Em artigo assinado e publicado na edição do último dia 24 do Estado de S. Paulo, a ex-diplomata isralense Revital Poleg enxerga oportunidades em meio ao genocídio promovido pela ditadura sionista: “a eliminação de Iahia Sinuar cria para Israel uma oportunidade única de liderar um processo que traga a libertação de todos os reféns – vivos e mortos – em troca do fim da guerra em Gaza”. Segundo ela, agora a eliminação de Sinuar criaria condições para negociar. Ora, se houvesse interesse em uma negociação genuína, seria razoável acreditar que algo teria sido feito muito antes de “Israel” ter assassinado mais de 16 mil crianças palestinas, e mais de 40 mil mortos no total, além de 10 mil desaparecidos – presumivelmente enterrados em valas comuns ou em escombros, cortesia dos bombardeios “cirúrgicos” da ocupação sionista. Trata-se, claramente, de um cinismo desmedido.
Poleg, no entanto, defende que para libertar os reféns, o mais lógico é exterminar aquele que, de fato, tem disposição para lutar contra a ocupação. A lógica é clara: para a ditadura sionista e seus porta-vozes, o povo palestino não tem o direito de se defender, de resistir ou de lutar pela própria sobrevivência. É mais conveniente matar seus líderes, dizimar sua população, e depois posar de benfeitor humanitário pronto para liderar um processo de paz que, na prática, significa a rendição total do povo palestino.
Essa defesa descarada do assassinato de Sinuar faz parte de um roteiro cansativo. Ao contrário do que Poleg insinua, o líder do Hamas jamais poderia ser comparado a figuras como Eichmann – a inversão moral é gritante aqui. Enquanto Eichmann foi um arquiteto do genocídio nazista, Sinuar é um símbolo da resistência contra uma ocupação brutal e genocida que já dura décadas. O fato de Poleg sugerir que a morte do líder revolucionário é um passo rumo à paz é uma ironia cruel, digna da propaganda que tenta pintar a opressão colonial como “defesa legítima”.
“Sinuar, profundamente impulsionado por uma ideologia jihadista extrema e por um ódio visceral contra Israel, agia movido por uma fé messiânica e uma brutalidade extrema, com o objetivo de apagar Israel da face da Terra. Embora Israel buscasse eliminá-lo e tenha declarado isso abertamente com o início da guerra (um objetivo que já esteve na agenda várias vezes no passado), o fim de Sinuar foi, em muitos aspectos, banal, acidental e até patético.” Nesse ponto, Poleg tenta desvalorizar o martírio de Sinuar com um toque de desprezo quase infantil.
O que a sionista faz no trecho é somar forças a um esforço concentrado, repetido com seus pares da propaganda sionista, que se esforçam para convencer o mundo de que o martírio do líder palestino foi “banal, acidental e até patético” em uma tentativa desesperada de diminuir o peso de seu belo exemplo à humanidade, de alguém que mesmo em seus suspiros finais, dedicou o que lhe restava de vida a combater a odiada ditadura sionista. Não existe exemplo de bravura mais contundente na história moderna do que a morte de Sinuar.
A tentativa grotesca de se juntar a outros sionistas do gênero demonstram, finalmente, que todas as considerações sobre “banalidade do mal” não são mais do que escudos retóricos, levantados para que o martirizado povo palestino não se defenda da invasão de seu país e nem se insurja. Que morram como baratas, indica a ex-diplomata sionista, reproduzindo o que certamente está na política não só de Poleg, mas de todos os sionistas do planeta.