A limpeza étnica que os sionistas começaram a pôr em prática em grande escala a partir de 1947, resultando na expulsão de quase 1 milhão de palestinos no ano de 1948 e na fundação de “Israel” não foi constituída apenas de assassinatos e roubo de propriedades.
Em meio aos massacres, houve também inúmeros casos de estupros cometidos pelas tropas dos batalhões das tropas sionistas. Muito embora os relatos e a documentação a respeito da violação cometida contra as mulheres palestinas sejam escassas, o que existe é suficiente para expor a monstruosidade do sionismo.
Segundo o historiador judeu israelense Ilan Pappe, em sua obra A Limpeza Étnica da Palestina, há três fontes históricas que constituem as provas de que os estupros foram cometidos. A primeira fonte seriam os relatos de casos individuais coletados e fornecidos por organizações internacionais tais como a Organização das Nações Unidas e a Cruz Vermelha. Pappe critica o fato de não haver um relatório coletivo, servindo também para demonstrar o caráter imperialista dessas organizações. Apesar disto, esses documentos individuais servem como fonte.
Como exemplo, Pappe cita o relato de um funcionário da Cruz Vermelha, chamado de Meuron, segundo o qual soldados judeus estupraram uma garota e assassinaram o irmão dela logo após a tomada da cidade de Jaffa. Esse funcionário ainda relata que, como regra, “enquanto homens eram feitos prisioneiros, suas mulheres eram deixadas à mercê dos soldados israelenses”. Cita ainda relatório em que um oficial israelense de nome Yitzhak Chizik chegou a enviar ao próprio Davi Ben Gurion o seguinte relato “’um grupo de soldados [havia] invadido uma casa, matado o pai, ferido a mãe e estuprado a filha”.
Mas este não foi o único caso relatado pela Cruz Vermelha que consta do livro de Pappe. Em outro ocorrido, dois soldados judeus invadiram a casa de al-Hajj Suleiman Daud, em 9 de dezembro de 1948, e sequestraram sua filha de dezoito anos de idade. Ela ficou desaparecida por dezessete dias. Os estupradores de sua filha pertenciam à Brigada Sete. Sobre este batalhão específico, Pappe diz, na página 158 de seu livro: “Foi a Brigada Sete que supervisionou a execução da Operação Palmeira, com forças auxiliares vindas das brigadas Carmeli e Golani. Em muitas das histórias orais palestinas que chegaram agora ao conhecimento, portanto, poucos nomes de brigadas aparecem. No entanto, a Brigada Sete é mencionada repetidas vezes, juntamente com adjetivos como ‘terroristas’ e ‘bárbaros’”.
Outra fonte sobre os estupros que foram cometidos durante a Nakba são os próprios arquivos israelense. Destaque para os diários de Davi Ben Gurion, quem parecia ser informado de todos os casos de violência sexual.
Segundo Pappe, no diário do líder sionista, em vários dias encontram-se subseções intituladas “Casos de Estupro”, um deles constando a seguinte anotação: “um caso no Acre onde soldados queriam estuprar uma garota. Eles mataram o pai e feriram a mãe, e os policiais os cobriram. Pelo menos um soldado violou a menina.”.
O historiador ainda menciona o Batalhão 3, o mesmo que esteve à frente dos massacres de Sa’sa e Al-Khisas. Segundo Pappe, o comandante desse batalhão e suas tropas foram responsáveis por inúmeros estupros quando da invasão e ocupação da cidade de Jaffa, especialmente nos dias que antecederam o fim da primeira trégua, em 8 de julho.
Por fim, a terceira fonte histórica sobre os casos de estupros é o relato das vítimas. Esta fonte é particularmente mais escassa, dada o trauma e a humilhação sofridos pelas mulheres palestinas, tanto em razão da violência do estupro em si, quanto de ter que reviver essa história de terror nas mãos dos sionistas.
Nesse sentido, deve-se trabalhar tanto com relatos das vítimas, quanto dos criminosos sionistas, que saíram impunes e eventualmente fizeram uma mea culpa fajuta. Nesse sentido, vale citar a matéria publicada pelo jornal sionista Haaretz, de 2003, contendo um relato de algo horripilante que vinte e dois soldados sionista cometeram contra uma garota palestina, em 1949:
“Em 12 de agosto de 1949, um pelotão de soldados no Negev, baseado no Kibutz Nirim não muito longe de Beit Hanun no extremo norte da atual Faixa de Gaza capturou uma menina palestina de 12 anos e a trancou durante a noite em sua base militar perto do kibutz. Nos dias seguintes ela se tornou a escrava sexual do pelotão enquanto os soldados lhe rapavam a cabeça, a violavam em grupo e no final a assassinou.” (Pappe, Ilan. A Limpeza Étnica da Palestina, 2006, pág. 210)
Se houve julgamento? Sim. Contudo, a única pena foi prisão de dois anos para o soldado que assassinou a garota (Pappe, ob. cit.).
Além desse caso, vale citar o depoimento de Najiah Ayyub sobre como as tropas sionistas agiam sistematicamente em Tantura, tentando violar sexualmente as mulheres palestinas:
“Eu vi que as tropas que nos cercavam tentaram tocar nas mulheres, mas foram rejeitadas por elas. Quando viram que as mulheres não se renderiam, pararam. Quando estávamos na praia, eles pegaram duas mulheres e tentaram despi-las, alegando que eles tiveram que revistar os corpos”. (Pappe, Ilan. A Limpeza Étnica da Palestina, 2006, pág. 211)
Estupros também foram perpetrados durante os grandes massacres, como os de Deir Yassin, de 9 de abril de 1948, um dos mais notórios durante a Nakba:
“Ao invadirem a aldeia, os soldados judeus pulverizaram as casas com tiros de metralhadora, matando muitos dos habitantes. Os restantes vilões lagers foram então reunidos em um só lugar e assassinados a sangue frio, seus corpos foram abusados enquanto várias mulheres foram estupradas e depois mortas“. (Pappe, Ilan. A Limpeza Étnica da Palestina, 2006, pág. 107)
O mesmo se deu com massacre realizado contra a aldeia de Safsaf:
“Sobreviventes relembram como quatro mulheres e uma menina foram estupradas na frente dos outros aldeões e como uma mulher grávida foi golpeada com baioneta”. (Pappe, Ilan. A Limpeza Étnica da Palestina, 2006, pág. 215)
É impossível contabilizar todos os casos de estupros cometidos pelos sionistas. Certamente os que foram listados acima não foram os únicos. De qualquer forma, serve para derrubar o mito de que os sionistas eram vítimas inocentes que estavam tentando lutar contra um novo holocausto dos judeus. O sionismo é, na realidade, uma forma de fascismo, tão atroz quanto no nazismo.





