O órgão do MRT Esquerda Diário publicou no último dia 14, um artigo intitulado Golpista Braga Netto é preso com privilégios militares e ficará sob custódia do exército, trazendo a tese de que “nenhuma confiança nas instituições do regime político no enfrentamento à extrema direita golpista”. A princípio, uma colocação muito positiva se levada a sério pelos esquerdistas, o que não acontece na prática, como evidenciado pelo restante do texto. O artigo entra em contradição com a própria linha que propõe, ao defender a política do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Polícia Federal (PF) contra setores da extrema direita.
No centro da argumentação do MRT, destaca-se a prisão do general Braga Netto. O texto afirma que “foi preso pela Polícia Federal (…) por sua participação nas conspirações golpistas em 2022, obstrução de justiça e outras questões”, o que já é um problema em si, uma vez que a prisão do general se deu por conta de outro processo, sem nenhuma relação com a suposta conspiração golpista de 2022 alardeada pela PF e pela imprensa. De cara, a submissão política do MRT à agitação do imperialismo e de seus instrumentos de pressão ficam expostos na simples celebração do MRT, mas a coisa piora.
Sem atenção ao que está escrevendo, Esquerda Diário lembra que “o judiciário avalizou o golpe institucional de 2016, sustentou a volta dos militares ao centro da política nacional e sustenta as reformas antipopulares”. Curiosamente, porém, o artigo simplesmente ignora o que acabou de colocar, isto é, que o Judiciário de conjunto é uma instituição com uma orientação política definida, para se colocar no papel de correia de transmissão do STF, dizendo expressamente que a esquerda deve “construir uma luta para impor punição a todos os militares e civis que tramaram as ações golpistas”.
Malandro, o órgão continua falando “sem nenhuma confiança no judiciário”, mas não passam de palavras vazias, uma vez que, objetivamente, o que Esquerda Diário defende uma frente única entre a esquerda e o imperialismo, por meio do STF e da PF, as instituições do Estado que estão à frente da campanha por “punição a todos os militares que tramaram ações golpistas”. O próprio MRT reconhece esse fenômeno no mesmo artigo: “com a paralisia do movimento de massas (…) são as instituições do regime político como o judiciário, que assumem o ‘protagonismo’” do que defendem os esquerdistas pequeno-burgueses.
Em outro trecho, o texto aborda que “o fato de ser a primeira vez na história das Forças Armadas que um general quatro estrelas é preso, em si mesmo, é um símbolo da impunidade histórica que tem os militares no país”, levando uma pessoa normal a se questionar quem de fato orienta o MRT, Marx ou “Xandão”. Trata-se, naturalmente, de um elogio ao STF e, com isso, de uma contradição em termos com “nenhuma confiança no Judiciário”.
Levada a sério, a orientação “nenhuma confiança no Judiciário” levaria um observador atento a antes de celebrar uma prisão, ocorrida em uma campanha que tem o judiciário de um lado e os bolsonaristas de outro, a analisar o fundamento social da disputa. Inevitavelmente, a pessoa seria forçada a lembrar que o Judiciário foi o poder usado pelo imperialismo para impor um regime golpista ao País, logo, se pela “primeira vez na história das Forças Armadas um general de quatro estrelas é preso”, o que temos não é uma luta pela moralidade ou pela democracia, mas uma continuação do processo iniciado na década passada, e visando o mesmo grupo de interesses que derrubou a presidenta Dilma Rousseff.
Inacreditavelmente, Esquerda Diário apaga de sua análise as questões mais elementares a que todo marxista se debruçaria ao se deparar com um fenômeno, para sair-se com apaixonados elogios ao mesmo órgão que disseram não ser digno de confiança. Se o MRT realmente acreditasse que não se pode confiar nas instituições do regime, deveria construir uma política que não dependa delas em nenhuma medida.
Em vez disso, ao dar aval às ações do STF contra a extrema direita, o grupo contribui para perpetuar a ilusão de que as instituições burguesas podem ser ferramentas para a transformação social. Finalmente, ao fazê-lo, mostra ser tão capitulador quanto o governo que se presta a denunciar. Por trás de toda a retórica pseudorrevolucionária, o MRT se mostra politicamente preso aos piores inimigos dos povos oprimidos: o imperialismo.