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Gabriel Araújo

Dirigente Nacional do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, Editor da Tribuna do Movimento e do Boletim do Movimento. Militante do Partido dos Trabalhadores e colunista do Voz Operária-Rio de Janeiro.

Coluna

Pânico europeu

"Cada vez mais o regime político instituído na Europa tal qual o conhecemos aprofunda seu processo de desagregação e desintegração"

No dia 24 de novembro de 2024 me deparei com uma notícia que já não é tão surpreendente para os analistas políticos, mas que é de relevante registro histórico para a composição de um quadro político que exponha o processo de alteração na qualidade da situação em que se encontra o sistema capitalista e, portanto, demonstre as tendências políticas de maior capacidade de condução da sociedade em que nos encontramos.

Essa notícia foi divulgada em um dos principais órgãos de propaganda do imperialismo e do conjunto do sistema financeiro internacional, a revista britânica The Economist, com o título “A toda poderosa Alemanha agora está desesperada”.

Esse título poderia muito tranquilamente ser expandido para Os todos poderosos neoliberais do continente europeu estão desesperados. Mas a Alemanha de fato representa de forma muito bem ilustrada aquilo que é uma tendência política profundamente evidente nos demais países do continente, mas que se verifica em diversos países do mundo.

O país vem de anos com sucessivos resultados medíocres do crescimento do seu PIB nos últimos anos e que desembocaram em resultados mais atuais completamente desastrosos. Em 2023 amargou uma contração de -0,3% e espera-se que feche o ano de 2024, segundo o próprio Ministério da Economia Alemão, na casa de -0,2%.

Toda essa situação caótica, provocou a desintegração do governo do social-democrata, Olaf Scholz, obrigando-o a convocar de maneira antecipada novas eleições, onde muito provavelmente sairá derrotado.

A Alemanha enfrenta um processo de desindustrialização seguido de uma escassez energética, tendo no horizonte muito próximo o protecionismo norte-americano com a elevação das tarifas de importação e a concorrência chinesa em outras localidades ou mesmo no próprio mercado interno do país asiático, conforme destacou o artigo do The Economist.

Uma situação aproximada se verifica em vários países: na França, que teve um crescimento de 0,8% em 2023 e que a Comissão Europeia espera que seja para 2024 na casa de 1,1%; no Reino Unido, que cresceu 0,3% em 2023 e no ano de 2024 espera-se que cresça 1,1%, segundo a OCDE e o FMI; na Itália, segundo o FMI, é esperado o mesmo percentual de crescimento do ano de 2023 para 2024, 0,7%.

A Rússia, que tem enfrentado todos esses países da OTAN em território ucraniano, de acordo com o FMI, tem o crescimento do PIB estimado em 3,6%. Dos grandes países do continente europeu, somente a Espanha se aproxima desse percentual, com a perspectiva de crescimento na casa de 3%, segundo a Comissão Europeia.

A sustentação do regime político ucraniano para que faça uma guerra por procuração contra a Rússia tem causado um enorme descontentamento popular nos países europeus, pois a população não engole o fato de ter que financiar uma guerra que para eles não tem o menor sentido e que apenas tem causado prejuízos, desestabilidade inflacionária, crescimento da dívida pública, escassez e elevação dos preços de insumos e principalmente da energia.

Para se ter noção, o percentual da dívida pública dos principais países da Europa com relação ao PIB se encontra na seguinte situação: Itália (134,8%); França (109,9%); Espanha (105,5%); Reino Unido (99,97%) e Alemanha (62,9%).

Sobre a Alemanha, podemos nos questionar: a manutenção do percentual da dívida pública com relação ao PIB nesse patamar ocorre sob qual custo?

Tudo isso tem levado a contração e estagnação econômica, somada a implementação de anos de uma política neoliberal de retirada de direitos sociais dos trabalhadores.

França e Reino Unido tiveram que convocar eleições parlamentares também de forma antecipada pela própria desagregação e impopularidade de seus governantes. Mesmo após passarem por esse processo, a impopularidade de suas medidas de destruição das condições econômicas de sobrevivência dos trabalhadores perdura, se encontram na corda bamba e apenas ganharam um curto período de tempo com a manobra das eleições.

Cada vez mais o regime político instituído na Europa tal qual o conhecemos aprofunda seu processo de desagregação e desintegração, ficando cada vez mais difícil manobras que garantam sua salvação com prazos maiores.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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