Chamado de “puleiro de tucano” pelo petista José Dirceu, o programa Roda Viva da TV Cultura entrevistou o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) no último dia 20, entrevista que, naturalmente, teve a catástrofe no estado do Rio Grande do Sul como tema central. À frente do Palácio Piratini (sede do governo estadual) desde 2018, Leite defendeu que seu governo empreendeu esforços para mitigar impactos das mudanças climáticas, mas destacou que o Rio Grande do Sul encarou um volume de chuvas “absurdamente grande e fora de proporção”, fenômeno que teria atuado junco com as “condições limitadas” de investimentos, oriundos de “crises antigas”, para a situação catastrófica vivida, em que pelo menos 161 pessoas morreram e mais de 581 mil estão desabrigadas devido às enchentes. Os jornalistas, no entanto, pouparam Leite de questionamentos sobre o sistema de prevenção de alagamento.
Como demonstrado pelo portal burguês Poder360, esse sistema (localizado em Porto Alegre), conta com “14 comportas (grandes portas de aço) e 23 bombas de sucção de água” (“Roda Viva não pergunta a Leite sobre motores roubados de comportas”, 21/5/20024), o que permitem à capital gaúcha resistir a cheias de até 6 metros acima do nível do mar. Ocorre que segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a cheia do rio Guaíba atingiu em seu momento mais dramático elevação de 5,33 metros nos dias 5 e 6 de maio ( “Nível do Guaíba supera o da cheia histórica de 1941 pela segunda vez; lago subiu 14 cm em 4 horas”, g1, 13/5/2024), ou seja, ainda que possa ser verdadeira a afirmação de que a enchente este ano foi maior do que a histórica de 1941, é mentira que o sistema construído nos anos 1970 não conseguiria absorver a cheia atual do Guaíba e impedir a catástrofe.
A imagem abaixo produzida pelo Poder360, ilustra o funcionamento desse sistema, organizado para impedir novas enchentes, mas que completamente abandonado por Leite e os governadores que o antecederam, nada pode fazer contra uma cheia inferior à capacidade de atuação que teria, se estivesse funcionando.
O portal Poder360 acrescenta ainda três perguntas que poderiam dar outro rumo à entrevista, se a preocupação dos jornalistas fosse, de fato, informar:
“Nenhum dos entrevistadores do Roda Viva fez 3 perguntas diretas ao governador:
- ‘por que o seu governo não reparou as comportas que estavam sem motores nem modernizou o sistema de fechamento das portas de aço para evitar vazamentos?’;
- ‘por que seu governo não preparou as 19 bombas de sucção que ajudam a devolver ao Guaíba águas das chuvas para suportar grandes enchentes como esta?’;
- ‘o senhor sempre diz que há recursos escassos, mas quanto teriam custado esses reparos se tivessem sido feitos depois das enchentes de 2023?’”
Com os jornalistas da bancada do programa concentrando suas perguntas sobre leis ambientais inócuas para as enchentes no estado, Leite conseguiu se safar com um mea culpa insosso, dizendo-se “humano” e “falível”, mas afastando qualquer responsabilidade concreta pela calamidade no RS. “Nós somos humanos, somos falíveis. Não tenho nenhuma pretensão de ser ‘mito’ nem salvador da pátria. Mas não erramos pela negligência, pela omissão e pelo negacionismo”, disse, recorrendo ainda ao termo “negacionismo”, tornado uma moda pela pequena burguesia e que tem sido usado para aproximar verdadeiros vampiros direitistas da esquerda.
Os entrevistadores do Roda Viva, entretanto, ignoraram perguntas de muito mais relevância para a compreensão da tragédia como a situação das comportas e de bombas de sucção afetadas pela deterioração, por falta de manutenção e até motores roubados, e nunca repostos pelo homem que há seis anos ocupa o Palácio Piratini. Tais indagações, se feitas, naturalmente exporiam o caráter criminoso da política governador e de seu partido, os principais responsáveis pela catástrofe que segue castigando o Rio Grande do Sul. Os venais jornalistas da bancada do programa da TV Cultura, entretanto, optaram por perguntas, por exemplo, sobre a intervenção “moderada” do governo federal no estado destruído pela política neoliberal, capitaneado pelo ministro Paulo Pimenta (virtual candidato petista ao governo gaúcho em 2026), no que abriram as portas para uma política de boa vizinhança de Leite com o PT.
“Eu não vou fazer disputa política. A gente tem que superar esse momento de polarização, especialmente em um momento de dor. Enxergo o ministro Pimenta não só como alguém do governo federal aqui, mas como um gaúcho que está lá para poder viabilizar as receitas que o estado vai precisar para a reconstrução”, respondeu o governador, ao ser questionado sobre a intervenção.
Fica evidente que o programa da TV Cultura (canal do governo do Estado de São Paulo), não tinha outro interesse além de promover um palanque para Eduardo Leite, sem outro objetivo além de melhorar a imagem deste criminoso, que ao contrário do que disse (sem ser rebatido por ninguém no programa), é sim responsável por negligência e omissão contra o povo gaúcho, pelos mais de meio milhão de desabrigados e pelas dezenas de mortos, cuja contagem permanece subindo, evidenciando que ainda hoje, nada está sendo feito pelo “Bolsogay” do PSDB.