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Síria

Os ‘internacionalistas’ que o sionismo adora

Ditos trotskistas pequeno-burgueses assumem posição confusa, apoiando queda do regime sírio e assim, a política imperialista que dizem combater

A recente queda do regime sírio, que tinha à frente Bashar al Assad, trouxe muita confusão ao posicionamento dos diferentes grupos políticos da esquerda. No último dia 14, o La Izquierda Diario, ligado ao Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) da Argentina, publicou um artigo afirmando suas posições em nome do trotskismo.

O artigo resume a trajetória política da Síria, desde a posse de Bashar al Assad, passando pela primavera árabe, a guerra civil e caracterizando os últimos acontecimentos que precederam a queda do regime.

Segundo o artigo: “Assad, da minoria alauita, fez uma guinada neoliberal enquanto mantinha com mão de ferro um estado baseado na opressão de outros grupos religiosos e nacionais”. “O regime era totalmente reacionário e repressivo, com milhares de pessoas presas, torturadas e mortas em prisões como Saydnaya, conhecida como o ‘matadouro humano’. É por isso que milhares de sírios, dentro e fora de suas fronteiras, comemoraram a fuga de Assad e a abertura das prisões.”

Não há na publicação uma caracterização real do governo de Assad, tendo como base a natureza de governos nacionalistas em países atrasados. Parece que toda a repressão que pode ter ocorrido em seu governo se deve a uma espécie de vontade pessoal pela repressão. Quanto à questão das prisões, desde a queda do regime sírio, muitas notícias de caráter totalmente duvidoso vêm sendo veiculadas, com números exagerados de prisões, castigos e torturas, tornando muito difícil ter certeza do que realmente acontecia.

Os regimes nacionalistas, de maneira geral, são muito fracos politicamente. Eles possuem uma base popular, mas, ao mesmo tempo, temem que esta base se torne uma força revolucionária, sendo necessário reprimi-la quando adquire tal característica. Além disso, são regimes que procuram se equilibrar nas forças imperialistas que agem sobre eles. Como não têm força para combater o imperialismo, acabam, em algum momento, fazendo concessões.

Com Assad não era diferente. Ele se equilibrava nas forças que agiam sobre seu governo, como a Rússia, o Irã e até mesmo o próprio imperialismo liderado pelos norte-americanos. Não há como caracterizar o regime como totalmente reacionário.

Quanto à primavera árabe e à guerra civil que seguiu, o artigo considera, de maneira vaga, a ação do imperialismo nesse processo, mas acaba colocando Assad como o principal causador do problema devido à repressão.

Por fim, o artigo trata de caracterizar sua própria posição: “Diante da intensificação do choque de potências e do aumento das crises, a grande maioria da esquerda no cenário internacional tende a assumir posições ‘campistas’, subordinadas a diferentes setores capitalistas e imperialistas”. “Da mesma forma, alguns hoje apresentam a queda de al Assad nas mãos de milícias jihadistas e pró-turcas, com a bênção dos EUA e de Israel, como o resultado de uma ‘revolução democrática triunfante’. Como se pudesse haver alguma emancipação para as massas sírias com a ajuda do imperialismo e das milícias militares reacionárias.” Até então, a posição parece acertada.

Porém, acabam caindo em erros frequentes da esquerda pequeno-burguesa quando se trata da resistência no Oriente Médio: “Por outro lado, setores da esquerda populista ou neo-stalinista lamentam a queda da ditadura de Assad. Eles o apresentam, junto com o restante do ‘Eixo da Resistência’ liderado pelo regime reacionário iraniano, como uma alternativa progressista e anti-imperialista. Outro argumento é que os inimigos do nosso inimigo devem ser nossos aliados, porque desafiam a ‘hegemonia ocidental’. Isso ignora completamente o caráter de classe desses poderes.”

Sempre há, por parte desses grupos, a necessidade de caracterizar o regime iraniano como reacionário apenas pela questão religiosa, ignorando completamente o enfrentamento do regime contra o imperialismo. Sem o Irã, a própria resistência palestina e libanesa estaria muito enfraquecida e jamais poderia ter alcançado as vitórias que conquistou.

“Lutamos contra o enclave sionista do Estado de Israel e pela expulsão do imperialismo do Oriente Médio. Mas fazemos isso sem depositar o menor apoio político nas burguesias da região, nem nos regimes reacionários aliados ao Irã.” Declarou também o grupo, mas sem explicar como isso seria feito, ou qual seria a possibilidade de apoiar a resistência ignorando o Irã.

“Propomos a necessidade de continuar a desenvolver o movimento de solidariedade e a luta pelo fim do genocídio na Palestina, pelo desmantelamento do Estado de Israel e por uma Palestina operária e socialista, onde os povos de todas as etnias possam viver juntos em paz e fraternalmente.” Outro problema é a questão da Palestina operária e socialista, algo que não está colocado na atualidade. Trata-se de um povo massacrado que tem, em sua resistência armada, uma maioria de grupos religiosos.

A posição desse grupo, que se reivindica trotskista, erra em desconsiderar a realidade dos acontecimentos e por não avaliar corretamente a ação imperialista durante todo o regime Assad. A Palestina socialista que reivindicam ainda só existe dentro da imaginação da esquerda pequeno-burguesa. Toda a resistência deve ser apoiada, independentemente da orientação ideológica que possui, uma vez que trava um combate contra o imperialismo.

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