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Rio Grande do Sul

‘Parte da cidade estava com corpos boiando, parte funcionando’

Relatos exclusivos mostram que a situação em Porto Alegre está longe de voltar à normalidade

De acordo com relatos e vídeos recebidos pela redação do Diário Causa Operária (DCO), Porto Alegre voltou a ser inundada após o nível da água ter diminuído nos últimos dias. As fontes na capital gaúcha afirmam que bairros como Cidade Baixa e Cavalhada, além de outros locais na Zona Sul, já estão completamente alagados. As ruas de Lima e Silva, Getúlio Vargas, 17 de junho e Otto Niemayer também estão totalmente inundadas.

Confira vídeos enviados ao DCO:

A situação está piorando rapidamente. A água que sai dos bueiros está sendo expelida com muita força. Segundo o blogue Porto Alegre 24 horas, uma escola localizada na rua Arroio Grande, no bairro Cavalhada, está totalmente ilhada pelas águas. “Professores pedem ajuda do Corpo de Bombeiros para resgatar as crianças, já que os pais não estão conseguindo se aproximar, devido ao alto nível do alagamento“.

Nas redes sociais, um internauta denuncia que a prefeitura havia, há pouco, orientado a população a colocar seus móveis estragados na rua. Agora, com a volta da inundação, estes móveis estão sendo levados pela água:

“As pessoas colocaram – A PEDIDO DA P#RRA DA PREFEITURA – os móveis estragados na frente das casas. A prefeitura não recolheu. Agora está tudo boiando na cidade. VÃO TOMAR NO MEIO DO C#. É a pior gestão da história de Porto Alegre”, afirmou um internauta na rede social X (antigo Twitter).

Muitas pessoas já estão saindo de suas casas e comércios estão voltando a fechar. Uma moradora da capital gaúcha, por exemplo, relatou ao Uol que terá que deixar sua residência apenas um dia após retornar. Anteriormente, ela estava na casa de parentes.

Antes dessa nova inundação, o nível da água em parte da capital gaúcha estava diminuindo. As pessoas dos bairros que deixaram de ficar inundados já tentavam, inclusive, retomar as suas vidas, com muitos comércios reabrindo.

Todavia, agora que a água está voltando, muitos já começam a falar, inclusive, em um impeachment do “prefeito” de Porto Alegre. E não é à toa: além de ter destruído a cidade ao longo de seu mandato, entregando os recursos da cidade aos banqueiros ao lado de seu comparsa Eduardo Leite, o prefeito emedebista, enquanto finge solucionar o problema da capital gaúcha, continua favorecendo seus amigos empresários.

Nesta semana, a Prefeitura de Porto Alegre e o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) instalaram as quatro primeiras bombas flutuantes na cidade. Entretanto, elas foram instaladas em uma zona pouco habitada. Por que foi feita essa escolha? Porque nessa região, ficam empresas como Femsa Coca-Cola, Stok Center, Havan e Motormac Geradores.

“Os abusos não acabam. O governo Melo está atendendo os prejuízos de apenas alguns, enquanto mais de 26 mil moradores seguem alagados. O Sarandi [bairro densamente povoado] pede socorro!”, disse a deputada estadual Laura Sito (PT-RS) por meio de suas redes sociais.

Um correspondente do DCO em Porto Alegre afirmou que Sarandi é “outro bairro severamente afetado pelas águas”. “Em muitos pontos, continua alagado. A destruição e a revolta dos moradores têm provocado manifestações, cobrando ações das autoridades”, afirmou.

Entretanto, enquanto parte da cidade aparentava estar retornando à normalidade, outra parte continuava sofrendo as duras consequências das enchentes. É isso que Leo Silva, estudante de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), relatou ao Diário Causa Operária (DCO).

Leo, que teve que sair de Porto Alegre após sua casa ficar inundada, afirmou que, quando chegou na cidade, nessa quara-feira (22), “parte da cidade estava destruída, parte ainda debaixo d’água”. “A água estava abaixando novamente após começar a subir e depois abaixar várias vezes, em um ciclo sem fim”, afirmou.

“Eu lembro que tive que fazer um caminho diferente tanto na vinda do litoral e entrada da cidade, em que vim por Viamão, ao invés de pela Freeway, como também já dentro da cidade o caminho que fiz foi diferente do habitual e um tanto congestionado mais que o normal”, relatou, ao chegar na cidade.

O mais chocante é que, segundo o estudante, enquanto os comércios voltavam a funcionar em alguns bairros, outros continuavam completamente alagados, com corpos ainda boiando nas águas.

“Ficava aquele paradoxo de parte da cidade alagada com cadáver boiando e jacaré nadando, e parte funcionando, parecendo que nada estava acontecendo, uma situação semelhante à da pandemia. Acredito que de 15% a 20% da cidade estava alagada ou destruída quando eu cheguei”, disse.

Ele relata que, mesmo nos lugares onde a cidade voltava ao “normal”, a situação ainda era extremamente precária:

“As partes da cidade que não foram alagadas já estavam recuperando a luz, a água e o sinal de telefone. Só a água que demorou um pouco mais, veio com pouca pressão. E tão logo quando recuperavam o fornecimento, ou até antes, os comércios já queriam voltar a funcionar normalmente. É notável como estão sob pressão econômica para voltar o mais rápido possível. Uma pressão de sobrevivência dos autônomos e pequenos comércios e uma pressão dos patrões nos comércios maiores.”

Um de seus conhecidos afirmou que membros de sua família chegaram a adoecer. “Eles acreditam que [adoeceram] pelo estado de sujeira da água ao voltar”, relatou.

No resto do estado, a situação é pior ainda. Enquanto muitas cidades continuam completamente debaixo d’água, a Defesa Civil confirmou, em balanço divulgado nessa quinta-feira (23), mais uma morte, totalizando 163 óbitos. Além disso, segundo o mesmo informe, 72 pessoas continuavam desaparecidas.

Ao mesmo tempo, a população começa a sofrer outras consequências provenientes das enchentes. Na manhã da quinta-feira (23), a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que registrou mais 19 casos de leptospirose no Rio Grande do Sul, totalizando 48 em todo o estado. Até agora, duas pessoas já morreram por conta da doença, um homem de 33 anos e outro de 67, ambos no dia 17 de maio.

“Achei que a gente fosse ficar quatro ou cinco dias fora de casa até a água baixar, como foi nas outras enchentes. Aí, a gente ia voltar pra casa, limpar e ir pra dentro de novo. Mas não sobrou nada. Não consigo nem localizar a minha casa”, afirmou Maria Estela de Almeida, vendedora, à BBC News Brasil.

A situação é tão ruim que, conforme foi dito por correspondente do DCO em Porto Alegre, a população está convocando manifestações exigindo uma ação efetiva por parte do poder público.

Na noite de domingo (19), por exemplo, um grupo incendiou dois ônibus na capital gaúcha. O protesto teria sido organizado para denunciar a morte de um morador. O Estado de S. Paulo da conta de que uma viatura da Brigada Militar (PM do Rio Grande do Sul), ao chegar ao local, foi atacada a pedradas. Além disso, coquetéis molotov teriam sido lançados, todas demonstrações de que o descontentamento da população, abandonada pelo governo do estado e pelas prefeituras, é muito grande.

Já na quarta-feira (22), foram registrados protestos nos bairros de Navegantes e Humaitá. Os moradores da região estavam se manifestando contra a inoperância da prefeitura para escoar a água da região, que permanece na altura do telhado das casas.

Conforme foto abaixo, encaminhada à redação deste Diário, moradores de Porto Alegre organizaram outra manifestação para a quinta-feira (23), após a capital voltar a ser inundada.

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