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Valéria Guerra

Jornalista (UMESP), historiadora, atriz com DRT-RJ, escritora, colunista do 247, PCO, e do meu site (https://guerraluz.prosaeverso.net/); mestre em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento e na Educação; professora do Estado do RJ na cadeira de biologia, poetisa e ativista contra a desigualdade no Brasil e no mundo.

Coluna

Oratória, poder, capital e miséria

O dinheiro é trocado por dinheiro. Dinheiro e poder são totens inalcançáveis pelos “miseráveis”.

O povo exerce um papel fundamental para incrementar o desenvolvimento social. Será que a maioria da população conhece as entranhas do poder? Ou o âmago das questões burocráticas e ideológicas que regem a estrutura sistemática da administração pública?

A filosofia e a sociologia são atrizes no palco da hermenêutica, ciência que deveria estar ao alcance dos olhos dos comunicados. A mensagem do conhecimento deveria chegar aos ouvidos de todos os atores sociais que integram o ecossistema conjuntural das sociedades.

A miséria da filosofia, e A Filosofia da miséria são livros que foram escritos por personagens históricos ligados ao socialismo, o primeiro foi escrito por Karl Marx & Engels, e o segundo, por Pierre-Joseph Proudhon, aparentemente o primeiro artigo/livro foi delineado com intenção de responder ao segundo, ou seja, Karl Marx reagiu aos posicionamentos do contemporâneo Proudhon, realizando assim sua liberdade de expressão.

Os títulos despertam a curiosidade do leitor, porém grande parte da população de nosso Brasil, nunca ouviu falar de filosofia, porém desfrutam de um estado de miséria endêmica.

Aqueles que chegam às universidades, seguindo suas fragmentadas carreiras, que são voltadas para um pragmatismo inveterado, não fazem do holismo seu bom companheiro. É uma pena que isso aconteça. Ler variados textos, como, por exemplo, a Bíblia Sagrada, e/ou O capital, é ter nas mãos, um manancial de riqueza; se o leitor puder os interpretar, é claro. O capital de Karl Marx e Engels, e a Bíblia Sagrada. São obras que necessitam da visão crítica e da hermenêutica para serem decifradas, ao nível de conhecimento e crença.

O povo não pode continuar a ter “enganadores” na pele de “salvadores da pátria”. Quantas pessoas sucumbiram diante de uma retórica bem-posta. O professor perdeu seu trono catedrático, para os (nem sempre) tão catedráticos youtubers, podcasters; que estão aí enchendo seus bolsos de dinheiro: trazendo informação e desinformação. Uma multifacetada esfera de assuntos, baila na atmosfera da web, soltas nas plataformas midiáticas. A beleza da oratória inebria os indivíduos, especialmente no campo político, onde eles bebem na fonte da polarização contemporânea.

Na era pós-moderna o capital não se acumula para todos. A plateia substituiu o povo, e tal visão advém da mente de um escritor brasileiro criativo: Lima Barreto. Hoje, há internautas desprovidos de capital econômico, cultural, educacional, cuja função é de apenas curtir, compartilhar, e ofertar os famosos likes para seus idolatrados retóricos do tipo “saiba mais”.

O dinheiro é trocado por dinheiro. Dinheiro e poder são totens inalcançáveis pelos “miseráveis”. Vi algo nas ruas da zona sul do Rio de janeiro, que me chocou sobremaneira: Uma mulher que trazia dois galões de água mineral vazios, vestida de forma simples, porém clean, cabelos penteados e cheirando a perfume, que me disse: – Estou morrendo de fome, meus filhos estão me aguardando, em casa famintos: – Pelo amor de Deus me pague uma refeição, para eu levar a casa, e dividir com eles, moro embaixo de uma ponte aqui perto…

Não esqueçamos que miséria significa

  1. estado de carência absoluta de meios de subsistência; indigência, penúria;
  2. estado de enorme sofrimento; infelicidade, desgraça;
  3. característica do que é sovina; avareza, mesquinharia.

Esta miséria acima narrada, não é de Proudhon, nem de Marx. Ela é o resultado efetivo da oratória miserável que convenceu a população avolumada na base piramidal, que ser pobre é uma questão de determinismo ou carma.

“Um pacote de corte de gastos” irá estourar em breve na cabeça de um povo que é levado a capitular diante dos podres poderes, há séculos. Será que Maria I, a Louca, mãe de D. João VI – ao autorizar a morte de Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), enforcado e esquartejado – deixou impresso no D.N.A da população, através das gerações, uma herança de medo e pavor de resistir diante da intensa e cruel exploração à la “derrama”?

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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