Na madrugada da última terça-feira (19), a Rússia foi alvo de um ataque com seis mísseis balísticos ATACMS, de fabricação norte-americana, disparados pela Ucrânia. Segundo o Ministério da Defesa russo, cinco dos mísseis foram interceptados por sistemas de defesa antiaérea, mas um conseguiu atingir uma instalação militar na região de Briansk, na fronteira entre os dois países.
O impacto resultou em um incêndio controlado rapidamente, sem registro de mortes ou feridos. A Rússia afirma que o uso destas armas marca uma nova escalada no conflito, enquanto a Ucrânia, embora não confirme oficialmente o ataque, admite a posse do arsenal fornecido pelos Estados Unidos. Atualmente, Kieve possui cerca de 50 desses mísseis, com uma produção anual estimada em 500 unidades pelas potências imperialistas que os forneceram ao regime nazista ucraniano.
O ataque em questão foi classificado pelo Crêmlin como uma provocação direta do imperialismo, especialmente dos Estados Unidos, que, dois dias antes, autorizaram a Ucrânia a utilizar essas armas em território russo. A Rússia prometeu responder à altura, sinalizando que o conflito pode entrar em uma nova fase.
O ATACMS (Army Tactical Missile System) é um míssil balístico de curto alcance desenvolvido pela empresa norte-americana Lockheed Martin nos anos 1980, originalmente projetado para destruir alvos soviéticos. A versão enviada à Ucrânia possui alcance de até 300 quilômetros e uma ogiva de 170 quilos de explosivos, podendo ser disparado de plataformas móveis como os sistemas HIMARS, amplamente utilizados pelos ucranianos. Com velocidades superiores a 3.700 km/h, o ATACMS é capaz de atingir alvos com alta precisão, o que o torna uma arma relevante em batalhas que exigem ataques a longa distância.
Os ATACMS já foram utilizados em ataques dos EUA, como na Guerra do Golfo e na invasão do Iraque. O presidente russo Vladimir Putin alertou que o uso desses mísseis pode transformar a guerra na Ucrânia em um confronto direto entre a Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Já em seus últimos meses de governo, o presidente Joe Biden, que antes hesitava em liberar o armamento temendo provocar um choque direto da OTAN contra o gigante eslavo, agora endossa uma posição mais belicosa.
Do lado russo, as declarações foram categóricas. O ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, concedeu uma entrevista coletiva ainda na cidade do Rio de Janeiro, onde participava da 19ª Cúpula do G20 na condição de representante do governo russo e afirmou que “o uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia equivale a uma operação conduzida por especialistas militares dos EUA, marcando uma nova fase da guerra do Ocidente contra a Rússia”. Putin, por sua vez, assinou um decreto ampliando as condições para o uso de armas nucleares, deixando claro que ataques desse tipo podem ser considerados uma ameaça existencial à soberania russa.
Já na Ucrânia, o ditador Vladimir Zelenski mantém a postura de não confirmar nem negar o ataque, mas ressalta a importância estratégica de tais armas no fortalecimento de sua campanha militar. Zelenski tem insistido que o uso dos ATACMS é essencial para o avanço ucraniano, ao mesmo tempo que tenta tranquilizar a comunidade internacional sobre os alvos selecionados.
Resposta russa
Durante a última edição do programa Análise da 3ª, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), comentou sobre a guerra na Ucrânia e sobre esta nova ofensiva do imperialismo contra a Rússia. Leia o que foi dito por Pimenta:
“Vamos observar e segurar a respiração para ver o que acontece. Acho que os russos vão reagir; é difícil prever qual será o tipo de reação, mas acredito que será dura. Pode ser que os russos decidam atacar alguma base da OTAN nas imediações. A Rússia está completamente cercada por bases da OTAN, com exceção da Ucrânia, que oficialmente não abriga bases da organização. Estamos diante do imponderável.
Joe Biden está prestes a deixar o governo e ordenou atacar a Rússia dessa maneira antes de sua saída. A grande dúvida é a seguinte: ele está buscando algum resultado relacionado à política interna ou à política externa? Não é muito fácil entender onde ele quer chegar com isso. Não sei se ele quer provocar uma reação dos russos que leve a uma declaração de guerra da OTAN contra a Rússia, ou se deseja causar um impacto antes da posse de Donald Trump, dificultando qualquer negociação que Trump possa querer fazer com os russos.
Numa hipótese mais remota e extremada, isso poderia até ser parte de uma política para impedir a posse de Donald Trump. Acho essa possibilidade um pouco longínqua, mas ela existe. Não sabemos exatamente qual é o plano. Não parece ser uma política militar convencional, mas uma provocação contra os russos. Agora, o que essa provocação pretende alcançar, isso ainda não está muito claro.
Se os russos não reagirem, eles ficarão desmoralizados, evidentemente. Se reagirem, isso pode levar a uma ampliação do conflito. Acho também que, neste momento – não que seja impossível, porque a OTAN, enquanto organização militar, representa sempre uma ameaça –, é difícil que a OTAN queira entrar no conflito a partir de uma reação dos russos, e não de sua própria iniciativa. Isso geraria uma crise incalculável. Acho que, neste momento, não parece ser esse o objetivo, e talvez eles não estejam preparados. Até porque a vitória de Trump pode dificultar essa escalada; Trump tenderia a colocar um paradeiro nisso.
Portanto, é difícil entender exatamente o que está acontecendo. A guerra na Ucrânia já teve vários episódios de pura publicidade, como no caso da invasão da região de Kursk, na Rússia.”