No dia 21 de janeiro, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) emitiu um longo memorando, de 18 páginas, explicando os motivos que levaram as forças de resistência palestina a deflagrar a Operação Dilúvio al-Aqsa no dia 7 de outubro. O texto, de grande valor histórico, justifica a ação da resistência tanto a partir de argumentos históricos de longa data, quanto de dados políticos mais recentes.
Entre os motivos listados pelo Hamas, está o fato de que “a batalha do povo palestino contra a ocupação e o colonialismo não começou no dia 7 de outubro, mas há 105 anos, incluindo 30 anos de colonialismo britânico e 75 anos de ocupação sionista”. Ao fazer tal afirmação, o Hamas se alinha à denúncia que toda a esquerda mundial faz do Estado de “Israel”: trata-se de uma operação do imperialismo para estabelecer um país artificial, com características coloniais, contra o povo palestino. Trata-se, portanto, de uma luta anti-imperialista, e não uma luta religiosa, como a imprensa capitalista, aliada do sionismo, faz parecer.
O Hamas também denuncia, no memorando, o papel das organizações internacionais, controladas pelos países imperialistas: “a administração dos Estados Unidos e seus aliados ocidentais sempre trataram ‘Israel’ como um Estado acima da lei”. Não há dúvidas: o Hamas, ao denunciar “Israel”, está denunciando o imperialismo em toda a sua extensão.
O Hamas ainda denuncia que “a Faixa de Gaza, por exemplo, sofre desde 2007 com um bloqueio sufocante que já dura 17 anos, transformando-a na maior prisão a céu aberto do mundo”, destacando como a questão palestina se entrelaça com os crimes provocados pelo imperialismo contra os povos, como os cubanos, vítimas de um bloqueio econômico de mais de 60 anos.
Hoje, após mais de cem dias da Operação Dilúvio al-Aqsa, fica ainda mais clara a sua necessidade. Se a resistência palestina não tomasse uma iniciativa, “Israel” seguiria seu processo de limpeza étnica sem que o mundo testemunhasse. A Operação Dilúvio al-Aqsa permitiu que a opinião pública tomasse conhecimento dos crimes de “Israel” contra a população civil e, assim, se juntasse aos palestinos na denúncia contra o Estado sionista.
Segundo o líder do Hesbolá, Hassan Nasralá, a Operação Dilúvio al-Aqsa “colocou ‘Israel’ no caminho de sua não existência”. Esse é, portanto, um segundo mérito da operação. Ao mesmo tempo em que a ação do Hamas, da Jiade Islâmica, da Frente Popular para a Libertação da Palestina e da Frente Democrática para a Libertação da Palestina fez com que a opinião pública mundial mudasse, a Operação Dilúvio al-Aqsa também levantou os povos de todos os países oprimidos por “Israel”.
O extraordinário feito do Hamas serviu de alento para que o Hesbolá declarasse guerra a “Israel” na fronteira com o Líbano e que os Hutis realizassem a operação de boicote econômico mais bem sucedida da história, desafiando até mesmo o imperialismo norte-americano no Mar Vermelho.