O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a defender a realização de novas eleições na Venezuela, país no qual o atual presidente, Nicolás Maduro, foi reeleito mesmo sob intensa pressão contrária vinda do imperialismo. Após a derrota de seus candidatos, o governo norte-americano mantém uma forte campanha de sabotagem contra a república bolivariana, incluindo uma tentativa de isolar o país sul-americano, pressionando o Brasil para isso. Segundo a coluna Painel, editada pelo jornalista Fábio Zanini, do jornal burguês Folha de São Paulo:
“Em reunião de cerca de três horas com líderes partidários nesta segunda-feira (26), o presidente Lula (PT) voltou a sinalizar um distanciamento em relação ao regime de Nicolás Maduro e afirmou que, se estivesse no lugar do ditador venezuelano [grifo nosso], convocaria nova votação para dissipar as dúvidas sobre o processo eleitoral.”
O termo “ditador” é usado pelo jornal para atacar líderes nacionalistas opositores da ditadura mundial, como o presidente Maduro, mas não se aplica a governantes apoiados pelo imperialismo, como Daniel Noboa do Equador, Nayib Bukele de El Salvador e Javier Milei da Argentina, Vladimir Zelensky na Ucrânia e Benjamin Netanyahu em “Israel”, entre outros regimes verdadeiramente fascistas. O fato de ser usado, no entanto, contra Maduro mostra que tipo de classe social está interessada na derrubada do líder venezuelano, dando também a dimensão da capitulação de Lula.
Segundo a coluna assinada por Zanini, “Lula criticou ainda o ditador [grifo nosso] da Nicarágua, Daniel Ortega”, porém o teor da fala não é apresenta. “No início do mês”, lembra o colunista da Folha, “ele decidiu expulsar do país o embaixador do Brasil em Manágua, Breno de Souza da Costa”, ao que a coluna conclui destacando que “a medida foi considerada uma retaliação ao congelamento das relações bilaterais após Lula tentar interceder pela liberação de um bispo católico perseguido pelo regime”.
O líder sandinista, por sua vez, reagiu às capitulações do mandatário brasileiro, caracterizando-as como “vergonhosas”:
“Eles [o Brasil] são uma potência e nós somos um país pequenino. Não temos a potência do Brasil, nem a economia do Brasil, mas temos algo que vale mais do que tudo isso: dignidade e defesa de nossa soberania. A forma como Lula tem se comportado ante à vitória do presidente legítimo da Venezuela é vergonhosa”.
A fala de Ortega ocorreu durante a XI Cúpula Extraordinária de Líderes da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), encerrada na última segunda-feira (26). Ocorrida de forma virtual, contou com a participação dos presidentes de Miguel Díaz-Canel (Cuba), Luis Arce (Bolívia), além Maduro e Ortega, e também dos primeiros-ministros Ralph Gonsalves (São Vicente e Granadinas), Dickon Mitchell (Granada), Roosevelt Skerrit (Dominica), Terrance Drew (São Cristóvão e Nevis) e Philip J. Pierre (Santa Lúcia).
O presidente nicaraguense disse entender os problemas que Lula atravessa, uma vez que sua chancelaria “está cheia de direitistas neoliberais”, mas lembrou que rompeu relações com o Brasil logo após o país se oferecer como intermediário em um contato com o Papa Francisco. “Não precisamos de intermediário”, declarou o líder sandinista, acrescentando ainda que o presidente brasileiro “também está se rebaixando”. “Lula, se você quiser que o povo bolivariano o respeite, respeita a vitória do presidente Nicolás Maduro, e não fique ali, como um rebaixado”, concluiu.
Embora aliado dos governos nacionalistas da América Latina, o presidente Lula vem cedendo às chantagens do imperialismo e com isso, contribuindo para a manutenção da crise no país vizinho. Em 16 de agosto, durante entrevista à Rádio Gaúcha, deu uma declaração extremamente infeliz, dizendo que “a Venezuela vive um regime muito desagradável”, e que embora não “seja uma ditadura”, seria “um governo com viés autoritário”.
Lula, ao adotar uma postura vacilante em relação à Venezuela e à Nicarágua, cede à pressão dos elementos direitistas presentes dentro do seu governo. A crítica de Daniel Ortega, ao apontar que Lula está “se rebaixando”, acerta em seu diagnóstico, mas erra na profundidade, uma vez que o problema vai além da chancelaria brasileira.
Em todo o governo, a aliança com a direita “civilizada” contra o bolsonarismo está amarrando as mãos do presidente, forçando-o a seguir uma política que sabidamente não reflete o seu histórico. A hesitação de Lula em apoiar incondicionalmente seus aliados na América Latina, como Maduro e Ortega, evidencia essa contradição interna. Ele não consegue avançar em direção à direita, como deseja o imperialismo, nem se posicionar firmemente à esquerda para defender seus aliados na luta contra esse inimigo fundamental dos povos oprimidos do subcontinente.
Essa política dúbia adotada por Lula é extremamente perigosa. Ao abandonar seus companheiros, como Maduro, à própria sorte, ele não apenas demonstra fraqueza, mas também abre espaço para que os mesmos intentos golpistas que ameaçam a Venezuela se reproduzam no Brasil.
A história recente já mostrou que o imperialismo não hesita em agir para derrubar governos que não se alinham com seus interesses, como ficou evidente com o golpe contra Dilma Rousseff, a prisão de Lula e a eleição de Bolsonaro. Quando a hora chegar, e ela inevitavelmente chegará, não serão os acordos palacianos que protegerão Lula e o Brasil das investidas do imperialismo.
A única resposta eficaz será a luta contra a opressão estrangeira e seus agentes internos, especialmente a direita “civilizada” que hoje exerce uma influência perigosa sobre o governo. Ortega, ao ser chamado de “ditador”, recebeu um reconhecimento implícito de sua resistência contra a dominação estrangeira. Lula, se quiser cumprir seus objetivos políticos, promover o desenvolvimento e trazer soberania ao Brasil contra as potências imperialistas, deverá livrar-se dos falsos aliados, reconhecer de uma vez por todas a vitória de Maduro e apoiar os companheiros representantes do nacionalismo latino-americano.