Eleições

Pela primeira vez em décadas, esquerda ficará de fora da disputa da maioria das cidades

Uma esquerda que cada vez mais se parece com a direita tradicional, esta em crise desde o golpe, não terá futuro.

Pela primeira vez em duas décadas, mais da metade dos municípios brasileiros não tem candidatos filiados a partidos de esquerda concorrendo às prefeituras nas eleições de 2024. Em 2.859 das 5.569 cidades, não há representantes esquerdistas na disputa, conforme levantamento do Poder360 com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Essa situação reflete a menor presença de partidos de esquerda nas eleições municipais em 20 anos. Em contrapartida, apenas 21% das cidades brasileiras não têm candidatos de partidos de direita concorrendo às prefeituras.

A presença de partidos de esquerda em disputas municipais tem diminuído desde 2016, ano do golpe de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff. Após o auge registrado em 2012, quando 63% das cidades brasileiras tinham pelo menos um candidato filiado a um partido de esquerda concorrendo nas eleições, um fenômeno que se iniciou com a primeira eleição de Lula em 2002.

Caso o resultado eleitoral ocorra de forma semelhante ao de 2020, quando a taxa de sucesso foi de apenas 19,8%, o número de prefeituras poderá chegar em 673, o menor número de desde que Lula fora eleito pela primeira vez em 2002.

O melhor resultado da esquerda foi com 1.523 prefeitos eleitos, em 2012.

Para se ter uma dimensão do problema, o menor percentual registrado nos últimos 24 anos foi o do ano 2000, quando a esquerda se fez presente em apenas 42% dos municípios.

O cenário mudou depois de Lula se tornar presidente, em 2003. Nas eleições municipais seguintes, a esquerda esteve presente em 56% dos municípios e cresceu até 2012, quando 63% das cidades brasileiras tinham ao menos um candidato filiado a um partido de esquerda concorrendo no pleito.

A situação é complexa também do ponto de vista institucional. Partidos como PCdoB, PV e Rede correm o risco de desaparecer devido ao aumento das exigências mínimas de desempenho eleitoral para obter recursos públicos. Por isso, buscam a todo custo eleger prefeitos que possam contribuir na eleição de deputados federais.

Além disso, o aumento da distribuição de verbas federais para cidades administradas pelo Centrão fortaleceu os atuais governantes, tornando-os adversários mais difíceis de serem derrotados e, consequentemente, desencorajando a oposição por parte dos candidatos de esquerda.

De modo geral os partidos priorizaram as cidades maiores e a esquerda assim se faz ausente na maior parte das cidades pequenas. Só 37% das cidades com até 10 mil habitantes possuem algum candidato da esquerda. No entanto, apesar do foco maior em cidades grandes tanto os resultados quanto a estratégia geral desses partidos vem se mostrando falha.

Nas principais capitais, a esquerda não tem perspectiva de vencer as eleições. Na cidade de São Paulo, a principal cidade do País, o Partido dos Trabalhadores abandonou a estratégia de lançar uma candidatura própria e decidiu por fim apoiar Guilherme Boulos do PSOL, uma candidatura que vem se mostrando cada vez mais à direita, ao mesmo tempo que não apresenta sérios riscos para a burguesia paulistana.

“Historicamente, a esquerda no Brasil se sai melhor em cidades grandes. É onde o discurso da esquerda consegue ser mais bem compreendido. Há dificuldades de comunicação de partidos de esquerda com eleitores de cidades menores, que têm mais influência de famílias tradicionais e conservadoras, da igreja e pouca sociedade civil autônoma organizada”, diz Eduardo Grin, da FGV.

No entanto, apesar de todas as analises o fato é que a esquerda vem perdendo espaço eleitoralmente devido sobretudo a falta de uma política de esquerda. O principal partido da esquerda nacional, o PT, vem abrindo mão das principais cidades do País e fortalecendo os pactos com setores da esquerda pequeno-burguesa e da burguesia, em uma frente ampla que vem levando a esquerda em derrota após derrota.

Além disso, o abandono de políticas voltadas aos interesses reais dos trabalhadores, o fortalecimento da política identitária e a infiltração das ONGs em todos os partidos da esquerda pequeno-burguesa contribuem para isso. Uma esquerda que cada vez mais se parece com a direita tradicional, esta em crise desde o golpe, não terá futuro.

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