Neste domingo (10), primeiro dia do Ramadã, “Israel” impediu milhares de palestinos de entrarem na Mesquita de al-Aqsa para realizarem suas orações do fim do dia. Em vídeos que circulam nas redes sociais, agentes da polícia israelense foram flagrados reprimindo duramente mulheres e homens palestinos que se dirigiam à mesquita, conforme já noticiado neste Diário.
Há décadas os governos israelenses vêm intensificando a repressão contra os palestinos durante do Ramadã, impedindo-os de exercer sua liberdade religiosa em um dos locais mais sagrados do Islã, a Mesquita de al-Aqsa. Essa política está diretamente relacionada com a política do sionismo de erguer um Estado supremacista judeu sobre toda a Palestina, e, no processo, destruir a Mesquita, para em seu lugar erguer o Terceiro Templo.
Para além da necessidade de impedir que os palestinos de se reunirem, é essa política que está por trás dos ataques a al-Aqsa, os quais vêm ocorrendo durante toda a história da ditadura israelense sobre a Palestina.
O Terceiro Templo é um templo hipotético, que seria erguido sobre o Monte do Templo, onde atualmente está o complexo da Mesquita de al-Aqsa. Ele seria a reconstrução do Segundo Templo (Templo de Herod), o qual, por sua vez, foi a reconstrução do Primeiro Templo (Templo de Salomão).
Tratam-se de locais sagrados para a tradição judaica, segundo a qual o Templo de Salomão teria sido construído pelo Rei Salomão entre 990 e 931 antes de Cristo, no local onde supostamente, Deus criara Adão, o primeiro homem. Teria sido destruído no cerco de Jerusalém pelos Babilônios, em 587 antes de Cristo. Contudo, não há evidências históricas e arqueológicas que fundamentam essa história bíblica. Já o Segundo Templo teria sido construído em 516 antes de Cristo, após a conquista persa da Babilônia. Conforme a Bíblia, foi destruído pelos Romanos, o que teria acontecido no ano 70 depois de Cristo.
Os sionistas, especialmente o sionismo religioso, há algumas décadas a principal vertente ideológica da extrema-direita israelense, utilizam isto como pretexto para atacar a Mesquita de al-Aqsa, com o objetivo de demoli-la, para sobre seus escombros construir o Terceiro Templo. Seria uma das etapas para a criação do “Grande Israel”, isto é, o domínio do sionismo sobre toda a Palestina, sem lugar para o povo árabe. Muitos dos sionistas religiosos inclusive adotaram a política de que a destruição da Mesquita de al-Aqsa e a construção do Terceiro Templo seria o estopim que levaria inevitavelmente à criação da “Grande Israel’.
Por exemplo, após “Israel” emergir vitorioso da Guerra dos Seis Dias, capturando e ocupando as Colinas do Golã, a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e a Península do Sinai, Shlomo Goren, israelense-polônes que serviu como rabino-chefe das forças israelenses de ocupação, levou inúmeros soldados sionistas para rezar no Complexo de al-Aqsa, em mais uma afronta contra todo o povo palestino e o mundo muçulmano.
Já no ano de 1969, quando Jerusalém e, consequentemente, Al-Aqsa estavam sob o domínio territorial de Jerusalém, um homem australiano (Denis Michael Rohan) incendiou o principal salão de orações da Mesquita de al-Aqsa. Nisto, o minbar (púlpito) de Saladino, erguido pelo líder militar no século XII (1187), após retomar Jerusalém dos Cruzados. Mais um ataque contra o povo palestino e sua religião.
Nos anos de 1974, 1977 e 1983, grupos sob a liderança de Ioel Lerner tramaram explodir a Cúpula sobre a Rocha (e, consequentemente, al-Aqsa). Com isto, Lerner objetivava a construção do Terceiro Templo sobre os escombros da mesquita. Ele era um seguidor de Meir Carrane, um dos expoentes do sionismo religioso, líder e fundador dos partidos e organizações fascistas Cach e Liga de Defesa Judaica. O Poder Judeu, partido de Itamar Ben-Gvir, atual Ministro da Polícia de “Israel”, é herdeiro ideológico do Cach.
No ano de 1982, o próprio Carrane, acompanhado por 100 dos seus seguidores, marcha até a Mesquita de Al-Aqsa com diagramas do Terceiro Templo, que planejava construir “sobre as ruínas” da mesquita.
Já em janeiro de 1984, os guardas do Waqf (autoridade Jordaniana que administra o Complexo de al-Aqsa), impediram Ben Shoshan e Iehuda Etzion – membros do movimento de colonos “Submundo Judeu” – de se infiltrarem na área para explodi-la, conforme já exposto neste Diário. Segundo ambos, seu objetivo com a destruição do complexo e da mesquita era abrir caminho para a construção do Terceiro Templo. No mesmo ano, em 11 de abril, um israelense escondeu-se na Cúpula sobre a Rocha, para então emboscar palestinos que iam rezar. Dois foram assassinados, e 44 feridos.
Quando da Primeira Intifada (1987-1993), “Israel” cometeu um massacre contra palestinos, cujo estopim foram provocações de judeus sionistas contra a Mesquita de al-Aqsa, a favor de sua demolição para a construção do Terceiro Templo. Os sionistas fascistas dos Fiéis do Monte do Templo tomaram a decisão de lançar a pedra fundamental do templo no Complexo de Al-Aqsa. Segundo Gerxon Salomão, líder do grupo, “quem controlar o Monte do Templo obterá o direito sobre a Terra de Israel”. Palestinos protestaram veementemente contra o desrespeito por parte dos sionistas, mas foram duramente reprimidos pela polícia de fronteira. Os palestinos estavam desarmados, a polícia armada. Vinte e dois foram assassinados e mais de 150 feridos.
Mais recentemente, em 3 de janeiro de 2023, Itamar Ben-Gvir, o já citado ministro da polícia de “Israel”, um colono sionista adepto do sionismo religioso, fez uma visita provocativa ao Complexo de al-Aqsa.
Apesar da natureza já fascista de Benjamin Netaniarru, Ben-Gvir é um dos principais representantes no governo dos bandos de fanáticos religiosos da extrema-direita sionista.
É justamente essa extrema-direita que impulsiona os contínuos ataques contra a Mesquita de Al-Aqsa e aos palestinos que tentam rezar nela. Seu objetivo é destruir esse local sagrado aos muçulmanos, e sobre suas ruínas erguer o Terceiro Templo, como parte de um processo para a expansão de “Israel” por toda a Palestina.