Em artigo publicado pela emissora catariana Al Jazeera, intitulado Por que eleitores negros norte-americanos estão votando massivamente em Donald Trump?, Dwayne Oxford procura explicar aquilo que é constantemente visto como uma contradição: a migração do eleitorado negro norte-americano, tradicionalmente ligado ao Partido Democrata, para a candidatura do republicano Donald Trump.
“Ele ficou famoso por ser chamado de ‘ex-supremacista branco’ pela parlamentar democrata Cori Bush em 2021. Em 2018, Hillary Clinton chamou o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, de ‘ignorante’ e ‘racista’ depois que ele teria feito comentários altamente depreciativos sobre o Haiti e a África”, afirma o artigo da Al Jazeera. “Até a republicana Nikki Haley, que recentemente desistiu da corrida pela nomeação presidencial, classificou os comentários recentes que Trump fez sobre os afro-americanos de ‘nojentos’”.
Apesar das críticas de seus desafetos, as pesquisas não mostram que haja uma hostilidade tão grande entre o eleitorado negro e a candidatura de Donald Trump. Em 2016, Trump recebeu 8% dos votos negros de acordo com as pesquisas de boca de urna, o mais alto nível de apoio de eleitores negros a qualquer republicano desde George Bush em 2000. Na eleição presidencial dos de 2020, o apoio a Trump aumentou para 12%. Hoje, embora ainda haja uma flutuação entre as diferentes pesquisas, um levantamento recente da GenForward apontou que 17% dos eleitores negros votariam em Donald Trump, enquanto 20% disseram que votariam em alguém que não fosse Trump ou Biden.
O bloco eleitoral negro tem sido uma das bases de apoio mais consistentes do Partido Democrata. Em 2020, foram 77% dos eleitores negros a favor dos democratas. Esse número caiu para 63% que dizem que apoiarão Joe Biden neste ano, de acordo com a pesquisa GenForward.
Estes números, por seu turno, podem ser decisivos para uma derrota do Partido Democrata nas eleições de 2024. Segundo Dwayne Oxford, “antes da década de 1930, os partidos Republicano e Democrata recebiam apoio aproximadamente igual dos eleitores negros e brancos. A eleição de Franklin D Roosevelt em 1932, entretanto, desencadeou uma mudança dos eleitores negros para o Partido Democrata. De acordo com dados do Centro Conjunto de Estudos Políticos e Econômicos, Roosevelt obteve 71 por cento dos votos negros para a sua presidência em 1936. Durante a Grande Depressão, os afro-americanos foram desproporcionalmente afetados pelo desemprego. O New Deal de Roosevelt, um conjunto de programas de recuperação econômica, tentou corrigir estas questões econômicas e Roosevelt diria mais tarde: ‘Entre os cidadãos americanos, não deveria haver homens esquecidos nem raças esquecidas’”.
A autora também afirma que, historicamente, “o legado do Partido Democrata junto ao Movimento dos Direitos Civis foi o que o manteve popular entre os eleitores negros. No entanto, os eleitores negros mais jovens não têm os mesmos apegos ao legado dos direitos civis”. Além disso, diz ela, “os eleitores negros estão frustrados por receberem pouco do Partido Democrata em troca do que consideram ser um apoio constante e de longo prazo”.
Não bastasse a queda em geral do apoio dos eleitores negros, em Outubro de 2023, uma pesquisa do New York Times/Siena College também revelou que 22% dos eleitores negros em seis estados-chave disputados entre democratas e republicanos apoiavam Trump.
“À semelhança da estratégia Democrata em meados do século XIX, Trump está a tentar afastar os eleitores negros insatisfeitos do Partido Democrata”, considera a autora do artigo.
A falta de apoio de Biden junto aos eleitores negros, por sua vez, é resultado de um fenômeno mais geral. Na medida em que o Partido Democrata se tornou o partido oficial da dominação imperialista, ele vem perdendo, há décadas, seu apoio real. A eleição de Joe Biden em 2020 só foi possível após um enorme esforço dos monopólios, da imprensa e de milionários, que conseguiram, assim, vencer Donald Trump, que, esse sim, tem uma base social real.
Com a crise econômica cada vez maior nos Estados Unidos e, principalmente, com as sucessivas derrotas militares, incluindo o apoio ao genocídio na Faixa de Gaza, Biden hoje corre sério risco de não se reeleger.