Pode parecer inacreditável, mas o portal Brasil 247, um apoiador confesso do governo Lula, amanheceu o dia dessa quinta-feira (12) com artigos pedindo para que o golpista, tucano e repressivo Geraldo Alckmin, um antigo inimigo da esquerda, dos estudantes e do movimento operário, assumisse a presidência da República, diante do estado de saúde debilitado do presidente Lula.
Essa posição está expressa no artigo A imperdoável descortesia do governo com Alckmin, de Hildegard Angel, e na matéria Não custaria nada Lula passar o bastão para Alckmin, de Alex Solnik. Como pode se ver, ambos os textos já são, a partir do próprio título, escandalosos.
Quem em sã consciência estaria preocupado com alguma “descortesia” com Geraldo Alckmin, o repressor dos protestos de 2013? Ora, só poderiam ser pessoas que não se preocuparam, em nenhum momento, com a “descortesia” do governo Lula para com o povo brasileiro ao anunciar o Plano Haddad, um ataque furioso contra a maioria das 60 milhões de pessoas que o elegeram.
É um escárnio. Em meio a uma crise enorme, resultado da polarização entre a esmagadora maioria da população, que vem comendo o pão que o diabo amassou, e os banqueiros sanguessugas, há quem se preocupe com alguma “descortesia” com quem jamais deveria fazer parte de um governo de esquerda.
Diz Angel:
“Afinal, quem dá as cartas na República Federativa do Brasil? Quem foi eleito na chapa presidencial? Por que estão sendo atropeladas as instituições? Essa maneira escandalosa de se aferroar ao Poder denota fragilidade, inspira insegurança, ausência de controle, tudo de que necessitam os golpistas de ocasião para também ignorar que o Vice-Presidente eleito existe, e nos impingirem, por exemplo, o Presidente da Câmara, segundo da fila, em plena saia justa do Parlamento com o STF.”
Convidamos o leitor a parar um pouco para a reflexão. Se quem está sendo “descortês” com Alckmin é o governo e se Lula, ainda que enfermo, é o chefe do governo, então a acusação de “atropelar as instituições” e de “se aferroar ao Poder” é dirigida contra Lula. Pode parecer surreal, mas o que a articulista sugere é que Lula está passando a perna em Alckmin!
Tudo fica ainda mais grotesco quando ela parte para os elogios ao tucano:
“Afinal, quem dá as cartas na República Federativa do Brasil? Quem foi eleito na chapa presidencial? Por que estão sendo atropeladas as instituições? Essa maneira escandalosa de se aferroar ao Poder denota fragilidade, inspira insegurança, ausência de controle, tudo de que necessitam os golpistas de ocasião para também ignorar que o Vice-Presidente eleito existe, e nos impingirem, por exemplo, o Presidente da Câmara, segundo da fila, em plena saia justa do Parlamento com o STF.”
Se Alckmin tem sido discreto, é simplesmente porque ainda não chegou a hora de a burguesia precisar dele para um golpe contra Lula e o povo brasileiro. Por acaso o mesmo não poderia ser dito de Michel Temer (MDB) alguns anos antes do golpe de 2016?!
O que aparece como uma preocupação de tipo moral por parte de Angel aparece com motivações mais claras no texto escatológico de Solnik. Diz ele:
“Não passa pela cabeça de ninguém que o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, repita a canalhice de Auro de Moura Andrade, mas o fato é que a cadeira do presidente da República está vazia. Não custaria nada Lula passar o bastão a Alckmin enquanto estiver impossibilitado de assumir por inteiro as funções de chefe de estado, para haver um presidente e ninguém se assanhar a ocupar o vazio de poder.”
Para Solnik, portanto, dar mais poderes ao golpista Alckmin seria importante para… impedir um golpe!
Ninguém pode levar isso a sério. Os textos de Solnik e Angel mostram algo profundamente preocupante: na medida que cresce a pressão contra Lula – inclusive, contra sua própria vida -, pessoas que se dizem apoiadoras suas, de tanto medo da extrema direita, estão dispostas a apoiar vigaristas como Alckmin.
Apoiarão um golpe sem nem perceber.