No artigo Uma ponte com Israel, publicado pelo jornal O Globo, o sionista Claudio Lottenberg, fingindo ser uma pessoa civilizada, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), oferece conselhos aos palestinos para que o seu sofrimento acabe. É um cinismo inacreditável, que bem pode ser comparado à conversa fiada de banqueiro preocupado com os pobres.
O texto já começa com um chavão barato. Diz ele: “ser a favor de Israel não é ser contra os palestinos, e vice-versa”. O conflito entre israelenses e palestinos seria, portanto, algo artificial. Uma rivalidade que, sabe-se lá por que, existe.
Em primeiro lugar, “Israel” não é nada senão a expressão material de um processo de limpeza étnica do povo palestino. É um Estado fundado a partir da premissa de “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Isto é, de que os sionistas poderiam se estabelecer livremente no território palestino, ignorando por completo a população ali existente.
Não é que ser “a favor de Israel” seja ser “contra os palestinos”. Ser a favor de “Israel” é ser a favor do extermínio do povo palestino. Afinal, não há como existir “Israel” sem haver uma política genocida contra o povo que ali vive. E contra os povos vizinhos que, historicamente, sempre apoiaram os seus irmãos árabes oprimidos por “Israel”.
Sendo assim, não é possível também ser “a favor dos palestinos” sem ser a favor da destruição de “Israel”. Ainda que alguém sinceramente acredite que seja possível uma conivência harmoniosa, o fato é que, enquanto “Israel” existir, os palestinos não terão paz.
Lottenberg está muito longe de ser um humanista inocente que quer a harmonia dos povos no Oriente Médio. Ao mentir de maneira sórdida, põe às claras que seu único interesse é defender os crimes da entidade sionista. Diz ele:
“Somos guiados pela certeza de um futuro luminoso, e não pelo presente sombrio, marcado pelos ataques do Hamas, do Hezbollah e pela recente agressão iraniana, que lançou centenas de drones e de mísseis em direção a Israel.”
O Estado nazista de “Israel” assassinou mais de 35 mil palestinos, dos quais mais de 15 mil eram crianças. A entidade sionista mantém mais de 12 mil árabes presos em condições desumanas. No entanto, para o autor, o “presente sombrio” seria marcado pelas ações do Hamas, do Hesbolá e do Irã.
O que prova de maneira incontestável a má-fé do autor é a menção ao Irã. Ao falar em “agressão iraniana”, Lottenberg ignora, propositalmente, que o ataque do Irã foi simplesmente uma reação. Uma reação a uma agressão israelense.
Lottenberg é, ele próprio, a prova de que não é possível “ser a favor” de “Israel” e dos palestinos ao mesmo tempo. Para defender “Israel”, o autor, além de mentir descaradamente, calunia as organizações que melhor representam os povos oprimidos na região. Ao caluniar o Hamas, Lottenberg se opõe a todo o povo palestino, que tem no partido islâmico a sua representação mais fiel. O mesmo podemos dizer da população libanesa e do Hesbolá.
Nesse ponto, Lottenberg abre o jogo. Palestino tem que apanhar calado. Não pode resistir, não pode pegar em armas. É essa a sua condição para um “futuro luminoso”.
Depois de muita ladainha desse tipo, o autor chega à seguinte conclusão:
“A comoção causada pelas mortes e pelos dramas humanos é legítima e necessária, mas a análise do tema precisa contemplar também questões concretas.”
Em outras palavras: “morreram 15 mil crianças? F***-se!”. E daí que morreram 35 mil palestinos, não é mesmo? Pode ser triste, pode ser “comovente“, mas nada disso pode estar acima do tal direito dos “judeus” a constituírem um Estado em terra alheia! Não há como interpretar de outro modo: para a Conib, os palestinos são uma sub-raça, um povo inferior, cuja vida não tem valor algum.
Esse desprezo pela vida de todo um povo pode ser visto também na proposta de “acordo” que o autor oferece aos palestinos:
“As condições para que o conflito iniciado pelo Hamas termine são simples e justas: a libertação dos mais de cem reféns ainda aprisionados na Faixa de Gaza, o reconhecimento da existência do Estado de Israel e a condenação e punição dos terroristas e do terrorismo. Não é pedir demais. É o mínimo que se espera de um vizinho com quem se compartilham fronteiras.”
E os mais de 12 mil presos? E o reconhecimento do próprio Estado palestino? E o direito dos palestinos exilados a retornarem a sua terra? E a retirada das tropas sionistas?
Como pode se ver, nada disso importa porque, para os sionistas, os palestinos não devem ter direito a nada.
Ainda que a proposta revele uma mentalidade verdadeiramente genocida, ela também reflete o desespero do sionismo. Cada vez mais derrotado pelas forças de resistência, “Israel” vem aumentando a pressão em torno da libertação dos “reféns” na esperança de conseguir um acordo em que não fique tão desmoralizado.