Recebi de algumas pessoas (menos de 1% do total dos que se manifestaram em apoio) comentários criticando a posição do nosso Partido em relação à crise envolvendo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e o bilionário Elon Musk.
Um dos comentários de companheiros que se consideram de esquerda nos acusava de estar “fora da realidade”, e houve quem dissesse que vivemos em uma “realidade paralela”.
Os principais argumentos sobre o assunto foram devidamente rebatidos pelo companheiro Rui Costa Pimenta, presidente nacional do PCO, no excelente artigo Valter Pomar: um (não tão) inocente útil da direita, publicado neste Diário.
Mas confesso que tive que considerar o problema de estarmos fora da “realidade”.
Afinal, o PCO deve ser de outra realidade que não é a da maioria da esquerda.
Na realidade da esquerda, não havia perigo de golpe, os “realistas” da esquerda (incluindo Valter Pomar) não chamaram como nós e pouquíssimos petistas a lutar contra o impeachment de Dilma e até (depois de consumado o golpe) pela sua anulação.
Antes, quando o PCO falou do perigo de golpe, nos acusaram de malucos, de “fora da realidade”. E, muitas vezes, fomos minoria propondo moções em defesa dos companheiros José Dirceu, Delúbio Soares e outros que, em “nossa” realidade, eram vítimas de um processo de perseguição política que visava atingir Lula e promover o maior retrocesso da história do Brasil.
Na realidade da esquerda (até para Lula), não havia perigo da prisão do ex-presidente (como criticados publicamente até por ele por fazer campanha contra sua prisão muito antes dela ocorrer). Lula não seria preso e, se ele fosse – diziam os “realistas” -, no máximo ficaria alguns dias na prisão.
Só o PCO “fora da realidade” fez campanha contra sua prisão e, depois, ficou em minoria com os que lutaram pela sua liberdade. A esquerda parlamentar esteve sempre ocupada com o seu “mundo real”, que quase sempre é defender os seus próprios interesses, conquistar alguns cargos e conciliar com a direita golpista.
Se tivesse tempo, poderia escrever um livro e não apenas uma coluna sobre as centenas ou milhares de “distorções da realidade” que o PCO (infelizmente quase sempre em minoria) viu e denunciou publicamente, contra a visão “realista” da esquerda que – infelizmente – acompanha em suas análises o bom senso, “realista”, de integrantes do Partido da Imprensa Golpista (PIG), que, como os sionistas, bolsonaristas e toda a corja golpista, também nos acusam de “lunáticos” e de estarmos “fora da realidade”.
Agora, a “realidade” dessa esquerda é apoiar o ministro golpista, que declarou que “na história, não tem nenhum presidente que se iguala a Temer” (e para ele deve ter sido, pois o nomeou); é apoiar a censura; apoiar a cassação dos direitos democráticos do povo; é não mobilizar contra toda a direita golpista etc. Enquanto isso, os “fora da realidade” do PCO alertam que estão preparando um novo golpe e que quem vai pagar por isso – como sempre – são os trabalhadores e até mesmo o próprio Lula e o PT.
Mas para que dar crédito ao PCO? Melhor acreditar nos “realistas” que não viram o golpe, ou que até o apoiaram, que não lutaram pela liberdade do Lula, que vão nas eleições apoiar candidatos que chamaram para as ruas para lutar contra “os ajustes da Dilma” e até votaram pela sua derrubada.
A luta de classes é assim mesmo, em geral, os pequeno burgueses, por conta dos seus interesses, escolhem o lado que favorece a “sua” visão da realidade, que – quase sempre – é a visão da classe dominante.
O PCO, de fato, está fora dessa realidade.