Previous slide
Next slide

Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Coluna

Por que Dalí, simpatizante do fascismo, não sofre ‘cancelamento’?

Salvador Dalí foi apoiador de Francisco Franco, mas não sofre com a inquisição identitária, foi expulso do movimento surrealista, mas é apresentado como o grande surrealista

Se há uma verdade na história, é que a burguesia manipula os fatos de acordo com seus interesses. Logicamente, é assim, também, na arte.

Conhecido principalmente pelas suas obras nas artes plásticas, Salvador Dalí nasceu na cidade de Figueres, na Catalunha, em 11 de maio de 1904, há 120 anos. Ao contrário de muitos artistas que completaram aniversários importantes, Dalí recebe muitas homenagens.

No Brasil, em particular em São Paulo, acontecem exposições e eventos comemorativos durante o ano todo. Os jornais capitalistas divulgam tais eventos e falam exaustivamente sobre o “artista surrealista” e sua obra, normalmente em tom elogioso. Comparativamente, tal cobertura não foi dedicada até mesmo a artistas da mesma fama que Dalí.

Esse contraste chama atenção. Na época em que tudo é motivo para o “cancelamento”, que é um jeito moderninho de censurar, é muito suspeito que uma personagem como Dalí, simpatizante do fascismo, apoiador de Francisco Franco na Espanha e que nunca voltou atrás em suas posições políticas, não seja minimamente cancelado.

No ano passado, comemoraram-se 150 do nascimento de Pablo Picasso, artista cuja importância é incomparavelmente maior do que a de Dalí. Picasso, que sempre repudiou o fascismo, um artista de caráter progressista, tendo, inclusive, se filiado ao Partido Comunista em determinado momento de sua vida; foi alvo de uma série de ataques e cancelamentos por um suposto mau comportamento com as mulheres.

Monteiro Lobato, grande escritor brasileiro, é cancelado porque identitários histéricos inventaram que sua obra seria racista.

São inúmeros casos de artistas ou personagens históricos cancelados porque alguém disse alguma coisa sobre a sua vida, poucas vezes verdades, muitas vezes mentiras.

Porém, no caso de Dalí, cuja simpatia e apoio ao fascismo é aberto e conhecido, isso não acontece.

Não somos a favor da ideia de que um artista e sua obra devam ser excluídos simplesmente por conta de suas ideias, modo de vida ou posições políticas, como fazem os identitários. Mas é muito suspeito que Dalí passe despercebido diante desses histéricos justiceiros tão prontos a condenar qualquer um ao fogo do inferno da inquisição identitária.

O que explica a diferença de tratamento é muito simples. Só é cancelado quem o imperialismo quer que seja. É a prova de que a ideologia identitária e a chamada cultura do cancelamento não têm nada de progressistas, são políticas reacionárias impulsionadas pelo imperialismo.

E o caso de Dalí é ainda mais grotesco. Ele é apresentado como se fosse a cara do movimento surrealista, como se fosse o seu principal artista, o que é uma falsificação completa da realidade.

Salvador Dalí se aproximou do surrealismo, fundado por André Breton e outros grandes artistas, mas sequer está entre os principais nomes desse movimento. Mais ainda, Dalí foi expulso do movimento justamente por não respeitar as principais diretrizes do surrealismo. Sem entrarmos no mérito dos dogmas próprios de qualquer escola ou movimento artístico, fato é que é uma falsificação histórica grotesca apresentar Dalí como o grande surrealista.

E tem mais, Dalí foi reconhecido por Breton como um venal, a ponto de Breton ter cunhado um anagrama com seu nome: “Avida dólares”, que pode ser traduzido como “Ávido por dólares”.

Não é apenas um problema da simpatia de Dalí pelo fascismo. Os futuristas italianos, por exemplo, eram fascistas, incluindo Marinetti, o fundador do movimento. Esse fato por si só não exclui a importância do futurismo como grande movimento artístico. Mas o caso de Dalí não é apenas sua posição política. Como bem denunciou Breton, Dalí era um artista venal, ávido por dinheiro, e isso obviamente se refletia na qualidade de suas obras. Ou seja, apesar de ser tecnicamente um bom artista, boa parte de suas obras, no que diz respeito à criatividade, são pobres, seguem um esquema e um modelo pronto, o que vai contra tudo o que o surrealismo defendia.

Para a burguesia, Salvador Dalí é o melhor tipo de artista, por isso, não há propaganda negativa. O problema são os artistas progressistas, esses, se falaram um palavrão em algum momento, podem ser condenados pela inquisição moderna.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.