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Arthur Cesconetto

Dirigente nacional do Partido da Causa Operária e da Aliança da Juventude Revolucionária. Responsável pela organização dos comitês de juventude em Santa Catarina e estudante da Universidade Federal de Santa Catarina.

Coluna

Os estaduais são a base do futebol nacional

O debate está na realidade invertido, os estaduais não devem acabar, mas sim, para o bem do futebol brasileiro, precisam ser fortalecidos

O início dos campeonatos estaduais neste mês de janeiro em todo o Brasil reascendeu a polêmica sobre esta competição no calendário do futebol brasileiro. Cronistas da imprensa esportiva relembraram a todos sobre a suposta necessidade de se acabar com este que é a mais tradicional competição do futebol nacional. A “luta” contra os estaduais não é nova, mas se acentuou com a introdução dos pontos corridos, do campeonato brasileiro aos moldes do campeonato inglês. Em uma política de copiar o que é feito na Europa, em especial na Inglaterra, o novo brasileirão foi formado para ser a competição de 20 clubes nacionais, com quatro divisões inferiores e reduzindo cada vez mais o espaço das competições regionais. No entanto, o país do qual este campeonato é copiado, a Inglaterra, possuí o tamanho de um estado brasileiro. No país europeu, cidades como Londres sustentam em geral 6 clubes apenas na primeira divisão do futebol inglês, isso sem falar de outras grandes cidades do entorno. Na prática, o campeonato brasileiro equivale para os clubes nacionais, a mesma envergadura que uma competição como a UEFA, que reúne clubes dos quatro cantos da Europa. Para sustentar uma competição deste tipo em um território continental como o do Brasil, é necessário acima de tudo ter dinheiro. Longas viagens, pouco tempo de preparação, apenas os clubes que mais possuem condições financeiras para tal conseguem sobreviver de maneira estável neste tipo de competição. As divisões inferiores, quanto mais baixas, mais irregulares são e se tornaram graças ao problema financeiro – não há cota de televisão, há pouco investimento, etc.- uma espécie de limbo para os clubes brasileiros: é fácil entrar, difícil é sair. Sem uma base de sustentação real no campeonato nacional, resta a grande maioria dos clubes brasileiros a dependência de uma competição como os estaduais para sobreviver. Os estaduais representam hoje cerca de um terço do calendário anual de um clube profissional, no entanto é com esta porcentagem que grande parte do futebol brasileiro sobrevive. Sobretudo nos estados mais desenvolvidos, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde o futebol brasileiro encontrou seu ápice nos anos 50 e 60, foi a existência de diversos clubes tradicionais em torno de uma forte competição regional que pode desenvolver o futebol nacional. Tradicionais times como Bangu, Portuguesa, entre outros, que revelaram ao futebol nacional grandes elencos estão hoje vivendo o pior momento em suas histórias. Um estado como estes é capaz de desenvolver inúmeros times de alta qualidade, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro são capazes de sustentar diversas equipes de futebol de grande envergadura, no entanto, isso passa, dentro de outros problemas, da valorização dos campeonatos regionais. O esquema organizado em grande medida pela televisão, em especial a Rede Globo, é um filtro do futebol nacional. Dentre diversos clubes de anos de tradição, apenas as grandes equipes, ou no mínimo aquelas que possuem por de trás um forte esquema empresarial são capazes de ter algum desenvolvimento. O debate está na realidade invertido, os estaduais não devem acabar, mas sim, para o bem do futebol brasileiro, precisam ser fortalecidos. O futebol brasileiro perde o seu potencial ao importar o modelo europeu, que nada tem a ver com o esporte nacional. *Publicado originalmente em 26 de janeiro de 2023

*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a do Diário Causa Operária

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