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Brasil

Uma ‘ofensiva dos trabalhadores’ a reboque do imperialismo?

Setores da esquerda pequeno-burguesa criticam o Plano Haddad, mas não demonstram nenhum problema em defender a política dos banqueiros na disputa contra o bolsonarismo

O Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) publicou no sítio Em Defesa do Comunismo uma nota oficial, datada do último dia 6 e intitulada Contra o golpismo bolsonarista e o ajuste fiscal de Lula: construir a ofensiva dos trabalhadores contra a anistia e a escala 6×1, fazendo uma confusão absurda, misturando (como indica o título) a disputa no interior da direita entre o bolsonarismo e o imperialismo, a pressão imperialista contra o governo Lula na forma do Plano Haddad que prevê cortes nas despesas sociais e teto aos salários. Tudo isso somado ao movimento privado que visa flexibilizar a jornada de trabalho, o movimento de propriedade do vereador carioca “Rick” Azevedo (PSOL), responsável pela insólita tática de patentear um movimento, por sinal, oriundo de ONGs dos EUA. Eis o que diz a nota política do partido publicada no órgão:

“Na próxima terça-feira, dia 10/12, ocorrerão em todo o país manifestações exigindo a prisão de Bolsonaro e dos demais agentes golpistas indiciados recentemente pela Polícia Federal. Os protestos emergem em um momento de acirramento das lutas políticas nacionais, marcado em especial por três episódios: o fortalecimento da luta pela redução da jornada de trabalho e pelo fim da escala 6×1; a revelação de novos detalhes sobre as tramas golpistas militares dos aliados de Bolsonaro; e, mais recentemente, o anúncio por parte do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de um novo arrocho fiscal promovido pelo governo Lula, cortando verbas de políticas sociais e tentando limitar a 2,5%, no máximo, o crescimento anual do salário mínimo.”

A adesão ao movimento privado VAT, a denúncia das supostas “tramas golpistas” bolsonaristas e a equiparação desses fenômenos ao ataque direto à classe trabalhadora representado pelo Plano Haddad é reveladora de qual a fonte da orientação política do PCBR. O movimento VAT, amplamente apoiado pela ONG norte-americana 4 Day Week Global – financiada por grandes monopólios do imperialismo, como o Google e a Ford – já é uma farsa.

Longe de defender a redução da jornada de trabalho, trata-se de um experimento voltado à sua flexibilização, promovendo aumento da exploração por meio de contratos mais precarizados e metas exaustivas. Ao abraçar de forma acrítica essa campanha, o PCBR não apenas evidencia falta de análise das verdadeiras intenções do movimento, mas também sua submissão ideológica ao imperialismo, que segue sendo o maior inimigo da classe trabalhadora global.

A ilusão de que um projeto fomentado por gigantes do capital poderia servir aos trabalhadores só demonstra como o partido se afasta dos interesses reais do proletariado em nome de pautas imperialistas disfarçadas de progresso. Ainda mais grave é o apoio do PCBR à ofensiva imperialista disfarçada de “defesa da democracia” contra o bolsonarismo.

Em outra demonstração de dependência política, o partido pequeno-burguês segue as instituições golpistas brasileiras – PF, Judiciário e os monopólios de imprensa – ignorando completamente o papel social destes, verdadeiros braços diretos do imperialismo, operando para disciplinar a extrema direita, em um pacto político que assegure os interesses da burguesia nacional e estrangeira, e que em nada interessa aos trabalhadores.

Ao apoiar tais forças, o PCBR se coloca como o “braço esquerdo” da ditadura mundial, contribuindo para uma campanha que visa legitimar os mesmos aparatos que servem à exploração capitalista e à repressão dos trabalhadores. Essa postura não apenas fortalece o controle imperialista sobre o Brasil, como também aliena a esquerda de sua função de liderança independente da classe trabalhadora, subordinando o campo às disputas entre setores da direita, que, no final das contas, convergem em seus ataques contra o povo. Consequentes em sua submissão ao imperialismo, o PCBR continua:

“Por tudo isso, no próximo dia 10, o PCBR irá às ruas não apenas para se somar à exigência pela condenação dos golpistas indiciados, mas para agitar a ideia de que apenas é possível um verdadeiro combate ao golpismo por meio da organização crescente da classe trabalhadora na luta pelos seus interesses. E esses interesses passam, hoje, sem sombra de dúvida, pela luta contra o arrocho lulista e contra a escala 6×1. Façamos do dia 10 mais um passo no sentido de um vultuoso movimento de massas da classe trabalhadora que, em 2025, avançará vigorosamente em direção à redução da jornada de trabalho e barrará todos ataques que se avolumam no horizonte.”

No parágrafo de conclusão, o PCBR escancara uma contradição insustentável: ao convocar as massas trabalhadoras a “exigir a condenação dos golpistas indiciados”, o partido não faz outra coisa senão direcionar sua agitação para que o imperialismo – por meio do Ministério Público, do Judiciário e da Polícia Federal – atue como executor de sua política. Nem o PCBR e nem os trabalhadores controlam as instituições que podem, concretamente, atender a “exigência pela condenação” dos bolsonaristas, e tampouco elas são neutras. São instrumentos por meio dos quais a classe dominante exerce sua ditadura contra os trabalhadores.

A menos que a revolução social tenha se operado no Brasil, o País esteja sob a ditadura do proletariado e só o PCBR tenha registrado o fenômeno, o chamado à ação dessas forças é uma capitulação aberta, pois, na prática, o partido transfere à burguesia imperialista a responsabilidade de combater o bolsonarismo, entregando às raposas a tarefa de guardar o galinheiro. Ao fazer isso, o PCBR renuncia à tarefa elementar de construir uma força política independente para os trabalhadores, ao mesmo tempo que legitima os maiores inimigos da classe.

É vergonhoso que um partido que ostenta o termo “comunista” em seu nome oriente suas bases a se submeterem justamente ao imperialismo. Esse posicionamento torna vazia qualquer crítica que o PCBR faça à política econômica de Fernando Haddad, que beneficia abertamente os banqueiros – o mesmo setor burguês ao qual o PCBR, na prática, dirige seu chamado por ação contra os bolsonaristas.

Essa contradição revela que o partido não apenas está desconectado das necessidades concretas da classe trabalhadora, mas que sua política alimenta a ilusão absurda de que o imperialismo pode ser um aliado na luta contra uma extrema direita que, na fantasia do PCBR, existe no vácuo, sem uma base social. A esquerda como um todo deve rejeitar veementemente esse tipo de orientação derrotista.

Mais do que nunca, é necessário que os trabalhadores lutem por uma independência total da burguesia, especialmente do imperialismo, o setor mais poderoso e parasitário do capital. Sem essa independência, qualquer avanço é ilusório, e o destino da classe trabalhadora será inevitavelmente o de servir aos interesses de seus opressores.

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