O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) vive um de seus piores momentos na história recente, resultando em um desastroso desempenho nas últimas eleições municipais de 2024. A legenda, que já teve alguma presença eleitoral na esquerda brasileira, viu sua base de prefeituras encolher drasticamente. De 46 prefeituras eleitas em 2020, o partido conseguiu manter apenas de 19. Esse declínio escancara o afastamento da legenda de suas supostas bases tradicionais, além de expor uma transformação interna que a aproxima de candidatos direitistas.
Um dos casos mais destacados dessa derrocada é o estado do Maranhão, antigo bastião eleitoral do partido, especialmente durante o governo de Flávio Dino, que liderou o estado pelo PCdoB antes de pular do barco, filiando-se ao PSB junto ao tucano Geraldo Alckmin. Nas eleições de 2020, o PCdoB governava 22 municípios no estado; em 2024, essa cifra caiu para apenas dois: Pedro do Rosário e Santo Amaro do Maranhão. O Maranhão, que outrora representava o coração eleitoral do partido, agora reflete a profundidade da crise enfrentada pela legenda. Tal declínio também traz à tona a redução da influência política de Flávio Dino, que governou o estado pelo partido de 2015 a 2022. Dino chegou a ser considerado um dos governadores mais populares do Brasil segundo as instituições burguesas, mas sua migração para o PSB e o subsequente enfraquecimento do PCdoB são sinais de que o partido perdeu sua conexão com o eleitorado maranhense e que, em última instância, sua popularidade era tão sólida quanto um castelo construído de areia.
Essa perda de prefeituras pelo PCdoB pode afetar a estrutura de apoio de Flávio Dino no governo estadual, hoje liderado por Carlos Brandão (PSB), e abrir espaço para direitistas mais tradicionais do que a direita “dinista”, como o MDB ligado à família Sarney. Além do enfraquecimento eleitoral, alguns dos principais aliados de Dino no estado também se distanciaram de posições de destaque. Um exemplo disso é Rodrigo Lago, ex-vice-presidente do PCdoB, que renunciou ao cargo para se dedicar à advocacia, em uma tentativa de se reposicionar politicamente para futuras eleições. Esse movimento reflete o esvaziamento das lideranças dinistas e do PCdoB, que antes controlavam uma parte significativa do cenário político local, mas que agora se veem em crise junto ao partido.
Outro aspecto que chama atenção nas eleições de 2024 é o perfil dos poucos prefeitos eleitos pelo PCdoB. Muitos deles, longe de representarem os ideais de esquerda pelos quais o partido supostamente defende, têm posturas conservadoras e profundamente direitistas. Isso fica claro ao analisar casos como o de Pedro do Rosário e Santo Amaro do Maranhão, onde os prefeitos eleitos pelo PCdoB são políticos burgueses desvinculados da luta dos trabalhadores.
Esse descolamento ideológico, no entanto, não é uma novidade recente. O PCdoB, ao longo dos últimos anos, tem mostrado qual é o seu papel no cenário político brasileiro, sendo um partido eleitoreiro e que joga o jogo da burguesia, que favorece cada vez mais partidos com alianças oportunistas e menos comprometidos com bandeiras ideológicas da esquerda.
Um dos poucos exemplos de sucesso nominal do PCdoB foi a reeleição do prefeito de Recife, João Campos (PSB), onde o vice-prefeito é do PCdoB. Contudo, esse caso não pode ser considerado uma vitória plena para a legenda, já que o vice-prefeito Victor Marques, embora filiado ao partido, é um político recém-chegado à legenda e mais identificado com o prefeito reeleito do que com o próprio PCdoB. A manobra política de João Campos, ao escolher alguém de sua confiança para o cargo de vice, sugere que a legenda comunista foi apenas uma ferramenta útil no jogo de alianças do PSB para agradar a coligação PT-PCdoB-PV, contornando os interesses petistas de enviarem um vice à chapa do direitista João Campos.
A drástica queda do número de prefeituras e o enfraquecimento de suas lideranças regionais colocam o PCdoB em uma posição extremamente delicada para o futuro. O partido corre o risco de desaparecer gradualmente do cenário nacional. Além disso, o impacto dessa queda nas eleições municipais de 2024 pode ter desdobramentos significativos nas eleições gerais de 2026. O partido, que já luta contra a política antidemocrática da burguesia chamada cláusula de barreira, pode enfrentar dificuldades ainda maiores para eleger deputados estaduais e federais, o que colocaria sua própria sobrevivência financeira e institucional em risco. Com alianças cada vez mais pragmáticas e a perda de sua identidade ideológica, o PCdoB caminha para o abismo.