A pesquisa realizada pelo PoderData e divulgada pelo sítio Poder360 revela um cenário alarmante para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A desaprovação ao seu governo subiu para 46%, enquanto a aprovação permanece em 46%, marcando um empate técnico inédito desde o início de seu mandato. Em janeiro de 2023, a diferença era de 13 pontos percentuais a favor da aprovação, mas, ao longo dos quase três anos de governo, a pesquisa indica uma queda contínua na popularidade do petista.
Os dados são ainda mais preocupantes quando analisados por faixa de renda. Entre os que ganham até 2 salários mínimos, a desaprovação atinge 61%, e esse percentual salta para 70% entre aqueles que recebem entre 2 a 5 salários mínimos. Além disso, a desaprovação pessoal de Lula é alarmante, alcançando 65%.
Finalmente, nas regiões mais desenvolvidas a situação oscila. No Sul, a reprovação ao governo atinge 54% ao passo que a aprovação de Lula fica em 37%. No Sudeste, um empate técnico com 46% de aprovação e 44% de reprovação dentro de uma margem de erro de 3 pontos percentuais.
Só no Nordeste o presidente consegue um resultado positivo, com aprovação de 53%, similar à que tinha nacionalmente em janeiro de 2023, quando tinha 52% de aprovação. Mesmo nessa região, porém, o percentual atual é inferior aos 55% que tinha no começo do governo e apresenta uma tendência de queda, após oscilações ao longo do ano passado e uma recuperação em julho, que havia devolvido o apoio popular à casa dos 55%.
Naturalmente, pesquisas de opinião devem sempre ser vistas com ressalvas, uma vez que os números podem sofrer todo tipo de manipulação. Embora o ceticismo seja uma prudência necessária a quem busca uma compreensão da realidade, o fato é que a burguesia encontrou um campo favorável para indicar a existência de um empate técnico entre aprovação e desaprovação do governo, no Brasil e também no Sudeste, a região mais desenvolvida do País, que possui maior capacidade de influenciar o restante da nação.
Esses números refletem um descontentamento crescente entre a classe trabalhadora, a base de sustentação do petista que, após a sucessão de ataques neoliberais dos governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), esperavam mudanças significativas e melhorias em suas condições de vida, que até agora não vieram. O governo Lula, que começou com grande expectativa e apoio popular, enfrenta agora uma crise em sua base social.
O descontentamento se manifesta em diversos outros setores da sociedade, como o público com maior rendimento mensal e ensino superior, que tradicionalmente agrupa os segmentos privilegiados e que não apoiariam o governo do PT de qualquer forma, porém a tendência à reprovação entre a parcela da população responsável por tirar Lula da cadeia e levá-lo de volta ao Palácio do Planalto (sede do Governo Federal), indicado pela pesquisa do PoderData, indica que a paciência dos trabalhadores acabou.
Essa situação é um claro indicativo de que as promessas feitas durante a campanha não estão sendo cumpridas, e a população começa a sentir os efeitos da estagnação econômica e do crescente deslocamento à direita do Planalto.
A política econômica implementada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é um dos pontos centrais do desastre eleitoral que o governo enfrentou nas eleições deste ano. Em vez de reverter as medidas de asfixia contra a população, que têm gerado insatisfação, o que se observa é um aprofundamento do neoliberalismo que, cada vez mais, orienta as decisões econômicas do governo.
As propostas de contenção de gastos essenciais, como saúde, educação e assistência social, demonstram uma clara submissão às exigências do mercado financeiro e uma capitulação diante da pressão dos banqueiros, além dos demais setores imperialistas da burguesia. Essa postura de Haddad contrasta fortemente com as expectativas de uma base eleitoral que, em sua maioria, esperava uma política voltada para o bem-estar social e a redução das desigualdades.
Ao priorizar o ajuste fiscal e a responsabilidade econômica, o governo Lula se distancia das promessas de campanha, levando a um descontentamento crescente entre os trabalhadores e as classes populares. O resultado dessa política é um afastamento cada vez maior entre o governo e sua base, dependendo apenas da burguesia para se manter no poder.
Essa dependência é perigosa e insustentável, pois a classe dominante não está disposta a sustentar um governo que não atenda aos seus interesses e não tenha autoridade necessária para conter a agitação popular. Assim, a continuidade dessa linha econômica apenas reforça a percepção de que Lula não é mais o representante dos interesses do povo, mas sim um governante que se ajoelhou ao imperialismo.
Diante desse cenário, a única conclusão possível é que a manutenção da política econômica atual resultará na total corrosão do apoio popular a Lula. A história já mostrou que políticas de austeridade e contenção de gastos não trazem outra consequência senão a perda de apoio e a desilusão das massas, ameaçando inclusive a existência do governo.
Sem uma reversão total dos rumos adotados até e sem sensibilidade para atentar-se aos sinais da corrosão do capital político, em uma conjuntura mundial e regional marcada por golpes de Estado, não demorará até que o Planalto se veja imerso em uma grande crise. A repetição dos erros do passado pode levar o governo Lula a um colapso semelhante ao que ocorreu com a presidenta Dilma Rousseff, que, após sucessivas capitulações, enfraqueceu sua base de apoio e sofreu um golpe de Estado. A hora de agir é agora, antes que seja tarde demais.