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América Latina

Os ‘comunistas’ que ignoram a luta de classes na Venezuela

A esquerda latino americana que apoia o golpe na Venezuela não percebe que age cada vez mais como os gusanos de Miami, capital da contrarrevolução latino americana

Antes das eleições venezuelanas acontecerem, a campanha golpista contra Maduro se escancarou. Setores da esquerda já apresentavam sua política de apoio ao golpe de Estado. É o caso do jornal Lucha de Classes, ligado à Internacional Comunista Revolucionária, que publicou o artigo Eleições presidenciais na Venezuela: entre a morte por asfixia ou por decapitação. Ou seja, para eles, a oposição fascista e o governo chavista de Maduro são a equivalentes. É mais uma versão da tese do “fora todos” que foi usada de base para o golpe de Estado contra a presidenta Dilma.

Depois de uma extensa explicação de porque o governo Maduro seria terrível e neoliberal, o texto apresenta diz que:

“A nossa rejeição a todas as candidaturas para as eleições presidenciais de 28 de julho. Além das falsas promessas divulgadas, todas e cada uma delas representam os interesses do capital. Todas e cada uma delas estão prontas para continuar mutilando o que resta dos nossos direitos e conquistas. Todas e cada uma delas são partidárias da humilhação, da miséria e da exploração da maioria, para que os ricos continuem ficando cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.”

Aqui já aparece o grande erro do LC: igualar todos os candidatos. Edmundo Gonzalez é o candidato do imperialismo, da privatização das empresas de petróleo, da economia neoliberal, da destruição dos programas sociais, da repressão fascista. Maduro é um nacionalista, defende a estatização do petróleo e o uso dessa riqueza para criar programas sociais para a população e para o enriquecimento geral do país. Considerar que ambos são equivalentes é um absurdo completo.

O texto segue dizendo que:

“É inconcebível para nós ceder à pressão eleitoralista pela qual alguns companheiros venderam sua alma ao diabo, apoiando alguma das opções patronais e pró-imperialistas. Mas também não pretendemos nos envolver na mentira, no engano e na corrupção mais repugnante daqueles que hoje pedem uma nova oportunidade para continuar pisoteando o principal ativo que a Venezuela possui: homens, mulheres, jovens, idosos e crianças, cujo futuro foi comprometido pelos verdadeiros liquidadores da revolução bolivariana.”

O partido até poderia se posicionar sem declarar o voto em Maduro por algum motivo, mas considerar o presidente que está sofrendo uma tentativa de golpe dos EUA como pró-imperialista é absurdo. O caso do Lucha de Classes, na verdade, expressa muito bem o problema dessa política. Ela é a mais acabada defesa do “nem Maduro e nem EUA”. Quem defende isso desconsidera que não existe uma tentativa de golpe de Estado. Ao não considerar que ela não existe, não luta contra ela e, portanto, capitula diante do golpe. Nos piores casos, como do LC, critica Maduro enquanto ele está sendo atacado pelos EUA. Ou seja, faz uma frente única pelo golpe de Estado com o imperialismo.

O LC então afirma que Maduro persegue a esquerda:

“Embora os comunistas considerem a tática eleitoral uma possibilidade para difundir as ideias e o programa revolucionário, atualmente não há condições para trabalhar nessa direção. A verdadeira esquerda foi impedida de participar e qualquer possibilidade de apresentar uma alternativa real aos candidatos da velha burguesia, dos novos ricos e dos escorpiões foi removida.”

Aqui parece que Maduro é um ditador direitista que persegue os grupos de esquerda. Mas a única denúncia real é que um setor do PCV considera que Maduro interviu no partido. Mas esse é o mesmo setor que faz campanha de que Maduro deve ser derrubado. Fora isso, não há denúncia de repressão a grupos de esquerda. Diante da campanha golpista internacional contra Maduro, seria estranho que tanta repressão não aparecesse na imprensa burguesa. É mais uma denúncia falsa de ditadura.

Logo depois, a linguagem usada começa a ser abertamente da direita: “nas próximas eleições presidenciais, os trabalhadores têm tudo a perder e apenas um inferno a ganhar. Como podemos, nós revolucionários, responder à fraude eleitoral promovida pelos polos dominantes dos interesses do capital?” A acusação de fraude eleitoral, não coincidentemente, foi apresentada pela direita do mundo inteiro. Aqui seria preciso entender o que o LC quer dizer. A esquerda supostamente “revolucionária” teria mais votos que Maduro? Há algum candidato mais popular que Maduro no país? O que seria essa fraudE afinal? É só mais uma campanha de desmoralização de um governo que é feito em coro com a direita.

O jornal então afirma: “há grandes probabilidades de confronto entre os dois polos defensores do capitalismo. Com nossas forças limitadas, procuremos defender acima de tudo a verdade, que sem dúvida será a primeira vítima de toda a jornada. Enfrentemos toda mentira com a qual tentarão nos arrastar para uma luta que não é nossa”. Novamente, aparece o erro de não analisar a diferença real entre os dois blocos políticos. Quando o imperialismo ataca um país, muitas vezes o governo não é um governo operário. Há casos até de governo direitistas, como o do iraqiano Sadam Hussein. Mas é absurdo igualar Hussein a George Bush.

Para concluir, o artigo determina sua política:

“Nenhum apoio ao candidato dos novos ricos! Nenhum apoio ao candidato do imperialismo! Nenhum apoio aos demais candidatos patronais! Diante daqueles que propõem nos matar por asfixia ou por decapitação, os comunistas revolucionários escolhem lutar, se organizar e levantar as forças do povo trabalhador.”

O erro do LC se escancara. Não importa qual é o governo, se um país atrasado é atacado pelo imperialismo é preciso defende-lo. Não importa se é um general iraquiano, se é um neto de revolucionário coreano, se é um capitalista burquinense, se é um velho revolucionário nicaraguense, se é uma antiga guerrilheira brasileira, ou se é um condutor de ônibus venezuelano. Todos devem ser defendidos contra o imperialismo. Caso contrário, isso é um apoio velado ao imperialismo, ou seja, à opressão de toda a nação.

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