Que a burguesia brasileira odeia o próprio país, isso não é novidade. Parece que, agora, a moda entre a elite nacional é falar mal da “elite nacional”. Funciona mais ou menos assim: a elite atual, a burguesia que controla a imprensa e a política atuais, ou seja, a burguesia de carne e osso, deturpa a história do Brasil para falar mal de uma suposta “elite” de dezenas ou centenas de anos atrás.
A Folha de S.Paulo, jornal da “elite de carne e osso atual”, publicou nova reportagem para se mostrar muito preocupada com a “elite” do século XIX. Destacando um livro que está sendo lançado pelo jornalista Ricardo Lessa, a Folha diz: Dom Pedro 1º foi primeiro golpista do Brasil e reforçou tradição autoritária, diz livro. Ora, vejam só, o jornal que ajudou a dar o último golpe no País, logo ali, em 2016, está preocupado em distorcer a história para acusar o libertador do País de ser um golpista.
Logicamente não se trata apenas de distorção, mas de um revisionismo histórico promovido pelos golpistas atuais. Vejamos algumas ideias do livro que a Folha fez questão de destacar.
“Dom Pedro era um absolutista, um déspota”, essa é a opinião, segunda a Folha, do autor do livro. Diz a reportagem que Ricardo Lessa teria pesquisado historiadores, será mesmo? Fosse assim, ele saberia que D. Pedro I era um monarca liberal e não absolutista. Elementar de qualquer pessoa que estudou minimamente a história do Brasil.
Qualquer um deveria saber que D. Pedro era um liberal e não apenas por suas ideias, mas pelas suas ações. Sendo herdeiro de uma das mais antigas coroas europeias, preferiu abrir mão de tal privilégio para arriscar a sorte defendendo e lutando pela independência do Brasil. Um absolutista teria simplesmente seguido a política de sua família.
Ao deixar o Brasil, D. Pedro vai a Portugal lutar contra o próprio irmão, D. Miguel, esse, sim, absolutista. Liberta Portugal do absolutismo e entrega o trono para sua filha.
Segundo a reportagem sobre o livro, o autor afirma que o fechamento da Assembleia Constituinte teria sido o primeiro golpe do Brasil. De fato, D. Pedro I dissolveu a Constituinte e isso tecnicamente é um golpe. Mas apenas falar de golpe sem analisar as forças políticas em disputa é puro jogo de palavras.
Por exemplo, em que medida a dissolução da Assembleia Constituinte se assemelha ao golpe de 2016? Em pouquíssimas coisas. Sem entrar nos motivos que levaram D. Pedro a dissolver a Constituinte, é preciso em primeiro lugar considerar que o Brasil estava em pleno processo revolucionário, as lutas pela Independência ainda estavam acontecendo, a jovem nação ainda estava se formando.
Já em 2016, um punhado de picaretas, apoiados pela imprensa que hoje acusa D. Pedro de golpista, derrubou uma presidenta eleita. Os que deram o golpe queriam entregar o País nas mãos do imperialismo, já D. Pedro havia acabado de tirar o Brasil das mãos de Portugal.
D. Pedro, que Lessa chama de absolutista, dissolveu a Constituinte, mas em compensação outorgou uma Constituição reconhecida como a mais liberal daquela época. Já os golpistas de 2016, que foram apoiados pela Folha, rasgaram a Constituição, passando por cima dos direitos democráticos do povo.
A vontade de deturpar a história é tanta que o auto do livro culpa D. Pedro I pela escravidão. A abolição veio apenas em 1888, mas não fosse D. Pedro, ela teria vindo em 1823, 1824? Ou seja, não foram os latifundiários que pressionavam para a manutenção da escravidão, na verdade, o País estaria pronto para a abolição não fosse D. Pedro I. Uma ideia totalmente extravagante.
Para criticar a Monarquia, o autor opta por um revisionismo histórico e uma interpretação totalmente absurda.
Fica a pergunta: qual o interesse da elite atual em distorcer e deturpar a história nacional? Justificar os golpes atuais contra o povo.