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Mato Grosso do Sul

Paralisia de Sonia Guajajara força índios a retomarem ocupações

Abandonados pelo Ministério dos Povos Indígenas, a cada vez mais acirrada luta pela terra deve ser resolvida pela mobilização dos próprios índios

Na última terça-feira, dia 11 de julho, o programa “Programa de Índio” foi transmitido pelo canal “Lives da COTV”, abordando os intensos conflitos agrários em Douradina, no Sul do Mato Grosso do Sul. O episódio contou com a participação de Marcelo Batarce, Renato Farac, Roberto Alziro e Valderi Garcia, que trouxeram uma análise detalhada sobre a situação dos índios na região.

O apresentador Marcelo Batarce iniciou o programa destacando a intensificação dos conflitos agrários em Douradina nas últimas semanas, atribuindo essa escalada à falta de progresso na demarcação de terras por parte do governo e lamentando a falta de avanço, mencionando a expectativa de que o governo Lula pudesse resolver a questão, mas observando que “o conflito agrário aqui se intensificou,” destacando a frustração dos índios com a inação governamental.

Roberto Alziro, participando diretamente de Douradina, forneceu um relato em primeira mão sobre a difícil realidade enfrentada pelos guarani-caiouá na área de retomada. Ele compartilhou a longa história de luta pela demarcação de terras, mencionando que está na região há 14 anos sem respostas efetivas do governo, enfatizando a falta de progresso na demarcação de terras prometida.

O apresentador descreveu a extrema precariedade das condições de vida, mencionando que os índios estão ocupando apenas uma fração das terras a que têm direito, vivendo em condições insalubres sem acesso adequado a água potável ou infraestrutura básica. Alziro também destacou a persistência da luta por seus direitos como a terra, apesar das inúmeras dificuldades e da falta de apoio governamental.

Batarce e Renato discutiram a mobilização dos latifundiários e a postura firme da extrema direita em apoio aos fazendeiros, contrastando com a ambiguidade da esquerda, Batarce observando que “os latifundiários têm se organizado, têm se mexido, têm avançado,” destacando a falta de ação concreta por parte dos setores que deveriam apoiar os índios. Renato Farac acrescentou que a direita está se mobilizando com uma clareza de propósito que a esquerda parece carecer, criando uma situação onde os índios estão cada vez mais isolados e vulneráveis. A análise mostrou que, enquanto os latifundiários recebem apoio logístico e político significativo, os índios enfrentam uma luta desigual, sem os mesmos recursos ou suporte institucional.

Ameaças e retaliações

Os participantes comentaram sobre as ameaças e agressões sofridas pelos índios, incluindo a tortura psicológica e física por parte dos fazendeiros. Renato Farac criticou a inação das autoridades e da esquerda, sugerindo uma mobilização mais ativa para proteger os direitos da comunidade, afirmando: “É uma esquerda bunda mole, eu acho que é bem, falo aqui claramente,” destacando a necessidade de ações concretas. Ele chamou atenção para a necessidade de solidariedade ativa, como o envio de caravanas de apoio de outras regiões para garantir a segurança dos guarani-caiouá em Douradina.

Renato mencionou episódios específicos de violência, incluindo ameaças com armas de fogo e ataques físicos, como um caso em que um índio foi baleado na perna por um fazendeiro. Essas ações visam intimidar e desalojar os índios de suas terras, e a presença de pistoleiros contratados pelos latifundiários intensifica ainda mais o clima de medo e insegurança. Roberto também relatou a destruição de barracos e a perda de pertences básicos, destacando a vulnerabilidade das crianças e idosos nessa situação.

Desigualdade e omissão do governo

Valderi Garcia trouxe uma perspectiva sobre a desigualdade sistêmica e a omissão das autoridades em proteger os direitos de todos os povos camponeses do Brasil. Ele ressaltou a dependência das instituições públicas do financiamento dos latifundiários, em detrimento das necessidades dos índios. “E nós, como indígenas, nós já estamos acostumados a viver sem dinheiro,” afirmou Valderi, criticando a corrupção e a desvantagem dos índios em comparação com os latifundiários, que têm recursos para influenciar as políticas e garantir proteção estatal.

Valderi detalhou como os recursos e o apoio logístico são concentrados nas mãos dos latifundiários, enquanto os índios são deixados à margem, sem acesso a serviços básicos ou proteção legal adequada. Ele criticou a omissão do Ministério dos Povos Indígenas e outras autoridades governamentais, que permanecem inertes diante das injustiças sofridas. A falta de intervenção do governo e das instituições jurídicas tem perpetuado a desigualdade e permitido que os latifundiários continuem suas atividades com impunidade.

Chamado à ação

O programa concluiu com um apelo à esquerda e aos apoiadores dos direitos dos guarani-caiouá para que se posicionem claramente contra os latifundiários. Marcelo Batarce enfatizou a importância de não participar de negociações que resultem na perda de direitos, dizendo “A negociação deles é para perder direitos dos índios,” e convocando uma mobilização mais efetiva. Ele insistiu na necessidade de uma posição clara e forte da esquerda em apoio aos índios, sem ceder às pressões dos latifundiários.

Os apresentadores sugeriram ações concretas, incluindo a organização de caravanas de apoio e a mobilização de recursos para garantir a presença constante de aliados nas áreas de conflito. Eles destacaram a importância de expor as opressões sofridas, pressionar o governos e as instituições públicas para a conquista de direitos, o que depende fundamentalmente da mobilização, essencial para resistir à violência e à opressão dos latifundiários.

Para ver a discussão na íntegra veja o vídeo:

Direito não se negocia. Conflitos no MS se intensificam. - Programa de Índio nº 166 - 23/7/24

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