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Dilúvio de Al-Aqsa

Os ‘revolucionários’ anti-Hamas e as ideias que envelheceram mal

Dedicar-se a criticar a ideologia de um grupo no calor de uma marcha revolucionária mostra que para um setor da esquerda, a revolução não é algo além de uma idealização romântica

O primeiro aniversário da Revolução Palestina iniciada no dia 7 de outubro de 2023 demonstrou quão errados estavam os setores da esquerda que de início, posicionaram-se contra o principal partido da Resistência Palestina: o Movimento Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe). Incapacitados de colocarem-se abertamente contra a Resistência, dedicaram-se a atacar sua direção, como expressou de maneira mais clara o PSTU, em editorial publicado no órgão Opinião Socialista de 12 de outubro, no qual diz: 

“Condenar a resistência palestina é similar a questionar a luta negra; seja na época do apartheid, na África do Sul; seja nos EUA, durante a segregação racial institucionalizada. É uma reação justa, embora tenha sido dirigida pelo Hamas, organização com a qual temos enormes diferenças, porque é uma direção burguesa, ligada ao fundamentalismo islâmico, e que, em última instância, não consegue levar a luta pela libertação da Palestina até o final.”

Tratava-se de uma manobra para tentar manter as boas relações com as bases da esquerda, totalmente simpáticas à luta do povo palestino, e o imperialismo, que sustenta a ditadura sionista de “Israel”. Importante destacar, porém, como envelheceu mal a suposição de que o Hamas seria incapaz de “levar a luta pela libertação da Palestina até o final”. O motivo para o posicionamento completamente desorientado pelo PSTU não é outra coisa, mas resultado do desdém da agremiação morenista com a luta de classes, um princípio marxista simples, mas que muitas organizações ditas seguidoras do socialismo científico pecam ao aplicar, como fica evidente em outro artigo de Opinião Socialista, assinado por Eduardo Almeida e intitulado Revolução permanente e guerra na Palestina, de 9 de novembro do mesmo ano, destacando que “o programa do Hamas tampouco aponta no sentido do processo revolucionário”:

“O Hamas, a mais importante direção de massas palestina hoje, se opõe a Israel e ocupa um local central nesse enfrentamento. O Hamas ganhou as eleições no território palestino em 2006, o que não foi aceito por Israel, dirige Gaza até esse momento e está enfrentando militarmente o genocídio israelense. Mas o programa do Hamas, como veremos, tampouco aponta no sentido do processo revolucionário.”

Ora, como? A ação liderada pelo Hamas colocou o mundo de ponta cabeça, atingiu o imperialismo no aspecto político e econômico, mas não tem um programa que “aponta no sentido do processo revolucionário”? Imagina se tivesse?

Pode escapar aos diletantes morenistas, mas uma batalha da envergadura da enfrentada pelos partidos que compõe a Resistência Palestina jamais seria travada sem a base de um programa de revolucionária que o motivasse.

Se no 7 de Outubro a tese de Almeida parecia um tanto exótica, o sucesso com que o Hamas e demais partidos da Resistência sustentaram a luta um ano depois, mesmo contra a campanha genocida empreendida por “Israel” e o imperialismo para refrear o ímpeto revolucionário da vanguarda palestina. Não contente, Almeida continua:

“É necessário construir uma nova direção para todo esse processo. Defendemos a mais ampla unidade de ação com o Hamas, a direção palestina mais respeitada nesse momento. Mas a estratégia do Hamas inclui suas alianças com as burguesias regionais dos governos que se opõem à extensão da revolução, como o ‘Eixo de Resistência’, e não a mobilização independente das massas inclusive, contra os governos do Irã, Síria e Líbano.”

Baseando-se sabe deus em que, o PSTU decidiu que o Eixo da Resistência, criado para espalhar a Revolução Iraniana de 1979 pelo Oriente Médio, não é uma organização revolucionária o bastante para o gosto dos morenistas, portanto, no meio da ação revolucionária e desencadeadora da maior crise do imperialismo desde a Segunda Grande Guerra, a política revolucionária seria opor ao Hamas uma “mobilização independente das massas”, tendo ainda o trabalho de acrescentar: “contra os governos do Irã, Síria e Líbano”. Trata-se de uma loucura.

O PSTU não se deu ao trabalho de explicar concretamente porque “os governos do Irã, Síria e Líbano” deveriam ser atacados no momento em que estes enfrentam o imperialismo.

Um ano depois, “Israel” tentou arrastar todos os países citados para o conflito, uma vez que não conseguiu sustentar uma ocupação em Gaza e se vê na iminência de perder o controle também da Cisjordânia. A coincidência entre a posição defendida pelo PSTU com a ação da ditadura sionista é tamanha que neste novo cenário, um ano após a ousada ação revolucionária liderada pelo Hamas, os morenistas deveriam explicar se afinal, “Israel” é que detém o programa revolucionário do agrado dos ditos trotskistas.

“A estratégia do Hamas segue sendo um Estado teocrático, com seu peso repressivo em relação às mulheres e LGBTQ, e sua postura divisionista religiosa. Trata-se de um programa distinto do nosso, que defendemos uma ‘Palestina laica, democrática e não racista’.

Por último, o Hamas não tem um programa revolucionário socialista, mas desenvolvimentista burguês.  Isso reproduz a dinâmica desse tipo de movimentos que, ao chegar aos governos, levam ao desenvolvimento de uma nova burguesia, como já se deu no Irã, no Egito, Síria, etc. Tampouco leva à ruptura com os imperialismos.”

A conclusão do artigo de Almeida é outro parágrafo de “poréns” que evidenciam o quão longe da verdadeira revolução estão os morenistas e quão perto do imperialismo realmente estão, não pelo que dizem, mas por como se posicionam. Dedicar-se a criticar a ideologia de um grupo no calor de uma marcha revolucionária e pior, com base em achismos toscos e suposições ainda mais descabeçadas demonstra que o PSTU perdeu completamente o sentido enquanto partido revolucionário, não sendo mais do que um grupo decadente, que só fala de socialismo para usá-lo como instrumento de malabarismos retóricos dedicados a atacar os verdadeiros revolucionários. “Tampouco leva à ruptura com os imperialismo”, disse o esclarecido autor. Claro, o PSTU, com sua política em defesa da ditadura sionista é que fará o serviço. Nada como um ano após o outro.

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