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Oriente Médio

Para que caluniar o Hesbolá durante sua guerra contra ‘Israel’?

Corrente do PSOL traduz artigo recheado de ataques baixos à resistência libanesa

No artigo Por que o Hezbollah ainda está de pé, apesar de Israel ter assassinado Hassan Nasrallah?, publicada originalmente no jornal The New Arab e traduzida no dia 10 de outubro pelo portal Esquerda Online, Joseph Daher se dedica a caluniar o partido libanês Hesbolá, no exato momento em que este enfrenta uma tentativa de invasão por parte do Estado terrorista de “Israel”.

Em primeiro lugar, Joseph Daher declara que há um “culto da personalidade” por parte do Hesbolá em torno do mártir Sayyed Hassan Nasseralá. Trata-se, evidentemente, de uma intriga contra o partido político. O argumento utilizado é, inclusive, um argumento típico da direita contra todos os movimentos revolucionários.

A única “prova” apresentada por Daher como sendo a cabal para se declarar que existe um culto da personalidade de Nasseralá é a seguinte: “Nas últimas décadas, um culto à personalidade se desenvolveu na propaganda do partido em torno de Hassan Nasseralá. Isso se refletiu notavelmente no rescaldo da guerra de Israel contra o Líbano em 2006, quando seu slogan inicial “Al-Nasr al-îlâhi” foi alterado para “Nasr (un) min Allah” que tinham a mesma significação (Uma Vitória de Deus), mas era uma instrumentalização do nome de Hassan Nasseralá. Isso fazia parte do culto da imagem do líder nas campanhas midiáticas do Partido”. Ou seja, segundo o autor do texto, todos os candidatos às eleições municipais de 2024 que se utilizaram de algum jingle ou trocadilho durante a pequeniníssima campanha eleitoral, têm um culto à personalidade para chamar de seu. O que diremos então do “Lula lá, brilha uma estrela” e do onipresente “Ey, ey, Eymael..”? Será o Brasil o país com o maior número de cultos à personalidade por habitante?

Não há nenhuma prova do culto, o que já deveria deixar o sítio Esquerda Online pelo menos com um pé atrás antes de traduzir o texto de Daher para o português.

Na sequência, o autor inicia uma outra calúnia, a de que o Hesbolá é um partido sem apoio. O que, provavelmente, nem mesmo Daher acredita, já que, no final do texto, ele mesmo diz que o partido é popular. No entanto, segundo o texto, o Hesbolá teria começado a perder o apoio justamente após o ano de 2006.

Para quem não sabe, 2006 é, simplesmente, o ano mais importante da história do Hesbolá até aqui, o ano em que o partido demonstrou ao mundo que “Israel” não conseguiria mais ocupar o sul do Líbano, já que, em mais uma etapa de massacres por parte de “Israel”, a entidade sionista invadiu o sul do país na tentativa de retomar o território do qual já havia sido expulso em 2000 pelo próprio Hesbolá, sofrendo uma derrota acachapante e tendo de se retirar rapidamente.

Ou seja, o autor atribui justamente ao ano mais revolucionário do Líbano até agora a sua ruína, algo que jamais aconteceria, a não ser para as pessoas com grande influência do imperialismo e que viram na derrota de “Israel” algo de negativo. Ou seja, a menos que você seja um defensor do sionismo, você jamais diria que em 2006 se inicia a derrocada da imagem de Nasseralá, principal líder do Hesbolá e uma das principais cabeças na defesa de seu país contra os israelenses.

A ideia é completamente absurda. Seria o mesmo de dizer que Che Guevara e Fidel Castro, assim como todo o Movimento 26 de Julho, perderam a popularidade após a Revolução Cubana, ou dizer que Lênin perdeu o apoio da população após a Revolução de Outubro.

Essa ideia, apesar de sem conexão alguma com a realidade, é mais um dos truques da direita para tentar diminuir o apoio da opinião pública mundial em relação aos movimentos de libertação. Não é algo novo e foi largamente utilizado contra o Hamas e os demais partidos palestinos que participaram do Dilúvio de Al-Aqsa no 7 de outubro do ano passado. Grande parte da esquerda, inclusive, caiu no conto de que “o Hamas não representa a totalidade do povo palestino”, ideia que levava a outra, a de que “Israel tem o direito de se defender e atacar o Hamas, mas não o restante dos palestinos”, postura completamente capituladora diante do imperialismo e que reforça a ideia de que “Israel” é a vítima. Apesar de ainda presente na esquerda, vide a fala de Lula em seu último discurso na ONU, grande parte da opinião pública já não aceita que “Israel” teria algum direito de defesa contra os palestinos, ou que o Hamas não é popular, ou que o Hamas não é popular por ter ousado levantar a cabeça diante de décadas de ocupação colonial. Agora, no exato momento em que “Israel” começa a fazer com o Líbano o mesmo que fez com toda a Palestina, surgem novamente as vozes defensoras dos sionistas para dizer que o Hesbolá não é popular no Líbano.

O texto também tenta passar a ideia de que o Hesbolá é opressor para com seu próprio povo, promovendo perseguições políticas contra pessoas que divergem de opinião, além da acusação de que o partido seria neoliberal e agiria para manter o status quo. Porém, em entrevista ao programa Plantão Palestina da COTV (entrevista que pode ser vista aqui) ainda em julho, o especialista no Líbano, Assad Frangieh, mostra como as acusações do autor são absurdas.

Assad diz que a burguesia libanesa, herança do colonialismo imperialista na região, criou no país um paraíso fiscal, no qual especuladores do mundo todo colocavam dinheiro com taxas de rentabilidade acima de 100% em pouquíssimo tempo, o que lhes garantia sacar muito dinheiro do país sem ter realizado nenhum investimento real, enquanto a população se empobrecia com tantas divisas indo para o estrangeiro. Assad nos conta, inclusive, que, em algumas situações, a população local que tinha dinheiro nos bancos era impedida de o sacar, já que seu dinheiro já havia saído do país para as mãos de algum especulador internacional.

Não é preciso nem dizer que essa situação era apoiada pela ocupação sionista, o que por si só já demonstraria como o Hesbolá não é neoliberal. No entanto, o partido possui um banco próprio, com juros 0 e utilizado principalmente para ajudar a reconstruir a vida das pessoas que perderam tudo na sua luta contra “Israel”. O Frangieh nos conta o caso de mulheres que perderam seus maridos na guerra de 2006 e que, posteriormente, receberam auxílio do banco do Hesbolá para que pudessem refazer suas vidas. Nada mais contra o neoliberalismo do que isso.

No que diz respeito à repressão, é preciso lembrar que o Líbano, para quem ainda não percebeu, fica colado ao norte da Palestina ocupada, conhecida por “Israel”. Se é possível para “Israel” controlar a Polícia Federal e o judiciário no Brasil, um país que, diferentement do Líbano, nunca esteve em guerra contra “Israel”, além de se encontrar do outor lado do mundo, não é possível para “Israel” colocar pessoas infiltradas dentro do Líbano? Convidamos o leitor a procurar por vídeos atuais que circulam no X em que a população libanesa prende pessoas e as acusa de serem espiões do Mossad, agência de inteligência sionista. Não dá para tratar como besteira, como prega o texto, a ideia de que haja a tentativa de desestabilizar o Líbano por parte do imperialismo e de “Israel”.

Frangieh também desmente a ideia de que o Hesbolá não teria popularidade no Líbano, declarando que o partido e seus aliados controlam cerca de 30% do Líbano, sobretudo no sul do país.

Ainda seguindo as inúmeras calúnias contra o partido no texto traduzido pelo Esquerda Online, o autor ainda diz que o Hesbolá agiu ao lado do “ditador e sanguinário regime de Bashar Al-Assad contra os rebeldes que lutam pela liberdade na Síria”. Aqui, no entanto, a calúnia não cai diretamente sobre o Hesbolá, já que, de fato, o partido atuou ao lado de Assad, mas sim, cai sobre o próprio Assad e sobre a população Síria. Isso porque, em primeiro lugar, Daher se refere à Síria como dona de um regime sanguinário, algo que não faz em nenhum momento com “Israel”, que destruiu a Palestina completamente e agora invade o Líbano, além de já ter bombardeado recentemente o Iêmen e a própria Síria.

Desde 2011 a Síria passa por uma guerra civil mantida pelo imperialismo, que, além de destruir o país, sua economia, matar uma parte considerável de sua população e destruir obras com valor incalculável para a cultura humana, prega a derrubada do governo de Bashar Al-Assad. Não se trata de uma ditadura, como tenta pregar o texto, mas se trata de um país oprimido pelo imperialismo, que, na mesma época em que iniciou a destruição da Síria, destruiu completamente a Líbia, que passou de ser o país com o maior IDH da África para um país rota de tráfico de seres humanos. O engraçado é que Daher não se importa com o tráfico de pessoas na Líbia, mas prega o fim do governo de Assad na Síria.

Se a Síria não seguiu o mesmo caminho da Líbia, é em grande medida por conta da ajuda da Rússia, da luta da própria população do país e, é claro, por causa da ajuda do Hesbolá, que se tornou não só importante para o povo libanês, mas também para todo o Oriente Médio após sua contribuição com os vizinhos sírios.

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