Desde segunda-feira (13), a pequena colônia francesa da Nova Caledônia tem sido tomada por manifestações e um levante da população indígena e local contra o domínio colonial francês, o que ocasionou em confrontos armados entre os manifestantes e milícias contra a polícia.
As manifestações, que tiveram início na segunda-feira (13), levada adiante principalmente pela juventude caledoniana, tiveram início em resposta a uma votação do parlamento francês, que, mesmo estando a 17 mil quilômetros de distância, propôs uma alteração na constituição da Nova Caledônia, que transferiria ainda mais o poder do voto da população local, conhecidos como canaque, para a população francesa residente na colônia.
Estima-se que, caso aprovada, a medida vá acrescentar milhares de eleitores à população votante da Nova Caledônia. A votação no parlamento francês se deu na terça-feira, dia 12. Os canaques, população local em grande maioria pró-independência, acusaram a medida de ser uma tentativa francesa de consolidar seu domínio colonial.
Conflitos se abriram durante as manifestações com a repressão se intensificando até a suspensão dos direitos civis da população canaque, com a proibição de reuniões públicas, a instituição de um toque de recolher, porte de armas, venda de álcool e fechamento do aeroporto principal do país para o tráfego comercial, apenas.
As tensões entre os índios canaque, que defendem a independência de seu arquipélago, e o governo francês, apoiado por grande parte da população francesa estrangeira que vive na ilha, são antigas. Conflitos durante os anos 80 ocorreram com intensidade semelhantes aos atuais.
Os conflitos em manifestações deixaram, até o momento da redação da presente matéria, quatro mortos, dentre eles um militar, e centenas de policiais feridos. Além disso, diversos carros e edifícios têm sido incendiados pelos manifestantes em Noumea, capital caledoniana.
Toda essa situação pressionou o imperialismo francês, que não viu saída que não decretar um estado de emergência visando intensificar a repressão e suprimir as manifestações dos grupos que defendem a independência do arquipélago. As medidas tomadas incluem uma mobilização de militares franceses, que serão enviados através de quatro esquadrões adicionais “para restaurar a ordem”, declarou o ministro do interior francês Gerald Darmanin.
Emmanuel Macron, presidente francês, apelou à calma entre os manifestantes e enviou uma ordem para os líderes políticos da Nova Caledônia, que orientava eles a “condenar inequivocamente toda essa violência”, e chamando os líderes pró-independência e anti-independência a encontrá-lo “cara a cara” em Paris.
“O povo Kanak opõe-se [à votação na França] não só porque foi decidida em Paris sem eles, mas também porque sentem que eles querem que isso faça parte de uma negociação… que incluiria outra votação de autodeterminação e uma série de outras coisas”, declarou Denise Fisher, ex-cônsul-geral australiana em Nova Caledônia.
Durante as manifestações, a capital foi coberta por densas nuvens de fumaça, proveniente dos incêndios causados por parte das milícias francesas contra-revolucionárias, que defendem a manutenção da posição colonial de Nova Caledônia. Três pessoas – dois homens e uma mulher, todos indígenas Kanaks – foram mortas a tiros nos violentos protestos e saques, segundo Charles Wea, porta-voz de Louis Mapou, presidente do governo da Nova Caledônia.
A situação levou a população local a se armar, conforme relata Louis Le Franc, alto comissário francês na ilha. “Alguns estão equipados com rifles de caça com chumbo grosso como munição. Outros estavam equipados com rifles maiores, disparando balas”
Em resposta a situação, o Palácio do Eliseu, sede do governo francês, declarou que “violência é intolerável e será objeto de uma resposta incansável para garantir a restauração da ordem”, enquanto que conflitos noturnos ocorriam entre manifestantes organizados através da Célula de Coordenação da Ação no Terreno e outros grupos de autodefesa e a polícia.
Por isso, o Ministério do Interior anunciou no fim da tarde do dia 15, quarta-feira, o envio de mais 1.800 policiais para o território colonial.
Colônia francesa desde 1853, a Nova Caledônia vem lutando por sua independência há muito tempo.



