Previous slide
Next slide

HISTÓRIA DA PALESTINA

Os intelectuais palestinos e a Revolução de 1936

A luta contra o sionismo criou um fenômeno especial na Palestina, toda a população tem uma forte tendência a luta contra o imperialismo, até os intelectuais 

A Revolução de 1936 é um dos eventos mais importantes da história da Palestina. Os britânicos por muito pouco não foram derrotados na colônia, foram necessários 3 anos de repressão brutal, tanto dos ingleses quanto dos sionistas, para acabar com os palestinos. De certa forma, foi essa revolução derrota que permitiu a criação de “Israel”. Ghassan Kanafani um importante militante palestino, assassinado pelo Mossad, escreveu sobre a revolução, sua análise dos intelectuais é o foco deste artigo.

Ele descreve a situação da educação: “em 1930, após treze anos de ocupação britânica da Palestina, o Diretor de Educação admitiu em seu relatório que: ‘Desde o início da ocupação, o governo nunca se comprometeu a fornecer fundos suficientes para a construção de uma única escola no país’. Em 1935, o governo rejeitou 41% das inscrições de árabes palestinos para vagas nas escolas. Nos 800 vilarejos da Palestina, havia apenas quinze escolas para meninas e 269 para meninos, e apenas quinze meninas de vilarejos chegaram até o sétimo grau do ensino básico”.

O que resultou que “em 1931, entre os muçulmanos palestinos, 251 por mil homens e 33 por mil mulheres haviam frequentado a escola; entre os cristãos palestinos, eram 715 por mil homens e 441 por mil mulheres (para os judeus, os números eram 943 por mil homens e 787 por mil mulheres)”.

Mas isso não sinficava que não houvesse um avanço da cultura palestina. Kanafani destaca que: “o desenvolvimento de uma certa ‘cultura popular’ foi muito significativo. Representava uma conscientização que existia nas áreas rurais, apesar do analfabetismo generalizado, uma conscientização estimulada pela rápida evolução da realidade econômica e política. A poesia popular, em particular, refletia a crescente preocupação das massas rurais com o curso dos acontecimentos. Essa conscientização espontânea levou a um espírito de mobilização nos vilarejos”.

Isso é interessante, pois mostra como a luta de classes, a luta dos camponeses palestinos contra os colonizadores britânicos e sionistas gerava um avanço geral, até mesmo na cultura, na sociedade rural. A maior expressão disso foi a própria Revolução de 1936, que se tornou uma guerra de guerrilhas no campo em conjunto a um movimento operário nas principais cidades do país.

Ele então descreve que eram os intelectuais urbanos. Eles em sua maioria pertenciam “a uma classe feudal ou pequeno-burguesa comercial. Embora defendessem basicamente um tipo de revolução burguesa, as condições objetivas de forma alguma eram favoráveis ao desenvolvimento da classe que logicamente lideraria tal luta. Como ativistas políticos, permaneceram sob o controle da liderança tradicional. No entanto, seu trabalho refletia um grau de consciência que, em geral, não era compartilhado por seus colegas de outros países árabes”.

Mesmo não rompendo com a liderança tradicional, Kanafani destaca que: “não conhecemos um único escritor ou intelectual palestino nesse período que não tenha participado da chamada resistência contra o inimigo colonial. Não há dúvida de que os intelectuais, embora não estivessem, em geral, mobilizados por um partido revolucionário, desempenharam um papel importante na luta nacional”.

Isso mostra como a situação de fato era de uma revolução. Quando toda a sociedade, desde os camponeses analfabetos, até os intelectuais ligados aos antigos nobres, se volta para a libertação nacional, o que existe é um movimento de libertação nacional.

Ele destaca alguns exemplos: “Uadi al-Bustani, um poeta de origem libanesa que se formou na Universidade Americana de Beirute e se estabeleceu na Palestina, desempenhou um papel importante como intelectual progressista. Ele foi o primeiro a alertar contra a Declaração de Balfour e seus desafios, no mesmo mês em que foi emitida”. Esta é a declaração do governo inglês ao banqueiro Rothschild escrita em 1917 que é basicamente o documento de nascimento do projeto sionista como um plano do imperialismo. O sionismo, depois da invasão da Palestina pelos britânicos neste ano, se tornou o que é até o hoje o projeto de colonização imperialista da palestina por europeus de origem judaica.

Kanafani destaca outro momento: “em 1920, Al-Bustani liderou uma manifestação, na qual se cantou uma canção composta por ele mesmo. Ele foi convocado para um inquérito, e o seguinte aparece nos registros do inquérito conduzido pelo Promotor Público – Promotor Público: Declarações foram feitas de que você foi carregado nos ombros, e que você disse às pessoas que o seguiam: ‘Oh cristãos, oh muçulmanos’.’ O Acusado: Sim. Promotor Público: E você também disse: ‘A quem vocês deixaram o país?’ O Acusado: Sim. Promotor Público: Então você disse: ‘Matem os judeus e os descrentes’. O Acusado: Não. Isso violaria a métrica e a rima. Eu não poderia ter dito isso. O que eu disse foi rimado e métrico. É chamado poesia”.

A resposta mostra como o clima de luta contra o sionismo gerava uma enorme tendência a esquerda nos intelectuais. Isso aconteceu na conjnutura da grande revolta árabe, no final de Primeira Guerra Mundial. Mas em 1936 a situação era ainda mais revolucionária na Palestina.

Kanafani ainda destaca que, nas vesperars da revolução “os jovens intelectuais, filhos das famílias rurais ricas, desempenharam um papel proeminente em incitar o povo à revolta. Eles haviam retornado de suas universidades para uma sociedade na qual rejeitavam a fórmula das antigas relações, que haviam se tornado obsoletas, e na qual também eram rejeitados pelas novas fórmulas que começaram a tomar forma no âmbito da aliança sionista-colonialista”.

Durante a Revolução não houve nenhum partido para liderar a luta revolucionária. A pequena burguesia urbana palestina não assumiu esse papel, os senhores deterra muito menos, o Partido Comunista, sob controle do stalinismo tão pouco. A revolução foi derrotada, como tantas outras, por uma falta de direção.

Os intelectuais palestinos, no entanto, sempre foram importantes revolucionários. Uma segunda onda foi a linha de frente da luta armada nos anos de 1960 e 1970, com o Fatá e a FPLP. Mas essa luta era travada em grande parte de fora para dentro da Palestina. Foi com o Hamas que isso mudou. Os jovens estudantes nos anos de 1980 se tornaram a linha de frente da luta contra o sionismo organizados e um partido nacionalista revolucionário.

O imperialismo criou “Israel” a capital da contra revolução no Oriente Médio e no mundo. A Palestina assim se tornou a capital da revolução mundial. Os intelectuais, obviamente, são influênciados por essa realidade.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.