes:
“O PSTU não tem acordo com o projeto da frente composta pelo PT/PSOL/PCdoB/PSB/Avante, pois, em essência, defende para Porto Alegre o mesmo projeto de ‘governabilidade com Centrão’ e ‘responsabilidade fiscal dos banqueiros’ do atual governo Lula (PT). O PSTU alerta que não se deve depositar confiança em governos que mantenham a lógica de parcerias público-privadas nos serviços públicos e não se comprometam a reverter o processo de privatização”.
Não precisa ir muito longe para ver o tamanho do oportunismo político do partido e o resultado confuso dessa posição, especialmente vinda de um partido que se diz revolucionário, marxista e trotskista, e que teria como fundamento de atuação, dentro e fora das eleições, uma política classista.
Antes de mais, chama atenção a falta de uma conferência para discutir um problema dessa envergadura, sendo uma nota escrita no site do partido, assinada por ninguém, a orientação para a militância e simpatizantes do partido, o que não se mostra democrático, mas isso também é o que pode explicar a posição oportunista apresentada no texto.
O curioso do escrito é que a parte crítica ocupa 90% do que foi redigido. Críticas ao PT, ao sistema eleitoral, à política de Sebastião Melo diante das enchentes que o município sofreu, além de tantas outras críticas como a de “não será através dessas eleições que as mudanças que tanto almejamos irão acontecer”, ou que “o sistema capitalista é salvaguardado por este sistema político”. Mas o fundamental não foi nem remotamente explicado, ou seja, porque, diante disso tudo, chamar o voto crítico em Maria do Rosário?
A única explicação oferecida ao leitor é que ela representa algo melhor ou menos pior que seu concorrente neste segundo turno, o Sr. Melo, do MDB (Movimento Democrático Brasileiro, antigo PMDB), que concorre à reeleição.
Ocorre que a política de um partido trotskista diante das eleições sempre foi muito bem definida, tendo por base a análise da luta de classes para participar do pleito, sempre lançando candidaturas próprias, e, em casos muito específicos e bem delimitados, apoiar candidaturas de outros partidos. Isso é o que deveria ter sido explicado quando o PSTU resolve declarar que em Porto Alegre (RS) a classe operária, os movimentos de luta, enfim, devem votar em Maria do Rosário. O que deveria ter sido explicado é como o voto em Maria do Rosário fará evoluir a luta política revolucionária e beneficiará a classe operária, o que não foi feito.
Toda a crítica que existe no texto serve somente para esconder o oportunismo eleitoral, especialmente em razão do partido (PSTU) ter obtido pouco mais de mil votos com sua candidata durante o primeiro turno, ou seja, sequer faria uma diferença significativa para o segundo turno, se formos analisar o problema por este outro ângulo.
Oras, se o opositor de Maria do Rosário é ruim e o PSTU resolve chamar voto em Maria do Rosário por este motivo, isso implica que, por princípio, o partido poderia votar em praticamente qualquer candidato neste segundo turno nos municípios que terão segundo turno, pois há de se concluir que geralmente existe um candidato pior que o outro na grande maioria dos casos. Isso é oportunismo, não é marxismo.
Ao apoiar um candidato burguês ou pequeno burguês, um partido de esquerda confunde os trabalhadores, pois coloca a classe operária a reboque de outra classe social. A independência de classe deve ser mantida a todo instante, inclusive nas eleições. Isso só deve ser alterado se houver alguma candidatura que expresse uma real luta dos trabalhadores e que deve ser apoiada naquele momento. E, claro, com ampla consulta às bases partidárias.
Vote 13, vote Maria do Rosário, e saiba que “nesse caminho, esperamos não apenas lutar, mas seguir debatendo com cada um de vocês o projeto que, sim, pode transformar nossa cidade, nosso estado, o mundo: a revolução socialista”. Aqui, a impressão que se tem é que o texto foi redigido pela candidata derrotada do PSTU, Fabiana Sanguiné. Por outro lado, se o 13 não pode transformar a cidade, o estado e o mundo, porque votar no 13? Alguém haverá de se perguntar.
Da mesma forma, ainda hoje deve ter gente se perguntando por qual motivo o PSTU colaborou no golpe de Estado contra Dilma Rousseff com a política travessa do “fora todos“, quando todos sabiam que o único fora que estava em debate era o de Dilma. Deu no que deu.
A derrota eleitoral da esquerda se deve a posições como estas, além, claro, do abandono total do marxismo. A adaptação ao regime burguês é enorme, a tal ponto de confundirmos as propostas de Guilherme Boulos (PSOL) com as de Ricardo Nunes (MDB) na eleição de São Paulo (SP). A propósito, como era de se esperar, o PSTU chamou voto crítico em Boulos, pois “entendemos o desejo de milhões de trabalhadores e jovens que esperam que o bolsonarismo seja derrotado na eleição” apesar de que os “compromissos firmados [por Boulos] durante toda a sua campanha foram com os capitalistas, com o governo Lula e com vários partidos e figurões da direita”.
É diante de tais problemas que o PCO convoca para o próximo final de semana a sua Conferência Eleitoral para debater entre a militância qual deve ser a posição do partido neste segundo turno das eleições, e o fará, como de tradição, sob as bases do marxismo, da luta de classes e a revolução.