De acordo com recente pesquisa, 70% dos moradores de São Paulo (SP) afirmam que a responsabilidade dos apagões de energia elétrica na cidade é de responsabilidade da ENEL, a multinacional italiana que comprou, a preço de banana, a antiga estatal Eletropaulo.
A mesma pesquisa apontou que 71% dos paulistanos acreditam que o contrato da concessionária deveria ser cancelado e para outros 51% dos entrevistados, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) é muito responsável pelos apagões.
A realidade demonstrada pela pesquisa é que a população acredita que a privatização foi a responsável pelos apagões que a cidade vem sofrendo, o que é um raciocínio natural, tendo em vista que durante a gestão estatal da Eletropaulo, embora houvesse problemas, nada chegava perto da magnitude do desastre causado pela ENEL no período recente.
Além do próprio apagão, a demora para resolver os problemas foi outra questão apontada pelos entrevistados. Ela foi considerada péssima para 70% dos entrevistados, especialmente diante do fato de que, quando da redação deste artigo, mais de 80 mil residências estavam sem luz, muitas delas desde as chuvas de duas semanas atrás.
A empresa se especializou em enrolação e já se adianta, em seus comunicados, em avisar que irá faltar luz em determinadas residências. Mesmo havendo a previsão de chuvas, a empresa não faz absolutamente nada e só avisa o consumidor para se preparar, com o famoso e-mail macabro:
“ALERTA DE CHUVA
Olá,
Fortes chuvas e rajadas de vento estão previstas para os próximos dias. Continuamos atuando com reforço de equipes em campo e em nossos canais de atendimento.
Caso precise falar conosco, priorize nossos canais de atendimento digitais”
Ou seja, a empresa já sabe que vai chover, já sabe que vai faltar luz e já sabe que não vai resolver. Além do mais, esses canais digitais são um verdadeiro deboche contra os usuários do sistema, pois não funcionam de jeito nenhum.
Cinicamente, como toda empresa do porte da ENEL, ela afirma que a companhia mobiliza “todos os esforços e recursos para restabelecer o fornecimento.” Mas que esforços e recursos são estes?
De abril deste ano até a presente data, a ENEL demitiu mais de 230 de seus funcionários, segundo o sindicato da categoria (Eletricitários), muitos dos quais trabalhavam justamente na área de reestabelecimento da energia elétrica em caso de quedas. Fora o fato de que dessas 230 pessoas demitidas várias tinham restrições médicas em razão do excesso de serviço, ou seja, em razão da falta de funcionários.
Para se ter uma ideia do resultado prático de uma privatização, em 2019, a empresa tinha 23.835 funcionários registrados, entre próprios e terceirizados que vinham da Eletropaulo. Já em 30 de setembro de 2023, eram somente 15.366 trabalhadores para atender uma demanda que só cresce.
A Eletropaulo era uma empresa estatal de São Paulo, criada em 1981, durante o governo dos militares de Paulo Maluf. No final da década de 90, o então governador Mario Covas (PSDB) dividiu a Eletropaulo e a privatizou, seguindo a política privatista de Fernando Henrique Cardoso.
A participação do atual vice-presidente Geraldo Alckmin neste processo foi fundamental. Em 1998, quando da efetiva venda da empresa para a iniciativa privada, Alckmin era vice-governador de São Paulo, pelo PSDB, e coordenador do famigerado plano estadual de desestatização. Já em 2018, a italiana Enel comprou ações da Eletropaulo que ainda pertenciam à União e assumiu o controle da empresa.
Diante disso tudo, a imprensa acoberta a causa fundamental do apagão de São Paulo, que é a privatização, e, por outro lado, a ENEL, vampira internacional, se passa por sofrida e guerreira na tentativa de reestabelecer a luz dos imóveis. Em um dos últimos comunicados, a empresa afirmou que “técnicos da companhia precisaram reconstruir em poucos dias quilômetros de rede, atuar em 1.500 ocorrências envolvendo vegetação, além de substituir mais de 250 postes e 100 transformadores.”
Faz mais de 200 mil anos que o homem lida com a chuva, mas uma empresa privatizada, em pleno 2024, aponta dificuldades para fornecer energia e acusa o clima e as árvores dos problemas de falta de luz em São Paulo. Tudo isso para não falar que não liga a mínima para a falta de luz da população, enquanto as receitas bilionárias continuam chegando para os bolsos de seus donos.
As alternativas apresentadas pela empresa e pelos próprios governos não passam de uma ilusão. A política correta a ser defendida é a de acabar com a concessão da ENEL e devolver a Eletropaulo para o povo brasileiro, reestatizar completamente a empresa, colocá-la sob controle total dos eletricitários, e acabar com o desastre promovido pelo PSDB e seus amigos vampiros internacionais.